Medalhistas da vela viraram empresárias para poder competir
Fernanda e Isabel obtiveram bom patrocínio
Publicado no Estadão, em 20 Ago 2008

21 Ago 2008
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ernanda Oliveira e Isabel Swan conseguiram patrocínio antes mesmo de ter conquistado a medalha olímpica
Velejadoras Fernanda e Isabel lamentam a falta de divulgação do esporte no Brasil
Em um ambiente onde muitos atletas precisam bancar a campanha olímpica do próprio bolso, a dupla de vela da classe 470 Fernanda Oliveira e Isabel Swan é uma raridade. As duas brasileiras conseguiram arranjar patrocínio antes mesmo de ter conquistado a primeira medalha olímpica.

A dupla venceu a última regata da classe nos Jogos de Pequim nesta segunda-feira e conquistou a medalha de bronze - a primeira da história da vela feminina brasileira em uma Olimpíada. Além de todo o treinamento esportivo normal de uma equipe olímpica, a dupla usou a experiência em administração e marketing esportivo de Fernanda para montar o modelo de gestão que rendeu o bronze em Pequim.
Treinando juntas desde 2005, a dupla conta com o apoio de uma marca internacional de cosméticos para a realização do projeto olímpico, que incluiu treinos diários de seis horas e a assistência integral de um treinador, um psicólogo e uma personal trainer. Muitos atletas brasileiros ainda enfrentam dificuldades em encontrar patrocínio e acabam arcando com os custos do treinamento sozinhos.
Na vela mesmo, a dupla Rodrigo Duarte e André Fonseca, que compete na classe 49er, se financiou com o salário que Fonseca recebeu por participar da regata de volta ao mundo Volvo Ocean Race no barco Brasil 1 de Torben Grael. O apoio de patrocinadores só veio às vésperas dos jogos. "Infelizmente a vela é um esporte que ainda não tem muita divulgação no Brasil", diz Isabel Swan.

Campanha
A campanha da dupla foi planejada pela velejadora Fernanda Oliveira. Após participar da Olimpíada de Sidney/2000 e Atenas/2004, ela percebeu que era necessário se profissionalizar. "Eu já tinha feito outras campanhas e nas outras vezes foi a minha família que me ajudou", conta.

"Mas depois de Atenas eu sabia que ou eu continuava de uma maneira bem profissional e conseguia um patrocínio, ou realmente ficava difícil competir de igual para igual, porque realmente é um nível muito profissional", diz.

Aproveitando as lições que aprendeu na faculdade de administração, onde se formou com um trabalho de conclusão sobre captação de recursos para marketing esportivo, montou sozinha todo o projeto olímpico e foi bater na porta dos patrocinadores.

"Fui apresentada para o presidente da Nivea e em três meses de negociação eu consegui levantar esse patrocínio", relembra ela.

Após fechar o acordo em 2005, a velejadora partiu para a montagem da equipe e chamou Isabel Swan. "Eu precisava de uma pessoa com disponibilidade total e a Bel foi super dedicada desde o início, ela se propôs a mudar para ir treinar em Porto Alegre", explica.

Original de Niterói, no Rio de Janeiro, Isabel é ex-modelo e teve de ir morar no sul para participar da campanha. "Ela me chamou pela minha postura, pela minha vontade, e eu fui com 21 anos morar sozinha em Porto Alegre", conta.

A dupla não revela em valores quanto recebe dos patrocinadores, mas o apoio permitiu que elas treinassem por três anos nas águas do Rio Guaíba, na capital gaúcha, antes de chegar a Qingdao, costa leste da China onde estão sendo disputadas as provas olímpicas.

O apoio da confederação de vela também foi decisivo pois as passagens aéreas, hospedagens, alimentação e traslados de todas as competições internacionais são bancados pela organização.

Beleza
Além de serem competentes atletas, Fernanda e Isabel também são bonitas e simpáticas. A dupla porém discorda entre si sobre a importância que esses atributos têm na hora de conseguir patrocínio, mesmo em se tratando de uma empresa de produtos de beleza.

Fernanda não acredita que a beleza tenha ajudado a dupla. "Eu não vejo isso muito. Os resultados começaram a aparecer e o Comitê Olímpico e a Federação começaram a nos apoiar e isso sim facilitou muito", explica.

Já Isabel acha que ter uma boa aparência faz parte do jogo. "O que vale mesmo é você estar na mídia. Para o marketing esportivo, de repente você nem precisa estar ganhando tanto, mas se você está aparecendo, se você está sendo falada, se as pessoas te conhecem, isso faz a diferença".

Isabel Swan admite que a dupla cuida da aparência. "A gente procura estar sempre com a pele muito bonita, porque a marca é de mulher bonita, então tem que estar bem. Mas também cuidamos deste lado independente de sermos atletas porque não podemos descuidar, afinal somos mulheres também", diz a atleta.

Após bronze, velejadoras brasileiras já falam em 2012
Fernanda e Isabel acreditam que podem ter um desempenho ainda melhor nos Jogos Olímpicos de Londres
Fernanda Oliveira e Isabel Swan, que ganharam nesta segunda-feira a primeira medalha para a vela feminina brasileira na história olímpica, se animaram a ponto de já pensar em um novo ciclo de quatro anos. Após ganhar o bronze, elas falaram em uma felicidade enorme pela conquista e em tentar uma qualificação melhor na próxima, referindo-se aos Jogos de Londres, em 2012.

A gaúcha Fernanda Oliveira, de 27 anos, disse que viveu com Isabel, fluminense de Niterói, de 24 anos, dias duros no Centro Olímpico de Vela, na raia olímpica de Qingdao.

"Foram vários treinos (as velejadoras chegaram na China dez dias antes do início da Olimpíada) e muita ansiedade nas regatas. Alguns dias foram difíceis, sem vento. Mas conforme a competição andou fomos ganhando confiança e hoje (segunda-feira) estávamos muito calmas. A felicidade por conseguir a medalha é enorme."

Sobre a vitória na 'Medal Race' (regata da medalha, a última da competição e que vale mais pontos) nesta segunda, Fernanda disse que não importava o resultado, mas sim a briga pela medalha.

"Quando eu vi que estava na frente da dupla israelense (para a qual poderia perder o bronze) nem me preocupei com as holandesas, de quem poderíamos tirar a prata. Na montagem de uma bóia ainda vi a bandeira do barco holandês, mas muito misturada às outras, não consegui identificar a posição."

Fernanda também falou que ela Isabel ainda estão curtindo essa medalha. "Agora é sentar, com calma, e ver como vai ser o próximo ciclo olímpico". Isabel vai cuidar de sua vida, nos próximos meses, com o casamento já planejado para dezembro. As duas querem fazer "coisas de mulheres" após a Olimpíada, como ir ao salão de beleza.

Fernanda competiu nos Jogos de Sydney/2000 com Maria Krahe, a Dijá (foi 19.°), e de Atenas/2004, com Adriana Kostiw (foi 17.ª). Na Grécia, tinha o barco mais velho dentre todas as competidoras. Teve melhores opções a partir de 2005, quando obteve patrocínio e formou a dupla com Isabel.

Contratou o técnico Paulo Ribeiro, montou uma estrutura e foi buscar a classificação olímpica no Mundial de Cascais, em 2007, quando a dupla brasileira terminou em sétimo. Isabel é uma estreante em Jogos Olímpicos.
Fonte: Estadão Fotos: Getty Images

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