1ª Regata Porto Alegre-Feitoria
Uma iniciativa feliz do clube Veleiros do Sul, programando, organizando e brilhantemente fazendo disputar uma regata de Porto Alegre a Ilha dos Holandeses, no Canal da Feitoria. Percurso aproximado de 200 milhas. A maior prova de vela do hemisfério em água doce. Aos que não conhecem a Lagoa dos Patos, valham as palavras do Roteiro, claras e abalizadas: - “Com 130 milhas na sua maior extensão, essa lagoa é a maior das existentes no Brasil. Fica situada proximamente entre os paralelos de 30°20’ S e 32°00’ S, e é separada do mar em toda a sua extensão por uma faixa arenosa com 6 a 20 milhas de largura. Suas margens são baixas notando-se apenas em sua parte Norte os pequenos morros da Formiga e de Itapuã, que que formam respectivamente os pontais Oeste e Leste da foz do rio Guaíba. Nela deságuam grande número de rios, cujos principais são: ao Norte o rio Guaíba, que é formado pelos rios Jacuí, Caí, dos Sinos e Gravataí. A Oeste o rio Camaquã, e ao Sudoeste o Canal de São Gonçalo, que liga à Lagoa Mirim A não ser em sua parte Sudoeste onde há muito pouco fundo e onde a navegação só pode ser feita em estreitos canais, dragados e balizados, a Lagoa dos Patos oferece fácil navegação a navios que calem até 5 metros e meio” . Concorreram nove barcos de Porto Alegre, “Umuarama”, “Alcyon”, Cairú I”, “Seival”, “Nirvana”, “Brisamar”, “Monsum”, “Yara”, “Pingüim” e um de Rio Grande, o “Irene”.
A Erwin Bier coube medir barcos e velas para estabelecer a contento os “handicaps”. Dentre os prêmios a taça Correio do Povo, instituída pelo jornal desse nome, para o melhor classificado em tempo corrigido; a taça Leopoldo Geyer, doada pelo “grande animador da vela gaúcha”, ao sexto lugar, também tempo corrigido; o prêmio ao sexto colocado, instituição da equipagem do barco “Yara”; a taça do Comodoro Erwin Bier para as chamadas baleeiras do Rio da Prata – a saber: “Umuarama”, “Alcyon”, “Irene” e “Miraguaia” que, infelizmente não compareceu; finalmente a taça oferecida pelo jornal Folha da Tarde, ao barco que primeiro transpusesse a linha de chegada. Tomando como base o “Yara”, considerado barco “scratch”, e estabelecidos os “handicaps” pela fórmula de Long Island Sound, ficaram distribuídos os participantes: “Pingüim” 00h 31m 15 s: “Nirvana” 00h 37m 30s; “Umuarama” 01h 04m 35 s: “Alcyon” 01h 36m 40s; “Irene” 01h 50m 00s; “Seival” 01h 52m 30s; “Brisamar 01h 58m 45s; “Cirú I” 02h 04m 15 s: “Monsum” 02h 50m 00s. - Partida às 0915 de 26 de fevereiro de 1953,de bordo do “Maria Crioula”, onde se encontravam notadamente o esportista Guenther Becker e o Comandante Stefânio Guimarães, Capitão dos Portos.
O “Irene” larga um “spinnacker” verde procurando, em vão, liderar o lote. Cinco minutos mais tarde na montagem da bóia luminosa da Volta da Cadeia a ordem era: “Yara”, “Nirvana”, “Cairú I”, “Pingüim”, “Umuarama”, “Irene”, “Alcyon”, “Monsum”, “Seival” e “Brisamar”. Soprava escassa brisa do Norte. De terra, grande número de automóveis procurava acompanhar os barcos, acenando e dando adeus. Colocações as mesmas por volta das 10 horas. Vento igual. Tinha-se então a Praia de Belas pelo través de bombordo.
Às 1130, já iam todos pela Ponta Grosa, ainda com o mesmo vento. Algumas posições permutadas. Uma hora depois começa a chover. Encalmados; pequenas alterações nas posições. Fora atingida a Ponta do Arado e, já agora, se tinha a vista a Ilha Francisco Manuel. A brisa volta ligeiramente mais fresca. A Ilha do Junco logo se perde à popa. Dentro em pouco será alcançada a Lagoa dos Patos. Pelas 18 horas, a brisa norte havia refrescado ainda um pouco, dando mais movimento e ação à regata. Aproximava-se o farol de Itapuã, onde começa a Lagoa. O rebocador “Júlio de Castilhos” conduzindo juízes, representantes da imprensa e esportistas diminui a marcha até parar. Escaleres de terra conduzem jornalistas ao farol, a fim de que possam pelo telefone informar a situação dos concorrentes, até então nesta ordem: “Yara”, “Cairú I”, “Alcyon”, “Nirvana”, “Umuarama”, “Irene”, “Pingüim”, “Monsum”, “Brisamar” e “Seival”. A esta altura, o esportista Álvaro Bento, último dos que acompanhavam os barcos, faz a volta com a lancha “Brisa” e, despedindo-se, ruma para Porto Alegre.
Eram 21 horas. Lagoa tranqüila. O “Júlio de Castilhos” aumenta a marcha, passa por todos e dirige-se ao Farol de Cristóvão Pereira, em cujas imediações fundeia, resolvido a aguardar a passagem dos barcos... E assim começa o dia 27 de fevereiro. Lá pela madrugada o vento ronda para Sul e volta a chover torrencialmente. Cerca das 5 horas, vento novamente do quadrante Norte, sem que a chuva diminuísse. A escuridão própria da manhã e o tempo fechado reduzíam muito a visibilidade. Somente pelas 8 horas e 45, surgiram no horizonte algumas velas. Vinham dispersas em forma de leque e, pouco depois, já duas, pelo menos, eram identificadas: bem a Oeste o “Alcyon” enquanto que a Este vinha o “Yara”. Vinte e quatro horas juistas depois da partida, isto é, às 9 horas e 15, encontravam-se os iates á altura do Banco dos Desertores. Distingue-se nitidamente o “Yara” e, logo a seguir, o “Umuarama”, o “Nirvana”, o “Irene” e o “Alcyon”. O Banco de Dona Maria foi alcançado às 13 horas e 25, sob forte Sudoeste e chuva copiosa. Procuram todos orçar enfrentando a intensidade do vento e a vaga por ele levantada: curta e alta> O “Júlio de Castilhos” ruma para Bujurú e lança ferros, em frente ao farolete do Banco do Vitoriano, que deveria ser montado. Enquanto alguns dão bordejos em direção à costa Ocidental, como o “Umuarama” e o “Yara”, outros, como o “Nirvana”, preferem a costa Oriental. Saltando para Este o vento favorece o “Yara”. Durou pouco. Rondou mais uma vez para o Norte e começou a bafejar fraco, até transformar-se em calmaria. Pelo Banco do Vitoriano pasaram os cinco primeiros competidores na seguinte ordem: “Yara” às 1737; “Nirvana” às 1920; “Irene” às 1922; “Brisamar” às 1930 e “Umuarama” às 2003. No dia 28, era, 0210 e já estavam os juízes de chegada a postos, a bordo do rebocador “Pieter Caland”, fundeado próximo ao Canal da Feitoria. Quase 5 horas e surge o “Yara”, bordejando e, cruza a linha. Foguetes iluminam festivamente o local, enquanto os rebocadores apitam insistentemente. Logo em seguida, chega o “Nirvana”, e o “Irene”, o “Umuarama”, o “Pingüim”, o “Cairú I”, o “Alcyon”, o “Monsum”, o “Brisamar” e finalmente, o “Seival”. Deduzidos os handicaps assim ficaram distribuídos: 1º “Yara”: Bruno Altreiter, Ebehard Herzfeld, Hugo Baumann, Erwin Ettrich, Charles Baumann e Waldemar Schoeler. Tempo: 43h 45m. 2º “Irene”: Vivian Wigg, João Hugo Altmayer, José Clemente Rath, Ettore Anselmo e Luiz Roberto Dauber. Tempo: 43h 59m 45 s. 3º “Nirvana”: Breno Caldas, Henrique Schmidt, Gastão Altmayer e Rogério Cristo. Tempo: 44h 31m 38s. 4º “Umuarama”: Erwin Bier, Waldemar Bier, Ralf Johnstone, Raul Bier da Silva, Hans Stakelbeck e Murilo Belo. Tempo 44h 44m 49s. 5º “Cairú I”: Cláudio Aydos, Edmundo Soares, Edgar Siegmann e Kurt Keller. Tempo: 44h 50m 45s. 6º “Monsum”: Kurt Schwandt, Helge Munde e Ernesto Sauer. Tempo44h 59m 25s. 7º “Pinguim”: Roberto Bromberg, Ernesto Schoenfelder, Hugo Lemcke, E.Kieling, Waldemar Grinas e Ralf Renard. Tempo: 45h 24m 36s. 8º “Alcyon”: Darci Bastos, Sérgio Gonçalves, Nei Fontoura, Joe Brown e Frederico Carivelli. Tempo: 45h 48m 14s. 9º “Brisamar”: Emílio Toeming, Helmuth Lindner, Henrique Moojen e Vili Lindner. Tempo: 46h 48m 14s. 10º “Seival”: Rudolf Gerson, Rugard Brechtel, Jorge Bertschinger, Henrique De La Rue, Romeu Serrano, Edmundo Murgel e Roberto Hoerle. Tempo 52h 05m 31s. Às 13 horas do dia 28 de fevereiro, prosseguiram viagem chegando ao anoitecer, entre festas e manifestações de júbilo, ao fundeadouro do Rio Grande Yacht Club.
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Esta regata repetiu-se em 1956, com a diferença que correu-se ida e volta, saindo vencedor o “Irene”, do Rio Grande Yacht Club.
O “Maria Creoula”*, barco da Comissão de Regatas do Veleiros do Sul.
(*) "crioulo" (creoula) significa criado (no sentido de cria), nativo
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