Porto Alegre Bombardeada por Equívoco*


Gráfico meramente ilustrativo

Um tiro de canhão fez um estrago no centro de Porto Alegre, em 1.966. Atingiu o Hotel Savoy, na esquina da Av. Borges de Medeiros com a Rua Jerônimo Coelho, bem no centro da cidade.

Em plena Revolução, o tiro disparado a bordo de um navio da Marinha de Guerra em frente ao Veleiros do Sul, a 4 milhas do centro da cidade, por muito pouco não fez vítimas.

A salva de tiros fazia parte da comemoração do aniversário do Veleiros e do Dia do Marinheiro.

Segundo o jornal "A Notícia", o acidente foi atribuído ao vento.

Veja a notícia publicada em jornal do Rio de Janeiro e o que conta o ex-comodoro do Veleiros do Sul Laszlo Bohm.


Fonte: Jornal "A Notícia", Rio de Janeiro. 16.12.1966.

Porto Alegre bombardeada por equívoco

Uma bala de canhão de 40 milímetros, disparada à guisa de salva, pelo navio "Benevente", da Marinha de Guerra, foi cair sobre o Hotel Savoy, em Porto Alegre, perfurando o teto e a cama do apto. situado no 10º andar do prédio, depois de destruir o terraço de duas residências. O fato ocorreu no encerramento da Semana da Marinha e provocou pânico no hotel e nos edifícios próximos. O comandante do navio alegou que houve um erro de cálculo e que o vento desviara a trajetória do tiro. (Texto na quarta pág.)

Porto Alegre esteve sob perigo com tiros errados do Benevente:

Sòmente ontem a população de Porto alegre tomou conhecimento do grande perigo a que esteve exposta na última têrça-feira, qdo. uma belonave da Marinha de Guerra, fazendo disparos mal calculados ao largo da capital, chegou, com um petardo, a destruir o telhado de um hotel, além do terraço de residências. Ao serem divulgados, ontem, os acontecimentos, soube-se dos detalhes da ocorrência, com tudo começando durante os festejos do encerramento da Semana da Marinha, para culminar com a quase destruição de um edifício de mais de 10 andares onde estavam hospedados dezenas de pessoas.
Os acontecimentos:
Tudo começou ao largo de Porto Alegre, na terça-feira... Ali estava ancorado o destróier Benevente, nas proximidades do clube Veleiros do Sul, onde se realizava uma festividade alusiva a Semana da Marinha. O navio conforme estava programado deveria fazer disparos para saudar as pessoas que participavam das comemorações. Os canhões de 40 mm. foram acertados e feitas as salvas que, contudo, por terem sido mal calculadas, caíram sobre Porto Alegre.
Quase tragédia:
As granadas iluminatórias do Benevente ao contrário do que esperavam seus artilheiros foram atingir o edifício do Hotel Savoy localizado apenas a 800m do Palácio do Governo, além do pátio duas residências, em cujas proximidades estavam senhoras e crianças. No hotel, uma das granadas atingiu o telhado, perfurando-o e atingindo um apartamento vazio que teve uma de suas camas estraçalhadas. Vários hóspedes imediatamente, com o estrondo, vieram para os corredores, com muitos pensando que o elevador houvesse desabado. Um chegou a dizer: foi um estrondo tão grande que parecia que o mundo ia acabar!
Foi o vento:
Mais tarde o Comandante Habbema Maia, sob cuja responsabilidade estava a belonave, explicou aos jornalistas que tudo não passou de um incidente "raro". E ajuntou: "Foi o vento que provocou o "desvio das granadas".


1º Fev 2005
O ex-comodoro do Veleiros do Sul Laszlo Bohm estava na festa, e há alguns dias relembrou algumas passagens do evento.

Todo mundo que mandava na cidade estava lá
"Foi a maior festa de aniversário que teve no Veleiros. O navio da Marinha estava ancourado na frente do clube. Deram um show pirotécnico. Todo o almirantado estava no clube. Foi uma demonstração pro Governador, Almirantes, Comandante do IIIº Exército, Arcebispo Dom Vicente Scherer. Todo mundo que mandava na cidade estava lá. Era a festa do Dia dos Marinheiros e Aniversário do Veleiros.

Caía pedaço de ferro pra todos os lados
O tenente que cuidava do navio resolveu dar o tiro. Era uma cápsula de ferro que explodia lá em cima para liberar a luz. O projétil tinha um paraquedas com o pirotécnico. Quando explode lá em cima, libera o paraquedas e libera a lâmpada, iluminando um monte. Caía pedaço de ferro pra todos os lados.
Não era só um. Eram 3 ou 4 tiros.

A noite de Porto Alegre virou dia
Tinha um vento Oeste muito forte, quase Minuano. O guri que foi encarregado de dar o tiro, mirava em direção às ilhas e não contou com o vento.
O jornal disse que a noite de Porto Alegre virou dia.

O Capitão do Porto ligou perguntando se eu sabia
À meia noite o arcebispo, o governador e outros foram pra casa. E nós continuamos a festa. Às 4h eu fui pra casa. No outro dia o Capitão do Porto me ligou perguntando se eu sabia o que tinha acontecido.
Um pedaço caiu no IIIº Exército, outro num hotel, e outro na casa da sogra do Pufal.
O Breno Caldas [jornal Correio do Povo] entrou no circuito pra acalmar os jornais do Rio e São Paulo.
O navio era o Benevente. O Argus era um navio hidrográfico que também estava por lá, mas não participou do show. Estava amarrado onde hoje está o busto do Tamandaré, e nele estavam os marinheiros."

 

O Benevente todo embandeirado, no cais de Porto Alegre

 

O Benevente no final dos anos 50 ou início dos anos 60

 

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Obs.: Não confundir o Navio Patrulha Benevente, ainda em serviço, com o Contratorpedeiro Benevente, já sucateado.
(*)Manchete do jornal "A Notícia", do Rio de Janeiro


Fontes consultadas:
Comandante Laszlo Bohm
Biblioteca do Veleiros do Sul - Agradecimento à bibliotecária Loraine.
Site Navios de Guerra Brasileiros (fotos)


 

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