Velejada
à Praia do Sítio
Danilo
Chagas Ribeiro
Foi um daqueles finais de semana com previsão de chuva em que não choveu. Mais do que desconfiar da previsão, resolvemos encarar a chuva que viesse. Éramos 7 velejadores em 2 veleiros de 32 pés. Para alguns, a missão era pescar. Para outros, era só fazer bagunça. Saímos do Veleiros do Sul pelas 3 da tarde de sábado, 9 de abril de 2005. O destino era a Praia do Sítio, no Parque de Itapuã, quase na foz do Rio Guaíba. É uma bonita praia e bom abrigo. Bem junto à areia da praia, e quase tapadas pela vegetação, estão as ruínas de uma capelinha e de outro prédio, resquícios de uma vila de pescadores. O desembarque nas praias do Parque é proibido. Um
pouco de História Na segunda metade do século passado alemães colecionadores e comerciantes de antiguidades cataram e levaram armas e outros objetos militares da região, inclusive os que estavam dentro do rio, segundo contou uma senhora de idade, moradora ali até a área ser transformada em parque. Novidades e surpresas Ao terminar um contato pelo rádio no canal 11, pendurei o microfone no suporte. Em seguida apareceu o número 16 no display. Foi novidade ver o VHF voltar assim ao canal de chamada, automaticamente. À noite apreciamos a paisagem com a luneta de visão noturna. É um brinquedo e tanto. Tripulante do Feitiço, do Cmte Jorge, tem direito a cama feita e a café servido na mesa pela Imediata Cláudia. São requintes a que um velejador não está acostumado a bordo. Na ida, pouco depois do céu avermelhado que antecedeu o pôr-do-sol, vimos um céu incrível que deixou a paisagem azulada. Não sei o que aconteceu. Suponho que aquelas nuvens filtraram a luz do sol de forma atípia e deu naquilo. Nunca tinha visto igual. Sabe lá o que
seja tomar banho de rio no nascer do sol, e inda ficar faceiro uma coisa
por demais?... Pois eu vi essa também. Foi um final de semana de novidades. A maior delas, entretanto, foi o ronco dos bugios, no amanhecer do domingo. Bugios Selvagem
urbano, eu nunca tinha ouvido aquela roncaria toda. É impressionante.
Estávamos em frente ao Parque de Itapuã, abrigo de uns 600 bugios-ruivos (Alouatta fusca) como o do desenho ao lado. O ronco ecoa pelos morros. Quem não sabe o que é aquele berreiro, deve ficar no mínimo intrigado. O bugio é uma raça ameaçada de extinção. Vive na beira de rios e lagoas e, apesar do baita alarido que faz no mato, não é agressivo. Mas um amigo que quando guri costumava caminhar no mato cheio de bugios, entre a Praia das Pombas e a da Onça, conta que aconteceu dos bichos defecarem nas mãos e jogarem as fezes neles lá embaixo. Dizem os entendidos que o ronco do bugio pode ser ouvido a 2km, e serve para avisar a vizinhança dos limites do território do bando. No encontro de dois bandos, os bugios mostram o poder roncando. E, como algumas pessoas pensam que seja também entre nós, ganha quem gritar mais alto. No Rio Grande do Sul, a expressão "Ronco do Bugio" denomina também festival de música folclórica, ritmo de dança, e é motivo de várias canções gaudérias, apontando-o como malvado, esperto e matreiro: No lugar onde
pousa bugio A propósito, dizem que tem tripulante que, dormindo a bordo, ronca que nem bugio no mato. De chegar a estremecer as adriça tudo. Deve ser coisa bem feia, mas eu nunca ouvi isso. Companhia A camaradagem entre as tripulações foi o ponto alto da velejada. Principal ingrediente de uma navegada, o convívio a bordo e a contrabordo foi excelente. De deixar o queixo doído de tanto dar risada. E tem gente que prefere conversar com psiquiatra... ;) Muito obrigado Jorge, Cláudia, Cylon, Beto, Roger e Luiz pela belíssima companhia.
Detalhe da carta
náutica mostrando a Praia do Sítio
Veja o vídeo
do passeio
|
-o-
|
15abr05
- Rodrigo Beheregaray Asterix
Legal a matéria. Um passeio trivial
nem sempre tem uma história trivial pois interessa sempre o brilho dos
olhos de quem a vê. Apenas discordo q o Sítio seja um bom abrigo.
Já encontrei muita gente q tb tem a mesma opinião. Ele tem vários
defeitos (profundidade mais elevada, vários barrancos q podem soltar
a âncora, estar ao lado do canal e sofrer das ondas levantadas pelos navios,
rajadas alucinantes q descem o morro de E e NE e perigo se a âncora garrar
q tem pedras por um lado da baia e baixio - campista - ou canal do outro lado).
Por essas, muitos têm trocado o Sítio pela Praia do Araçá,
q fica ao lado, q alguns males são mais atenuados. Meus centavos...
Abraços! Rodrigo - Asterix