O herói esquecido
Wawatoo, um Frers abandonado
André Barth

05 Ago 2008
E
m nossa navegada para conhecer o famoso Canal do Varadouro (ou melhor, do Encalhadouro) entre as cidades de Paranaguá (PR) e Cananéia (SP), estivemos atracados por alguns dias no Iate Clube de Paranaguá. O que chama a atenção neste Clube, é que todos os boxes de atracagem são flutuantes, pois as marés atingem mais de dois metros de desnível entre a pré e a baixa-mar. Já de longe, na nossa chegada de aproximação ao Clube, se observava um enorme mastro que se destacava dentro de todos os demais veleiros do local. Após a faina de nossa atracagem com quase quatro nós de correnteza a favor, proporcionados pela maré vazante, fomos verificar que veleiro era aquele do enorme mastro.

Para nosso imenso espanto e admiração, era o nosso velho e conhecido WAWATOO, companheiro de várias regatas na década de 1970. Este gigante de oceano é um charmoso e belíssimo veleiro, todo em alumínio, que foi projetado pelo escritório argentino de arquitetura naval German Frers. Este puro sangue da vela foi vencedor de inúmeras regatas, entre elas a Buenos-Aires/Rio de 1977, regata que participávamos no Orion III (também projeto de Frers), até que tivemos que abandoná-la, por quebra de mastro, no sul da costa gaúcha, no través do farol de Verga. Naquela época competíamos com vários e belos barcos projetados por Frers, entre os que me lembro agora, eram o Victória, o Recluta, o Fjord VI, o Don Alberto, o Tigre, o Tucháua e o Coral.

Os primeiros proprietários do WAWATOO foram os irmãos Nabuco, que operavam na Bolsa de Valores de São Paulo e que muito competiram e aproveitaram o veleiro. Conseguimos a informação de que um sócio do Iate Clube de Paranaguá adquiriu o WAWATOO há alguns anos atrás, em Santos, por U$400.000,00, o reformou internamente e fez uma única navegada de ida e volta até Fortaleza. Daí em diante, já faz cinco anos, o barco nunca mais saiu do trapiche e também nunca mais recebeu nenhum tipo de conservação.

É lastimável e deprimente ver o tão charmoso e valente barco no estado em que se encontra. Sem exageros, o casco submerso tem mais de dez centímetros de espessura composto de cracas, anêmonas, algas e outros parasitas marinhos. Escotas e adriças não tem mais nenhuma serventia a não ser o lixo. O madeirame de convés está apodrecido. As tintas do convés, casco e demais peças estão todas velhas e esmaecidas. O enxoval de velas, dizem que é ainda o original e imaginem como deve estar após cinco anos encerrados nos paióis. O motor nunca mais funcionou.

Pelas poucas vigias existentes, pudemos constatar que o madeiramento e os equipamentos do interior ainda estão em muito bom estado, talvez pelas reformas iniciais empreendidas pelo atual proprietário. Os marinheiros do Clube informaram que o barco estaria à venda por U$ 200.000,00. Sinceramente, torço para que apareça algum, digamos, “mecenas” que encare a restauração desta bela nave a exemplo do que fez o Sérgio Neumann com o Congere, aliás, outro veleiro projetado pelo consagrado escritório de German Frers.

Foi com muita satisfação que nesta navegada também nos reencontramos, em Floripa, com o PLANCTON, o SWAM 40’ que pertenceu ao Geraldo Tollens Link e que escreveu vários livros contando suas navegadas com este barco. Após a morte do Geraldo, este barco foi vendido, e quem o comprou, não se sabe porque motivo, o desmanchou totalmente até as últimas peças. Um amigo e admirador do GeraldoLink soube que o barco estava desmanchado, o comprou desmanchado mesmo, o remontou e o pos a navegar novamente. Torço para que isto possa acontecer também com o WAWATOO.
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Fotos: Victor Scur Barth

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