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Quando me inteirei dessa viajada fiquei
impressionado como foi descrita. Primeiro pela precisão dos detalhes,
a maioria dos quais confirmados, e depois por fazer parte de uma obra que certamente
não trata de vela.
É para se ver como o "homo
navegans" sempre foi influente.
Foi uma grande velejada acontecida no Mediterrâneo. O ponto de partida foi Cesárea, em Israel, 27 milhas ao norte de Tel Aviv.
A âncora foi içada e começaram a velejar pela costa rumo ao norte. No dia seguinte chegaram a um abrigo, na cidade de Sidon, velejando neste dia mais ou menos 70 milhas.
Em Sidon foram à terra visitar amigos
e se abastecer das coisas que estavam faltando.
Quando saíram desse abrigo, necessitaram navegar entre a ilha de Chipre
e a costa da Turquia porque o vento começou a soprar bem do rumo que
eles queriam ir.
Sempre costeando a Turquia chegaram à cidade de Myra, onde resolveram trocar de barco. Tinham se dado conta que precisariam de um barco maior para continuar a viagem.
Saindo de Myra navegaram no contravento por muitos dias, lentamente, porque o barco não era bom de bordejo. Num desses bordos chegaram até a avistar a cidade de Gnido, ainda na Turquia. Passaram entre a ilha de Rhodes e a de Karpathos pertencentes à Grécia e, aproveitando uma mudança do vento, rumaram para o sul de Creta, se deliciando com o bom tempo e as costas maravilhosas.
Sem esperanças de se salvar
Navegando com dificuldade, bem junto à
costa de Creta, chegaram a um lugar conhecido por uns pelo nome de Bons Portos
e por outros de "Fair Havens". Este abrigo ficava perto da antiga
cidade de Thalassa.
A essas alturas da viagem o tempo tinha começado a mudar por estar se
aproximando o inverno, de modo que resolveram ir mais para o ocidente de Creta,
tentando chegar em um outro abrigo que fosse protegido tanto dos ventos do sul
como do oeste.
Quando começaram a velejar entrou
um ventinho puxador, do sul, que era o que eles queriam para continuar a costear
Creta. Nem bem tinham contornado o cabo Matala, velejando numa boa, quando o
sul se foi e então entrou o temido vento Euroclidon.
A força do vento era tanta que o barco ficou sem controle, com a tripulação
fazendo de tudo para não irem ao fundo. Chegaram a passar três
dias sem ver nem sol nem estrelas. Só viram alguma coisa quando passaram
perto de uma pequena ilha, mas o medo maior era serem levados para a costa da
África onde certamente perderiam o barco.
Navegavam em árvore seca, pois chegaram até a deitar pela borda
parte do aparelho, principalmente porquê parecia que o tempo ainda ia
piorar. Em um determinado momento chegaram até a perder as esperanças
de se salvar.
Motim: o Capitão soltou o escaler para evitar a deserção.
Perto da meia noite do décimo quarto
dia, o pessoal da tripulação começou a achar que estavam
chegando perto de terra e começaram a sondar. Encontraram 20 braças
e, um pouco mais adiante, 15 braças.
Como medida de precaução, com medo de estarem se aproximando de
alguma costa perigosa, lançaram da popa quatro âncoras para esperar
o amanhecer.
A esta altura a tripulação
resolveu pôr n'água o escaler com a desculpa de largarem as âncoras
de proa, mas o que queriam era desertar do barco. Descoberto o motim o capitão,
para não deixar dúvidas, mandou cortar as amarras do escaler para
que ele fosse à matroca. Sabiam que se os marinheiros não ficassem
no barco não haveria chance de salvamento para todos.
Quando a situação melhorou um pouco, depois de terem visto que
as âncoras tinham unhado bem, todos foram aconselhados a se alimentarem
bem porquê seria preciso um mutirão para aliviar o barco da maior
quantidade possível de carga.
Quando clareou o dia estavam em uma pequena enseada, desconhecida, com uma praia,
na qual talvez poderiam encalhar o barco.
Prisioneiro a bordo
Levantaram as âncoras, içaram
a vela de proa e deixaram o barco ser levado em direção a tal
praia. A manobra não deu bem certo e eles foram parar em uma ponta de
areia onde o mar batia de ambos os lados. Acabaram encalhando pela proa ficando
a mesma firme em terra. Então a popa começou a se abrir com a
força do mar.
Todos conseguiram abandonar o barco sem perda de vida alguma, pois os que não
sabiam nadar se valeram de tábuas e de destroços para chegarem
à terra.
Haviam chegado à ilha de Malta, onde os habitantes os ajudaram com abrigos
e fazendo uma grande fogueira para protege-los do frio.
De Creta a Malta, em linha reta são
506 milhas.
Ficaram em Malta por três meses, saindo de lá em outro barco que
levava o emblema de Castor e Polux.
Dali arribaram para Siracusa, na Sicília onde ficaram três dias.
De lá, correndo a costa, foram até Régio di Calábria
em um dia.
Saindo de Régio di Calábria com um bom vento sul, chegaram em
2 dias em Pozzuoli.
De Régio a Pozzuoli são mais ou menos 180 milhas resultando uma
singradura de 90 milhas nos dois últimos dias.
Havia 276 pessoas a bordo.
Esta viagem pode parecer um pouco estranha.
Muitos nomes não coincidem com os que a gente encontra nas cartas atuais.
O fato é que se trata de uma velejada acontecida no ano 62 da Era Cristã,
na qual o Apóstolo Paulo estava sendo levado preso para Roma pois havia
recorrido a César para se defender de uma acusação.
Quem quizer mais detalhes deste relato procure na Bíblia, no Novo Testamento,
em Atos, Capítulos XXVII e XXVIII.
Descobrí esta passagem bíblica
quando procurava uma citação indicada em um artigo da revista
"Cruising World'. O impressionante desses capítulos é o relato
bem marinheiro e a precisão da localização nas cartas.
Esta viagem foi a 1941 anos mas é impressionante como parece um fato
atual.
Porto Alegre, 01 de outubro de 2003
Augusto Chagas
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[popa]: O Comandante Augusto
Chagas, ou
Chaguinhas, como é conhecido pelos amigos, é um colecionador
de pérolas da vela. Tem um vasto conhecimento sobre navegação,
tem todo o tipo de informação que se possa imaginar, e ainda uma
memória poderosa. Pouco veleja no Gaudério, atracado no
Veleiros do Sul (Porto Alegre), de tanto que é requisitado a velejar
nos barcos dos amigos. É um expert em navegação estimada
e tem se dedicado à navegação digital.