Passeio
inédito à Lagoa da Boa Vista (Mostardas)
Conversando com o marinheiro Baiano, do CNT, na secretaria, em frente à carta náutica pendurada na parede, indaguei ele, sôbre aquelas lagoinhas que apareciam adiante da Lagoa do Sumidouro. Disse-me que com a Lagoa bem cheia, talvez fosse possível acessar a primeira, já que mais adiante existe uma ponte na estrada que leva ao Bojuru, que impediria a passagem para barcos com mastro, até a última. Como gosto muito de passeios a lugares desconhecidos, aquele passeio não me saiu mais da cabeça, e combinamos, mais barcos para a aventura. Em junho de 2003, com a Lagoa bem cheia, achamos que era a oportunidade para tentarmos. Encaramos a viagem, o Supimpa, 0,80 de calado com Hugo e seu filho Cristiano, Karuana o Oday do Portinho com seu filho Rodrigo, Flibusteiro, Scorpio 26 com Geraldo e seu filho Braz e depois de muitas dúvidas se íamos com o Adriana ou com o Queen Lorene optamos por este, com o Munir e eu a bordo. Foi uma sábia decisão a ida com este barco, que é um bote com 11,20 m. cabinado, bem equipado e mais importante, com um motor de quase 90 hp o que foi fundamental para o sucesso do passeio, pois já na ida, antes de chegarmos ao Barquinho o vento parou quase total e o reboque daí em diante foi constante. Em 70 % da distância rebocamos os tres veleiros, com velocidade de 5 nós quando eram águas abertas. No Barquinho entramos direto, já com idéia de dormirmos a primeira noite o mais distante possível. Pensávamos em um churrasco, já que o Munir trouxe carne para um batalhão, quando nos demos conta que havíamos esquecido do carvão, o que não seria grande problema, já que lenha se encontra por aí, mas... Infelizmente na sanga que sobe do Barquinho, e que é muito rasa, o Flibusteiro não conseguiu subir pois seu calado não permitiu. Propusemos que o Geraldo deixasse o seu barco aos cuidados de uns pescadores da cidade, que estavam acampados por ali e viessem com a gente no Queen Lorene, mas ele não gostou da idéia. Não sabe o que perdeu. Vimos várias capivaras muito mansas que nem fugiam enquanto passávamos, ratões do banhado também e muitos pescadores até com redes fechando totalmente ao arroio. Este bicho é predador. Entramos na Lagoa do Sumidouro (conforme a carta, mas que segundo os moradores se chama Lagoa do Rincão; a do Sumidouro fica atrás do mato do Critóvão Pereira) já de tarde, e procuramos um lugar para fundearmos afim de dormir. Vento não havia, mas tínhamos que adivinhar de que lado viria se despertasse, o que não aconteceu. Um pequeno esclarecimento sobre o porquê de parte do track estar em terra: por ali não faz parte da Carta da Lagoa, nunca TINHA sido preciso. Agora talvez seja. Grande papo com o Baiano... Depois do chimarrão, um trago e uma galinha com arroz deliciosa, levada pronta, com o molho congelado, que a Adriana tinha feito em casa, só faltando pôr o arroz, umas cervejinhas e dormir foi a coisa mais fácil de fazer. Antes participando pelo telefone com um programa de uma rádio de Tavares, o que surpreendeu o Portinho que jogando cartas com o Rodrigo estava sintonizando a mesma rádio. O amanhecer foi muito bonito. Nada se mexia. (ver foto do Karuana ao amanhecer). Café da manhã (galinha requentada) com café. Delícia. Vamos navegar, ou melhor rebocar. Queen Lorene na frente, Supimpa e Karuana no reboque. E o carvão ? Resolvemos pegar em Mostardas. Entramos então na Lagoa de Mostardas, (ou do Fumo) e chegamos até a frente da cidade, que fica a uns 700 metros por um terreno que estava encharcado e que dificultaria muito a caminhada, segundo o Totonho que é velejador (ou era) e que trabalha no Banco do Brasil de Mostardas com o qual falamos pelo celular. O Munir que garantia a buscada do carvão desistiu, e como ninguém mais se candidatou a coisa ficou preta, mas não de carvão. Em
seguida, toca o celular, era o Heloiz morador de Mostardas, sócio
do CN Tapense, também velejador e grande amigo. Nos esclareceram sobre os nomes
das lagoas onde andávamos. Aproveitamos
e indagamos a eles sôbre o que iríamos encontrar pela frente,
e nos deram dicas importantes, já que às vezes subiam
lá, para caçar. Entramos novamente na lagoa do Rincão, rumo sul (+ou -) e relembrando as dicas do Heloiz e do Jesus fomos até uma malha rala de junco passando por fora da mesma por causa do calado. Boa dica. Viramos então a boreste e entramos no Arroio Linhares, lindo, espelhado, largo de início. Já próximo ao meio dia, pensamos em botar o difícil carvão a queimar, com os devidos acompanhamentos, e vimos um pessoal em um barraco na margem. Nos aproximamos mas não conseguimos encostar em terra, nem com o Queen Lorene que tinha o menor calado, então um do pessoal que ali estava, se aproximou e nos indicou um levante de lavoura, e que pela época estava desativado, mas que tinha profundidade mais do que suficiente para encostarmos. Não podia ser melhor, pois
ficamos com o costado do barco encostado na terra. A escada descia diretamente
na grama e aí fizemos o fogo, iniciado com umas tábuas
velhas de um barraco em ruínas ao nosso lado. Viva o Heloiz.... O nativo que nos indicou o levante, conversa vai conversa vem, era o Guegueio, conhecido, que já esteve em Tapes, com o Heloiz, quando este tinha um Trinidad 37. Velejar é preciso, quem não conhece pensa que nos isolamos do mundo. Churrasco comido, primeiras cervejas,
fogo apagado lá vamos nós, com mais dicas fornecidas pelo
Guegueio, que planta arroz na área. Graças a Deus, após
aproximadamente uns quinhentos ou seiscentos metros de valo, sem nenhum
obstáculo, em parte com a lagoa a nossa vista, a Boa Vista. Já a tardinha, encontramos um lugar, ainda no Arroio Linhares onde fundeamos o Queen e os outros ficaram a reboque mesmo, já que o vento continuava ausente e o lugar era bem abrigado. Os comentários sôbre o passeio bem demonstrava a satisfação de todos. Chimarrão, traguinho, janta feita pelo Munir, cervejinha e cama. Amanhã é outro dia. O Munir pulou na água, o que não era novidade, pois o mesmo não dispensou o banho nem um dia apesar do frio intenso do mês de junho. O louco não sente frio. Observem nas fotos todos encasacados e ele de bermuda. Quase sempre. Pela manhã e pela Lagoa
do Rincão afora, fomos até a sanga que leva ao Barquinho,
onde encontramos o Flibusteiro com o Geraldo e o Braz nos esperando.
Estavam lá também, uma turma do Navegantes São
João , o Eli , o Ricardo, o Jesus (saudade), o Magrão
Rogério que almoçou conosco, o Paulão e vários
outros. Depois do almoço fomos em direção ao Cristovão Pereira onde entramos no abrigo, para passar a noite. Depois do banho do Munir eu encarei desta vez também, pois tres noites sem banho já estava brabo. Melhor enfrentar o frio e depois se deliciar com a limpeza. Mas fomos só nós. Ainda bem que os companheiros estavam nos outros barcos.
Foi um sono reparador. No outro
dia, levantarmos ancoras e voltamos para Tapes. E nada de vento. Atravessamos
a Lagoa dos Patos, sempre com o reboque, agora engrossado pelo Flibusteiro.
A 5 Knots. Sábia decisão de ir com o Queen Lorene. Eu acreditava que os nativos de Mostardas, o Totonho e o Heloiz que já teve um Oday, já tivessem estado lá, mas depois me disse o Heloiz, que nunca a Lagoa da Boa Vista tinha sido visitada por barcos de passeio, como nós fizemos. Segundo ele fomos os primeiros, Será ? Valeu muito a pena. Obrigado Baiano pelo papo naquele dia. Aceitamos mais idéias. Ainda temos a contar a da Lagoa do Graxaim. Emílio Oppitz Colaboração: Beto Goidanich Raspajunco
Dados coletados
pelo autor
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Reboque
Reboque
no Valo
Aí
vai o Emílio, para quem nada parece ser difícil [popa.com.br]
-o-
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Cmte
Carlos Altmayer Manotaço Gonçalves
Naveguei na Lagoa do Rincão e na de Mostardas na páscoa de 1984,
com o Barba Negra O'Day 23', depois repeti esta navegada com o atual Barba Negra
no natal de 1985 e em outras ocasiões, sendo a última em 1º/01/2003.
Numa delas, aí por 1988, entrei no sangradouro dessas outras lagoas e
cheguei até esta que Emílio chama de Boavista, também não
pude ir adiante. Anos mais tarde, caçando marrecão, num bote de
alumínio, saindo do Barquinho, fomos adiante e chegamos até a
estrada (que vai em direção ao Farol Cristóvão Pereira),
passamos por baixo da ponte e entramos na Lagoa da Boavista, segundo informação
dos nativos. Esta que trancamos, não sei o nome. Junto na caçada
estava José Paulo Ilha. O campo que encosta a Leste da Lagoa da Boavista
também é da família do Jesus. Creio não haver dúvida
que a Lagoa da Boavista é esta mais ao Sul, sendo que é a última,
ao Sul,dessa série que deságua pelo arroio do Barquinho. Acabo
de olhar a carta do exército : "Cristóvão Pereira"
- nela indica esta lagoa com o nome "Lagoa da Lavagem".
Detalhes das cartas em anexo.
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