Todas as comportas da cidade estão fechadas!
É a segunda maior enchente registrada de toda a história
Danilo Chagas Ribeiro

13 Out 2015
A notícia parece referir-se a algum lugar como Amsterdam, mas trata-se do Rio Guaíba, em Porto Alegre.

Desde 1941, quando as ruas do centro da cidade tornaram-se navegáveis, como se vê na foto ao lado, o rio não subia tanto quanto está agora.

À zero hora desta terça-feira, o nível do rio chegou a 2,89m. Caso venha a alcançar 3,00m, o cais do porto será alagado. Estamos ainda muito longe dos 4,76m de 1941.

Sistema de contenção
Em 1972, um muro foi erguido para conter futuras cheias, mas suas comportas, que permitem a passagem de
veículos e pedestres no dia-a-dia, nunca
precisaram ser fechadas. Há intenção de derrubar o muro no projeto de revitalização do cais do porto. A construção das comportas incluiu motores de acionamento e bombas. Há 4 anos o sistema foi testado, não funcionou, e ficou por isso mesmo.

O fechamento das comportas nesta semana teve que ser feito com o auxílio de retro-escavadeiras. As borrachas de vedação das comportas são as originais, de mais de 40 anos, e nunca foram trocadas. Ontem, 12/10/15, a única comporta que faltava fechar, foi fechada. Há sérias dúvidas sobre a eficácia da obra de contenção devido à má conservação.

Por que a enchente?
A causa primeira da enchente do Rio Guaíba é atribuída ao fenômeno meteorológico El Niño, um aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, na altura da linha do Equador. Isto produz massas de ar quente que bloqueiam a passagem das frentes frias vindas do sul, e que mantêm-se estacionadas sobre o RS, aumentando a precipitação.

Além da precipitação na bacia do rio, o nível do Guaíba é influenciado por outros fatores, como chuvas nos afluentes: veja no mapa ao lado a enorme extensão da região de contribuição do Guaíba.

Também os ventos influenciam o nível do rio. Os ventos de leste a sul represam o rio, que corre em direção ao sudeste. Os ventos do sul e do sudoeste afetam também a vazão pelo aumento do nível da extremidade norte da Lagoa dos Patos, onde o Guaíba desemboca. Esta variação de nível, que poderia chegar a 1 metro em apenas 24 horas, funciona como uma represa na foz do rio, em Itapuã (Viamão). Cria-se ali uma pororoca, como esta pequena na foto ao lado, que vi em 2003.

Previsões
A meteorologia prevê alguma precipitação para esta semana, tanto na bacia do
Guaíba quanto em grande parte de sua área de contribuição, mas de baixa intensidade.
Somente na próxima segunda-feira, 19, deverá voltar a chover intensamente.

O vento nesta terça-feira terá a tendência de represar o rio, mas muito pouco, por ser de baixa intensidade.

Já na quarta e na quinta, o vento rondará de nordeste a noroeste, com boa intensidade, favorecendo a vazão do Guaíba, e portanto com tendência de baixar o nível.

No gráfico ao lado, a previsão de ontem do Grib para quarta-feira mostra 20 nós de NE na Lagoa dos Patos, bom para ajudar a baixar o rio.

A grande quantidade de água ainda acumulada nos afluentes do Guaíba poderá mantê-lo alto ou subir mais ainda. Na foto ao lado, residência
alagada na Ilha das Flores, no Rio Jacuí, principal afluente do Guaíba.

É impossível equacionar essas variáveis confiavelmente. O fato é que o rio baixou um pouco na noite de ontem e havia estrelas no céu de Porto Alegre.

Sinalização precária no rio
Algumas bóias de sinalização do Guaíba garraram ontem, conforme testemunhou o Comte Pedro Chiesa, como as do cotovelo do Gasômetro e a de Perigo Isolado que fica ao lado dela. Outras a montante destas também
garraram.

Além da falta da sinalização, o deslocamento das bóias rio abaixo representa obstáculos à navegação. Várias outras bóias provavelmente garraram, como habitualmente ocorre em épocas de cheia do Rio Guaíba. Sim, o Guaíba é um rio, apesar da tendência modernosa e interesseira de classificá-lo com outro nome.

Na foto ao lado, o farolete do Veleiros do Sul, no Rio Guaíba, ilhado mas firme como palanque em banhado!

Assunto relacionado
Conheça as réguas de medição do Rio Guaíba:
http://www.popa.com.br/cartas_mapas/baleias_fora_d'agua.htm
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Fontes: G1, ZH, Grib, Hidrovias Interiores RS, Popa.com.br;
Fotos: 1941, autor desconhecido; retro-escavadeira, ZH; Pororoquinha, Danilo Chagas Ribeiro; Casa na Ilha das FLores, Cmte Joel Schroeder; Farolete Veleiros do Sul, Cmte Francesco Colombo.

 


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