No caminho de casa: veleiro Entre Pólos volta ao Atlântico
Mais de 5.000 milhas náuticas pela proa
Danilo Chagas Ribeiro

1º Set 2008
E
m torno das 07:00h GMT de hoje o veleiro Entre Pólos deixou Gibraltar (foto), rumo ao Brasil, depois de navegar 10.000 milhas desde Porto Alegre, com escalas no Brasil, Caribe e Europa.

A primeira perna será Gibraltar - Ilhas Canárias, navegada de umas 700 milhas, parte das 3.000 até Fernando de Noronha, de um total de mais de 5.000 milhas até Porto Alegre.
O plano do comandante é atracar na ilha Gran Canária (veja imagem abaixo).

O Comandante Ademir de Miranda, o Gigante, volta navegando em solitário, conforme previsto antes de partir de Porto Alegre.

Qualificação do Comandante
Às 22.000 milhas que Gigante já navegou no seu Entre Pólos, somam-se as que navegou nos outros barcos que teve, desde jovem. É portanto um comandante muito experiente, que acompanhou a construção de seu próprio barco e que, pessoalmente, orientou o desenvolvimento de diversas alterações. Gigante leu muitos livros sobre travessias em veleiros. É um Capitão extremamente dedicado, que domina toda a faina a bordo, da cozinha à navegação por instrumentos, e do motor à meteorologia. De uns tempos pra cá voltor a redigir seus próprios diários, e a fazer belas fotos. O homem ta impossível!
O Gigante está perfeitamente qualificado para desenvolver esta travessia em solitário, como planejou. É um profissional muito competente e tem muita sorte.

Riscos extras no mar
Além das dificuldades normais navegando no mar, soma-se o fato de estar sozinho. A região é trafegada por imigrantes ilegais provenientes da África. Segundo o Herald Tribune, as Canárias são escala habitual para os imigrantes com destino à Espanha. A ilha das Canárias mais próxima do continente africano dista apenas 50 milhas do Marrocos. No mais das vezes famintos e sedentos, com mulheres e crianças a bordo de pequenas embarcações, por vezes infláveis, em navegações muito arriscadas, sem luzes de navegação, há casos de imigrantes abordarem barcos pelo caminho, em busca de comida e água. São embarcações que podem não ser detectadas pelo radar.

A costa da África tem sido palco de ataques piratas a todo o tipo de embarcações, de veleiros a petroleiros. A navegação na área em questão é considerada "de alto risco" pelo IMB (International Maritime Bureau), embora não tão alta como em outras regiões da África. Ainda ontem, 31 de agosto, conforme notícia do Correio da Manhã, de Açores, um barco com 50 imigrantes ilegais a bordo foi interceptado a 37 milhas de Tenerife, onde deveria chegar após 8 horas devido às más condições do mar. O alerta foi dado por um rebocador que avistou a embarcação quando navegava a sudoeste da ilha.

Acompanhe a viagem do Entre Pólos

Site: Tesacom Usuário: 1.10004106 Senha: entrepolos

No site da Tesacom, clique em ENTREPOLOS (em azul). Na nova tela, clique em "Todos os Registros". No campo "Data desde" digite 01/09/2008 e clique em Aplicar.
Para ver a posição do Entre Pólos no mapa, role a tela verticalmente até embaixo, e clique em "Ver registros no mapa". Na janelinha "Deseja exibi-los?", clique em "Sim". Nova janela será aberta, mostrando mapa do Google Earth. Clique no mapa, arrastando-o para baixo. Em alguns segundos aparecerá o track do Entre Pólos. Clique no sinal de "+" para aumentar o zoom.

Navegação em solitário
Em que pese todas as vantagens da boa companhia de tripulantes amigos a bordo, a navegação solo também oferece belos prazeres. É um comentário muito pessoal, com certeza. Do meu ponto de vista, quando praticada eventualmente, como é o caso do Gigante, um navegador que jamais poderia ser entitulado de "navegador solitário", é muito bom. Guardo boas lembranças de navegadas de 50 milhas sozinho. As melhores foram à noite. Pode ter algo de provação ou de solitude. De qualquer modo, soma. E para o Gigante vai somar 5.000 milhas!

Acordando a cada 20 minutos
Em todas as noites, a cada 20 minutos o despertador do Entre Pólos acordará o já famoso comandante Gigante, que estará dormindo no espaçoso cockpit, onde ele prefere. E quando isso acontecer, ele vai rearmar o despertador e em seguida verificar o radar e outros instrumentos. Depois vai checar os 360º de horizonte, especialmente a proa, e vai dormir de novo. O Gigante já vem fazendo isso desde Barcelona. "Estou curtindo muito em solitário, e não vejo a hora de estar no meio do Atlântico, só. Isso eu almejo há muito, e já tinha perdido as esperanças de um dia poder fazer", contou Gigante na semana passada.

Dez dias sem ver ninguém
Além do despertador, ele contará com o alarme do radar, configurado para disparar com alvos a 6 milhas. Essa é a distância que um navio pode ser visto no horizonte. A uma velocidade de 20 nós aproximadamente, um navio que se aproxime do Entre Pólos o alcançará em mais ou menos 20 minutos, a contar do contato visual no horizonte. São dados variáveis, adotados como padrão.

A próxima escala prevista é Cabo Verde. De lá até Fernando de Noronha serão 1.300 milhas, possivelmente uns 10 dias sem ver ninguém. Sem poder contar com ninguém pessoalmente. Quanta gente adoraria poder fazer isso!

Bons ventos, Gigante!

Danilo.

 

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