De Porto Alegre a Santarém
4.000 milhas pelo litoral brasileiro
Emilio Oppitz

05 Jun 2009
Meus amigos Popeiros.
Como prometi para vocês, aí vai um breve relato da nossa ida a Santarém.
O barco, o Tapajós Cat II, é praticamente um ônibus aquático, e é esta sua função lá em Santarém, onde vai trabalhar. Faz uma linha entre as cidades de Santarém e Juruti, passando por Óbidos, onde faz parada.
Tem 61 pés de comprimento por 6,10 m de largura. Tem dois motores Scania de 500 hp cada, dois tanques de 1.000 l para o diesel e um de 200 l para água.
Tem 104 lugares, 4 aparelhos de ar condicionado, DVD e uma TV LCD de 57 pol. Um show.
Levavamos na popa, 5 tambores de 200 l de diesel, como reserva, assim como 4 galões de 50 l para reserva de água.
Os tanques parecem insuficientes mas devemos levar em conta a velocidade do barco. Os 1.000 l com um consumo de 50 l/h dá para um tempo de 18 h, pois os 100 l restantes ficam com um nível muito baixo no fundo do tanque devido ao seu comprimento, mas neste tempo a gente percorre umas 320 milhas mais ou menos, com uma velocidade média de 17 nós. Dá bem para chegar em outro ponto de abastecimento.

O Com. Munir e sua esposa Elda, juntamente com o Chico, mecânico da empresa, saíram de POA, no dia 12/04, com destino à Tapes, onde embarcamos, a Adriana e eu, e de onde sairíamos no dia seguinte.
Tem um dito náutico que recomenda que nunca se inicie um grande travessia (viagem) em um sexta feira.
O dia seguinte era sexta feira, 13.

Saímos às 4 da manhã, com destino a Rio Grande, de onde, se o tempo permitisse, sairíamos no mesmo dia. Nos acompanhava até aí, o Miguel Sanchis (do Conjuminando. com.br) e sua esposa Bete, e também o Com. Froner (Uranus).
No domingo fizemos uma tentativa, mas foi frustrada pelas condições da barra que estava mexida muito fortemente, e por uma chamada geral de ventos fortes muito fortes, que ouvimos quase na boca da mesma e que nos fez voltar.
Ficamos em RG até o dia 17/04, quando o mar estava uma beleza, confirmando a previsão que observamos para este dia. Saimos às 09:30 do clube, e 10:40 da barra.

Mandamos ver. O catamarã Tapajós Cat II se comportava maravilhosamente bem no mar, e com ondas a favor.
A aceleração que procurávamos manter era sempre logo abaixo de 50 l/h para cada motor o que nos dava uma velocidade que variava entre 14 e 21 nós. Funcionava assim.
No entremeio às ondas a velocidade ficava em 18-20 nós. Quando alcançávamos alguma onda, ela caía para 12-13, enquanto estava na "subida", e quando a ultrapassavamos e íamos para a "descida", a velocidade ia para 21-22 nós e a gente então tirava um pouquinho o motor, para não enterrar a proa na onda da frente, pois a alcançávamos rapidamente.

De dia era fácil, bonito de ver e espetacular a sensação da velocidade, mas de noite tivemos que baixar para que isto não acontecesse. Segurança em primeiro lugar.
Amanheceu quando passamos o Cabo de Sta Marta, e quando estávamos prestes, mas prestes mesmo de entrar em Naufragados, no sul da Ilha de Florianópolis, faltou óleo no motor de bombordo, que consumia sempre 2 l/h a mais que o outro. Ainda bem que foi antes de entrarmos.
Fiz a volta e voltei na lenta até que o Chico e o Munir abastecessem e sangrassem o motor, e, óbvio que foi abastecido também o motor de boreste.

Em Floripa abastecemos no Iate Clube Veleiros da Ilha, diesel e água. Saímos para almoçar, e, como era cedo e o mar continuava bom, o Munir resolveu que deveríamos seguir até Camboriú, que era perto e ganharíamos mais umas milhas.
Assim fizemos e chegamos às 17:30 h. Atracamos na Marina Tedesco, um espetáculo, de primeiro mundo. Muitas lanchas e alguns poucos veleiros. A maioria das lanchas em galpões de tres andares e quatro andares. Tudo muito moderno, limpo e bem organizado. Ao atracarmos meu celular caiu na água quando fui regular a altura de uma defensa mas um cara dali, que era bom de mergulho o achou. Meu interesse era o chip porque o aparelho não prestaria mais, pois celular com água salgada não combina.
Valeu o R$ 50,00 que paguei a ele que trouxe o celular no primeiro mergulho. Comprei outro no mesmo dia, pois sem poder falar com a familia e com muitos de voces, seria difícil. Aí, mais uma vez completamos os tanques e a água.

No outro dia saímos às 5:00 hs da madruga, com idéia de chegarmos em Ilhabela, mas o mar estava meio mexido, com ondas de 2,0 m e mais até, nos atacando pela bochecha de boreste tornando a navegada mais lenta e nada legal para o barco que batia muito, nos forçando a diminuir a velocidade e deixando a navegada bem desconfortável. Ao mesmo tempo o acelerador do motor de boreste (eletrônico) começou a falhar deixando o motor na lenta. Funcionava bem uns 20 min. e caía para lenta. Firmava por mais uns 20 min e começava de novo. Achamos por bem mudar o rumo para Santos, o que ia diminuir o tempo em muito e nos favorecia também bastante com relação as ondas, que nos atacavam aí, de través, nos permitindo aumentar a velocidade.

Chegamos em Santos, no Iate Clube (foto), às 19:30, onde atracamos e corrremos para o banho pois os banheiros fechavam às 20:00 hs. E que banheiros.
Beleza, banho tomado, janta, TV e cama. As camas eram colchões que eram postos no chão, em lugares onde alguns bancos não foram colocados, já com este propósito.

No outro dia vieram os mecânicos da Scania para resolverem o problema do acelerador. Macacões brancos, dois laptops, que ligaram nos motores e depois de algum tempo estava tudo certo. Coisa de primeiro mundo.
Saímos para um teste. Tudo perfeito.
Nossa viagem era isto. Mar muito bom. Sair, navegar, chegar, abastecer e sair de novo, sempre aproveitando o mar que dava condições de continuar sempre, e foi o que fizemos.

Depois de Santos veio Ilhabela, e por aí vai, Rio de Janeiro (ao lado), Vitória, Porto Seguro, neste trecho passamos por um grupo enorme de golfinhos, paramos o barco no meio deles, porque são animais lindos e queriamos vê-los. Depois Salvador.

Para Recife tivemos uma noite de mar horrível bem em frente a Aracaju, muito vento, e ondas curtas com o mar muito agitado. Tínhamos que andar com um só motor engatado porque com os dois a velocidade na lenta era de 6-7 nós o que era demais. Nesta noite descolou um acabamento de fibra de baixo do barco, o que nos forçou a parar. Nada grave, era só o acabamento inferior. De manhã passamos dois cabos por baixo do barco e amarramos a chapa no lugar o que nos permitiu andar normal já que o mar tinha acalmado de novo. Em Recife foi feito o conserto (foto acima).
E continuamos, Natal, Fortaleza, São Luiz do Maranhão, e, finalmente o rio, fim do nosso caminho por mar, chegamos depois de um tempo, em Belém. Neste trecho, o que marcou foi a amplitude da maré, que chegou a ser de 6 metros em S. Luiz do Maranhão. Nós não estamos acostumados a isto, e por este motivo o fato nos marca.

Este último trecho foi marcado por um número exagerado de barcos de pesca. Exagerado mesmo. Para piorar, o Munir tinha me prevenido que alguns ficavam à noite parados na ponta de rede e com as luzes totalmente apagadas. Não acreditei, porque ninguém seria louco para fazer isto. Mas, fazem mesmo. Uma loucura.

De Belém para diante assumiu um piloteiro (prático) que conhece o caminho. Saimos às 16:30hs e o cara tocou a noite toda. Esteve por umas duas ou tres horas perdido, porque eles navegam pelo radar, e deu uma chuvarada onde estavamos e o radar ficou, como dizia o piloteiro, "alagado", e não distinguia as margens com a imagem da chuva na tela. Mas depois de a chuva parar e pedir por duas vezes informações para outros barcos, pegamos o rumo de novo.
Navegamos no rio Pará, até passar pelo Estreito de Breves, e as 06:00 da manhã, entramos no RIO AMAZONAS.
Escrevi de propósito com maiúsculas, porque ele é maiúsculo. A gente estudou, lê, vê na televisão que o Amazonas é grande. Mas ele é muito maior.

Grande é pouco, largo, muita água, estava na época das chuvas e a correnteza beirava os 6 nós com todo aquele tamanho de rio. Imenso, água para ninguém botar defeito. Muitas árvores derrubadas pela força das águas, e que em um ou dois anos, já secos, seriam troncos a descer na correnteza. Muitos troncos boiando rio abaixo sendo um perigo à navegação. E bastante gente. Muitas casinhas a beira do rio, muitas canoas, com mulheres e crianças, e de vez em quando uma vilazinha com poucas casas e algumas com igrejas. Alguns com postes de luz, certamente com geradores locais. E a floresta.

A floresta, também deveria ser escrita com maiúsculas. É linda, fechada, cerrada, com enormes árvores. Tudo é muito bonito. Tudo é maiúsculo.
Muitas balsas empurradas, carregadas só com carretas, muitas carretas, sem os cavalinhos que certamente as esperavam nas cidades. Muitas balsas.

Enfim depois de 28 horas desde a saída de Belém, chegamos em Santarém, nosso destino final. O Amazonas, este continuava muito mais a frente. Andamos só um pedaço deste rio maravilhoso.
A viagem foi de mais ou menos (o piloteiro zerou o gps) 4.000 milhas. Longe, muito longe.
Imaginem que saímos de Rio Grande e percorremos todo o litoral brasileiro. Faltou só o Amapá.
Foi um experiência maravilhosa. Espero repeti-la em breve.

Comentários recebidos

21 Jul 2011
Sepe T. de los Santos

Entrei no Google pra pesquisar algo relacionado com o Tapajós, e me deparei com o belissimo relato do Cdte Emilio Oppitz no Popa.com.
Devorei na primeira oportunidade.
Q maravilha !
Parabéns Cdte, parabéns Popa

05 Jul 2009
Joel Gonzaga

Meus companheiros e amantes de aventuras, isto é sensacional...eu achei muita bacana, e vces estão de parabéns, eu gostaria de estár numa aventura desta. Só uma pergunta: numa navegada desta, a quantas milhas da costa vces passavam? abraço.

05 Jul 2009
Emilio Petry Oppitz
Para o Joel.
Nós andamos há mais ou menos 8 a 10 km da costa.
Se fosse com um veleiro, com certeza andaríamos mais longe, mas com a motorização que temos fica bem assim.
Para informação:
Amanhã estamos saindo para mais uma viagem com outro catamarã idêntico. Às 8:00 h "decolamos" de Tapes, rumo a Rio Grande, e se se confirmarem as previsões na terça vamos para o mar.
Para Santarém de novo.
Uma abração para todos.
Até breve.
Emilio

06 Jul 2009
Fábio de Lima Beck

Caro Emílio.
Que a ótima experiência da primeira viagem se repita na segunda.
Boa navegada.
Fábio/Val/CDJ

06 Jul 2009
Sergio Pastl

Prezado Cmt Emílio.
Auguramos vetos favoráveis e que volteis com saúde para o nosso CNT. V. Sa. é um patrimônio vivo.
Muito sucesso.
Atenciosamente.
A família do "Ana Claci"

06 Jul 2009
Elisabete Beatriz Tschöpe
Meu esposo é Gerente da Divisão JCB do Grupo RECH e viaja muito pelo interior do Pará e Amapá. Dias atrás viajou de Santarém até Juruti no Catamarã Tapajós e descreveu-a como sendo uma viagem maravilhosa. Ele que sempre teve receio de viagem fluvial. Então decidi pesquisar sobre o Catamarã e cheguei até este relato. Gostei muito!!! Mas confesso que senti falta de fotos da região amazônica (de Belém a Santarém/Juruti).

Mesmo assim, vcs estão de parabéns!!! Pretendo ainda neste mês viajar a Santarém e faço questão de ir até Juruti no Catamarã Tapajós.

Um grande abraço

Elisabete Beatriz Tschope
Gaúcha de naturalidade/Matogrossense de coração/Paraense de paixão.

31 Jul 2009
Aldir
Gostei,  vocês  tem  espirito  de aventura , espero  ler  outra  igual  a  esta.  Sou  de  Itajaí fica ao lado de B. Camboriú felicidade  a vocês,  um  abraço  do  amigo e admirador Aldir.


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