Rio Guaíba
Elírio Ernestino Toldo Jr. - Professor CECO/IG/UFRGS*
Luiz Emílio Sá Brito de Almeida - Professor IPH/UFRGS

12 Mai 2009
Os canais dos Rios Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí, convergem para o delta do rio Jacuí, e daí seguem pelo leito do Guaíba como um único canal até a Ponta de Itapuã. É um canal natural com 50 km de comprimento e 8 metros de profundidade, que resulta da captura fluvial e mantém uma largura e profundidade suficientes para permitir a navegabilidade ao longo de todo o seu perfil.

Este canal desaparece no leito da Lagoa dos Patos por soterramento. Aqui a deposição de sedimentos preencheu este canal e canais de outros rios e o cobriu com uma camada de lama de mais de 6 metros de espessura, durante os últimos milhares de anos.

No entanto, ao longo de todo este tempo, o Guaíba com o vigor dos seus escoamentos restringiu a deposição da lama, preservando a forma do canal principal, diferentemente do destino que tiveram os canais no interior da Lagoa dos Patos.

No Guaíba, num rio, ocorre o inverso do que normalmente se observa em um lago, lagoa ou laguna, locais onde a circulação restrita favorece a deposição. No Guaíba prevalecem os escoamentos, que acompanham os gradientes do terreno submerso, numa direção preferencial ao longo de ano todo, para sudeste.

Os fluxos são tão expressivos em volumes e velocidades que o tempo de residência das suas águas, entre a Usina do Gasômetro e a Ponta de Itapuã, é em média de 10 dias. Ou seja, as vazões da rede de drenagem que ingressa no Guaíba são suficientes para renovar as suas águas e transportar os sedimentos suspensos num curto intervalo de tempo, numa escala de fluxos correspondentes aos rios de montante, de modo bem diverso da Lagoa dos Patos onde este tempo é medido em meses.

O canal principal também exerce um controle na distribuição dos sedimentos finos depositados no fundo, preferencialmente ao longo do seu eixo. Lagos, lagoas e lagunas não possuem este modo de escoamento, nem um curto tempo de residência, nem canais controlando a sedimentação.

O Guaíba, além dos seus escoamentos e do canal, possui uma ampla superfície exposta à ação dos ventos que favorecem o desenvolvimento das ondas. Esta outra forçante hidrodinâmica possui direção de propagação e intensidade diretamente proporcional a força dos ventos e incidem sobre as margens com energia suficiente para construir extensas praias e pontais arenosos e, também movimentar constantemente as areias presentes no fundo raso do Guaíba.

Portanto, podemos com base em fundamentos hidrodinâmicos, sedimentológicos e geomorfológicos afirmar que parte da rede hidrográfica de sudeste do estado do Rio Grande do Sul alcança os seus limites mais distais no interior do Guaíba até a Ponta de Itapuã, local onde ocorre a transição do rio, Rio Guaíba, para outro ambiente, a Lagoa dos Patos.

 

*Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica
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