O Rio Guaíba
Geraldo Knippling

03 Jun 2009
Muito se tem argumentado sobre a polêmica rio/lago. Cada um dos lados se apegando a afirmações e contestações que oscilam entre pareceres técnicos, comparações, coincidências e até paixões, sem mencionar os poderosos interesses comerciais diretamente envolvidos na definição.

Não querendo repetir o que já foi amplamente comprovado e divulgado, cabem mais algumas considerações e alguns detalhes.

Chama a atenção que muitos argumentos rejeitam as teses amplamente aceitas e difundidas, favorecendo detalhes e minúcias que se escondem num emaranhado de fatores que se perdem no tempo e na história. De nada adianta enumerar a era glacial ou falha no maciço granítico em era tectônica. Não importa o que foi ou o que deixou de ser. Importa o que existe hoje, em face de evidências definidas, essenciais e incontestáveis.

O Guaíba nada mais é que a continuação do Rio Jacuí, com 85% de suas águas. Mesmo os adeptos do lago reconhecem este fato. O Guaíba tem as suas extremidades livres, portanto a alegação de que as águas ficam retidas não se aplica, de forma alguma. Ficou mais uma vez amplamente comprovado nas medições de fluxo feitas em 2005. Não há vento que possa impedir este fluxo, que é um verdadeiro rolo compressor. O valor anual médio, medido, é de 1.483 m3/s, totalmente incompatível com um lago nas dimensões do Guaíba. É muita água para pouco espaço. Este fluxo pode ser retardado, ocasionando enchentes e pode formar redemoinhos devido à configuração da margem, mas jamais poderá ser detido, Porto Alegre morreria afogada!

Um argumento seguidamente mencionado é sobre as pontas transversais, assim chamadas coroas, que deveriam estar mais voltadas para o sul, a favor correnteza. Acontece que essas pontas se encontram em áreas mais rasas, protegidas da correnteza mais forte e são formadas por uma areia compactada quase ao grau de solidez. Segundo alguns geólogos teriam sido constituídas por correntes induzidas pelo vento. Há quem afirma que estas pontas foram formadas por sedimentos provenientes de rios ou riachos que desaguavam no rio. O Arroio Araçá seria um exemplo que ainda se mantém: na continuação da sua foz formou-se a Ponta do Salgado e na continuação desta a Coroa do Mato Alto. É uma questão discutível porém irrelevante. O fato é que estas pontas estão aí, por centenas e centenas de anos. Não precisamos chegar à era glacial, mas é passado. É esta a configuração do terreno que o Guaíba encontrou, como é hoje. Estes acidentes em nada alteram o fluxo do rio. Que como rio continua. Talvez dentro de mais alguns milhares de milênios seja um oceano; mas hoje é um rio.

Geraldo Knippling

 

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