Desventura num belo lugar
Stress a bordo
Luiz Antonio Monza Koller e Rodrigo Beheregaray


Arroio Araçá, foto Luiz Morandi

05-06-05
Luiz Antonio Monza Koller

"Desventura num belo lugar"
Sexta-feira, 18h, noite fechada, éramos o veleiro TRIER a única embarcação fundeada
nas Mulatas (Baía do Araçá, Rio Guaíba).

Em torno das 20h chega uma embarcação, luzes de navegação e de cabine ligadas, permanece boiando quase ao lado da boca do arroio a uns 300m de onde estávamos, e desliga o motor.

Desligam todas as luzes para logo acenderem um holofote, daqueles que cobrem uns 500m de distância. E aí permanecem aplicando o facho em diversas direções, passando, por vezes, por nós. Uma única vez foi possível notar que se demoraram um pouco mais com o facho no TRIER.

Pensamos em passar um rádio, para saber do que se tratava, mas tememos com isso deflagrar uma situação de animosidade.
Ato contínuo, desligamos todas as luzes do TRIER (janta pronta!), desligaram o facho, acionaram o motor e (momento "thriller") completamente no escuro, vagarosamente passaram a se aproximar de nós!

No escuro fui ao motor, acionei-o, fui à proa caçar e recolher os ferros. Isso feito, pararam a uns 100m de nós, todas as luzes desligadas.

Ligamos as luzes de tope, navegação, internas e serviço de convés de proa, na tentativa de deixar claro que os notamos e estávamos incomodados.
Aceleramos e partimos, de volta ao clube, tentando a sorte com as redes até atingirmos o canal.

Ao cruzar a embarcação pudemos observar que se tratava de uma lancha de médio a pequeno porte. Não conseguimos ver seu nome. Uma lona azul por cima, umas três pessoas a bordo. Todas as luzes deles desligadas. Desconfio que não eram assaltantes, mas pergunto:

Que tipo de navegadores eram aqueles?
Que padrão de comportamento num local tão tranquilo quanto aquele?
Será que fazem alguma idéia do que a atitude deles representa para um veleiro sozinho fundeado naqueles cantos?
O que pensar numa próxima saída para aqueles lados?

OBS.: nosso VHF estava o tempo todo ligado no 16 e nada captou deles, nenhum pedido de informação ou ajuda.

Deixo aí, para o conhecimento dos muitos colegas que, como nós, adoram fundear e pernoitar nesses belos cantos que o Guaíba e a Lagoa nos proporcionam.

SDS,16.

Luiz Antonio Monza Koller
Veleiro TRIER - ICG

17-06-05
Rodrigo Beheregaray
Nas conversas de contra-bordo ou de trapiche sabemos em seguida dos ocorridos.
A tal lancha se chama MAR & CIA, sediada lá no Lessa, e q tb é sócio do CNI. Gente boa, de bem. O q houve foi uma grande confusão e talvez até problema de "comunicação de fachos" com suas lanternas.

As manobras dele podem não ter sido das mais convencionais mas o nosso dia-a-dia na cidade tb pode ter te deixado mais tenso. A Mar & Cia tem uns 22-24 pés. Naquele dia era um casal apenas, e não três. Chegaram ao Araçá e fundearam. Apagaram todas as luzes para ver ao redor com a lanterna se existiam outras embarcações e para a sua própria segurança. Viram o Trier e focaram o facho e se deteram para poder identificar se era embarcação conhecida. Colocaram a lona azul por cima para proteger do sereno como sempre fazem qdo pernoitam.

Passou uns minutos e viram q o local mexia muito com ondas e resolveram recolher a âncora e se aproximar mais de vcs pois parecia um local melhor para fundeio. Ele foi indo de ré devagarinho (momento thriller...), sem iluminação, pois já tinha acostumado a visão a pouca luz.

Afinal, ele tinha visto q vcs estavam fundeados e não estavam em manobra, logo concluiu q não traria prejuizo se se deslocasse por alguns metros daquele jeito, sem luzes e de ré. Ele queria não apenas um local melhor de fundeio como tb ficar mais prox. de vcs para buscar tb mais segurança. Veja só q ironia...

O VHF da lancha está com problema. Poderia ter dado um grito tipo "quem vem lá?", "que barco se aproxima?", alguma coisa assim.

abs,

Asterix
~~~~~~
Rodrigo Beheregaray


O texto foi condensado de mensagens enviadas pelos autores ao grupo popacombr


Junho 2003
Trecho do diário de bordo da Aline: "Destino: La Charqueada"


Arroio Grande, Lagoa Mirim

Fundeados em Arroio Grande, Lagoa Mirim.
"A uns 300m de nós havia um barco de pescadores. Fora isso não havia nada. Só água pra todos os lados cobrindo as maraxas (as taipas de lavouras de arroz). Estava tudo alagado.

Já quase escuro, um pescador saiu do tal barco remando uma canoa na nossa direção. A tripulação voltou a atenção para isso.

O que o cara vem fazer aqui?
Que negócio é esse?...

Alguém palpitou: vem pedir sal ou fósforo. Não deu outra!
'Vocês trocam um pouco de sal por peixe?'. Demos a ele 1 kg de sal. Ele fez questão de nos dar uma meia-dúzia de jundiás, apesar da nossa resistência."
Destino: La Charqueada

Ponto de vista
Os tripulantes de uma embarcação fundeada em local ermo não esperam visitas. Normalmente é desagradável e indesejável a aproximação de outra embarcação, principalmente à noite, a uma distância aquém do alcance da voz e sem um comunicado pelo rádio ou no grito. Uma embarcação fundeada é presa fácil. Não há quem não fique curioso ou apreensivo ao observar um barco aproximando-se no seu rumo, a baixa velocidade. Muito pior à noite, e pior ainda vindo com as luzes apagadas, e depois de ter levado um facho de luz na cara. É uma aproximação de risco considerável, tanto para um quanto para outro.


21-06-05
Carlos Altmayer Gonçalves
Manotaço
O "Recanto das Mulatas" é a extremidade Sul da praia da cidade de Barra do Ribeiro, onde existe um "camping" municipal, que inclusive denomina-se "Camping das Mulatas". Por um equívoco, está registrado na carta náutica "P.Alegre - Ponta do Arado", na área próxima à foz do Arroio Araçá.
Quanto ao incidente, fico com o dito:
"É melhor um covarde vivo do que um herói morto!"
Recentemente houve um caso de assassinato no delta do Jacuí, para roubo de um motor de popa. Fato noticiado nos jornais locais. Normamlmente quem procura locais afastados dos centros urbanos, não encontra razão para preocupação com segurança, porém a escalada da violência segue em ritmo forte. Em outubro de 2.004, chegamos na Ilhota da Ponta Escura, ao meio-dia. O tempo estava chuvoso e não havia outros barcos lá. Fomos abordados por um bote de pesca, com pedido de cigarro e cachaça. Era tripulado por tres rapazes que demonstravam estarem "altos". Havia mais dois botes, também tripulados por rapazes. Andavam pelos baixios, com os motores acelerados, encalhando, enfim, um comportamento atípico de pescadores. Com nossa negativa quanto ao pedido deles, decidiram rumar para a Vila de Itapuã, para abastecerem-se. É certo que ficamos preocupados. Felizmente não retornaram, o curioso é que não os vimos mais após esta data.
(tenho os nomes anotados no diário de bordo, assim que for ao barco, remeto-os).
Creio, que para nossa tranquilidade, é importante o relato desses acontecimentos. Manotaço
-----------
Em tempo: "Pinho II", "Leão Marinho" e "Sonhador". Foi no dia 9 de outubro de 2.004.

22-06-05
Geraldo Knippling

Há mais de 30 anos pernoitamos e permanecemos nos mais remotos recantos do Rio Guaíba e da Lagoa dos Patos, no mais amplo e puro convívio com a Natureza. Certamente já levamos vários sustos, infundados. O maior deles quando fomos abordados no Canal do Furado (Lagoa do Casamento) por uma canoa, caindo aos pedaços, tripulada por quatro homens portando ostensivamente armas pesadas. Disseram que iriam vistoriar o nosso barco. Gelamos. Falei que, caso se aproximassem iria considerar tal atitude um assalto. Identificaram-se, de longe, como sendo do IBAMA. Concordamos em trocar identidades. Ficou constatado tratar-se de um fiscal do IBAMA (fiscal da reserva ecológica do Taim) acompanhado de dois brigadianos e um pescador, dono do barco. Tinham vindo de Jeep até uma fazenda ao sul do Furado e alugado a canoa do pescador para atender a uma denúncia sobre caça a capivaras naquela região, somente acessível por água. Acabamos trocando idéias e ficando amigos.
Com a experiência acumulada, chegamos à seguinte conclusão: Os lugares mais seguros, geralmente são os mais ermos. O raciocínio é o seguinte: nossos bandidos, dificilmente iriam a tais lugares pois morreriam de fome pela falta de presas. Além disso, não teriam eles o capital necessário para adquirir equipamento náutico como lanchas, veleiros, luzes de alta intensidade, etc. Os pescadores, geralmente com aspecto rude e as feições castigadas pelas intempéries, são de um modo geral muito boa gente, mas é preciso evitar de rasgar as suas redes. Como inseguros restam os lugares que podem ser alcançados por caiques, nas proximidades de grandes núcleos urbanos. Certamente não pernoitaria no delta do Jacuí. Também já houve casos de pirataria nas proximidades de Rio Grande, por parte de maus elementos tripulando canoas de pescadores. Fatos isolados. Estatisticamente, se é que já foi feita alguma estatística sobre este assunto, quer me parecer que corremos muito maior risco de sermos assaltados nas nossas ruas e avenidas que em alguma longínqua praia da nossa orla fluvial ou lacustre.

Geraldo Knippling

 

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