Acidente com o Veleiro Vadyo
Container perdido no mar altera plano de casal de velejadores
Valéria e Geraldo Ormerod

Florida, Fort Pierce, 22 de maio de 2004
Relato do Acidente em 17 de maio de 2004 com o Veleiro Vadyo

Aos Amigos do Veleiro Vadyo:

Em 09 deste mês, saímos de St. Maartin, no Caribe, rumo aos Estados Unidos, mais precisamente para Cabo Canaveral, na Florida, seria uma navegada de 10 a 12 dias em condições normais. Durante uma semana acompanhamos, duas vezes por dia, os boletins meteorológico, uma grande janela de tempo bom estava prevista, e assim partimos a tarde de domingo, dia 09 de maio.
No dia 17, as 16:30 horas completamos o oitavo dia de navegação,já havíamos percorrido 1065 milhas náuticas, do total de 1200 previstas, estávamos contando chegar depois do almoço, no dia 18, terça feira, em nosso destino nos USA.

Sofremos um forte impacto, fui projetado para dentro da cabine
A noite estava muito escura, somente céu e mar, já estávamos indo para o décimo dia sem avistar terra, mas tudo corria bem e a favor,velejavamos na Corrente do Gulf Stream, ventos de 18 a 20 nós, nossa velocidade era de cerca 7,5 / 8,0 nós, afastados cerca de 30 milhas da Costa, Valéria descansava na cabine central e eu fazia meu turno, sentado junto a escada de acesso ao interior do barco, de repente, cerca de 23:00 horas, nas coordenadas geográficas 27°20.000 N e 079°49.400 W, sofremos um forte impacto, fui projetado para dentro da cabine, o barco adernou violentamente para boreste, uma grande onda inundou o interior do veleiro, seguidamente adernou para o lado contrário, e novamente uma grande onda voltou a entrar no barco, ao mesmo tempo um grande barulho de coisas quebrando e tudo,mas tudo no interior do veleiro voava de um lado para o outro, no escuro, pois quando navegamos mantemos somente uma pequena luz vermelha acesa no interior da embarcação.

Os armários se quebraram, nossas roupas boiavam na água, era um caos total
Tínhamos acabado de bater em um container, flutuando perdido no mar.
Valéria gritava que estávamos afundando, pedi calma, sai da cabine e não vi nada no escuro que estava a noite, retornei ao interior e verifiquei que Valéria e eu estávamos bem, sem maiores danos físicos, o interior do veleiro estava todo destruído, os mantimentos espalhados, garrafas quebradas, os armários se quebraram, nossas roupas boiavam na água, era um caos total, avaliei a situação, vi a proa semi destruída e o convés aberto na junção com o costado, o enrolador de genoa quebrado, dois stais de bombordo soltos, mas o barco não estava fazendo água, a água do interior era proveniente das ondas que tinham embarcado.

Não poderíamos entrar em pânico
Solicitei a Valéria para soltar um "may day" pelo rádio VHF, no Canal 16, para tentar pedir socorro e fui cuidar de enrolar, manualmente, a genoa e baixar a vela grande, estávamos rizados, como sempre fazemos durante a noite, e com o motor ligado somente para dar carga nas baterias, pois com as luzes de navegação e geladeira ligados se gasta muita energia.
Transferi o stai volante de popa para o bombordo, garantindo assim que o mastro não quebrasse e caísse, o que seria um problema maior.

Pedi a Valéria para se controlar, não poderíamos entrar em pânico, aos poucos fomos conseguindo manter a calma, eu estava muito apreensivo, mas ao mesmo tempo raciocinando e tomando decisões, o que nos permitiu tomar todas as providências cabíveis e necessárias nesta hora.

A US Cost Guard solicitava nossa posição a cada 10 minutos
Valéria tentou, também pedir socorro pelo rádio SSB, mas as ondas molharam o painel elétrico, que começou a dar curto circuito, algumas luzes não mais acendiam e o rádio VHF chegou a dar problema.
Neste ínterim, no rádio VHF no canal 16, fomos atendidos por PalmBeach e narramos nossa emergência e posição, logo fomos contatados pela US Cost Guard de Miami, que acionou a US Cost Guard de Fort Pierce que passou a nos acompanhar e solicitando a cada 10 minutos nossa posição, mandou que seguíssemos para a Costa, em direção ao Inlet Fort Pierce e que estavam vindo em nosso socorro.

Estavam nos vendo e nos tinham no radar
Preparamos a nova rota de emergência no computador e gravamos nos três GPS de bordo.
A partir daí nos preparamos para o pior, um naufrágio era eminente, estávamos com coletes salva vidas, aprontei a balsa de abandono, reforcei o saco de abandono com mais comida e água, coloquei mais sinalizadores também, separei nossos documentos pessoais e do barco, dinheiro, tudo no cockpit pronto para abandonar o veleiro, no caso de um naufrágio.
Cerca de 01:30 avistei luzes de uma embarcação vindo em nossa direção, era a US Cost Guard, acionei dois sinalizadores de emergência, logo eles nos responderam pelo rádio que estavam nos vendo e nos tinham no radar.

Os Patrulheiros vieram a bordo e nos desejaram boa sorte
Chegaram próximo ao veleiro, iluminaram todo o barco nos circundando e perguntaram o que eu queria fazer, disse que queria tentar salva o barco, eles ficaram com receio de que pudéssemos naufragar e resolveram nos escoltar até estarmos em segurança, no interior do Inlet, na Intercostal Waterway.

O mar estava bem calmo, com uma velocidade de três nós, fomos navegando até chegar em águas protegidas, cerca das 05:30 do dia 18 terça feira.
Os Patrulheiros da US Cost Guard vieram a bordo, fizeram um boletim de atendimento e nos desejaram boa sorte.

As 21:00 horas vieram nos buscar com um grande barco inflável
As marinas estavam fechadas, ficamos ancorados em uma pequena enseada aguardando.
Na manhã de terça-feira, dia 18 percorremos diversas marinas, mas com o calado do nosso veleiro não era possível entrar, a região é muito rasa, somente lanchas tem acesso. Finalmente, depois do almoço encontramos uma marina, na qual o Gerente acreditava que poderia nos receber, eram 15:00 quando tentamos, mas encalhamos três vezes, desistimos e combinamos que à noite na maré alta voltaríamos a tentar.

As 21:00 horas o dono e o gerente vieram nos buscar com um grande barco inflável, felizmente conseguimos entrar, mas encalhamos na entrada da vaga, juntaram então um grupo de velejadores, com botes de borracha e cabos, para nos auxiliar e assim conseguimos chegar na vaga, estávamos seguros e protegidos!

Quando o pessoal viu os estragos e o interior do veleiro, quase que inabitável, queriam nos levar para um hotel, mas não aceitamos.
Todos na marina têm sido de uma solidariedade muito grande, inclusive um senhor, Roy, nos ofereceu seu iate, preparou uma suíte com ar condicionado e tv para podermos dormir melhor, o gerente Sr Mike e sua esposa, Jennifer, são muito amigos, bem como o dono da marina Sr. Jay.

Não havia Seguro, pois não fizeram a vistoria
O grande problema que surgiu, após o acidente foi quando nosso filho Daniel e o Corretor foram a Seguradora , para registrar a ocorrência, a mesma alegou que não havia Seguro, pois não fizeram a vistoria; disseram que passaram um fax comunicando isto ao Corretor, que por sua vez diz que nada ter recebido, após remeter o cheque com o nosso pagamento da primeira parcela do Seguro.
Um grande desespero está tomando conta de nós; contratamos um perito de uma seguradora local, também velejador, e ele nos disse que o conserto custaria o dobro do valor de um barco semelhante aqui nos Estados Unidos, que ele não se sentiria seguro em navegar em um veleiro que teve este grau de avaria.

Estamos muito chocados e confusos
Por outro lado, no Vadyo estão todas as nossas coisas pessoais,todos os nossos sonhos(esperamos quase nossa vida toda para realizar este sonho); pois a jornada seria de 4 a 6 anos velejando, tudo que temos está a bordo, o que fazer agora???
O mercado americano para coisas usadas é tremendamente baixo, nos seus valores, não temos recursos para comprar um novo veleiro aqui e prosseguir a viagem, teremos que nos desfazer de tudo, vendendo a qualquer preço ou doando, para retornar ao Brasil.

Esta é nossa situação agora, temos recebido muito apoio dos filhos, parentes, velejadores,radioamadores e amigos,também de muitas pessoas que nem conhecemos, mas na realidade somos nós que temos de enfrentar o problema, em uma terra estranha, com outro idioma, outros padrões de vida, além do fato que temos um custo permanecendo na marina.
Estamos muito chocados e confusos, não sabemos como resolveremos todos estes problemas!

Muito obrigado a todos, abraços

Valéria e Geraldo Ormerod

Nosso Telefone: 772-971-6891
E-mail: veleiro_vadyo@terra.com.br
www.veleirovadyo.com
Telefone do Daniel: 41-365-2279 ou 911-96123
E-mail do Daniel: cwbdbo@terra.com.br

Endereço da Marina:
South Bridge Marina
125 Fisherman’s Wharf
Fort Pierce,Florida 34950
USA
Fax 772-465-6321 Office 772-465-6321
www.southbridgemarina.com


Colaboração Giovane Uebel Pereira, Porto Alegre.


[popa] Valéria e Geraldo escreveram ao popa na segunda-feira, dia 30 de agosto, dando uma boa notícia:
Prezado Danilo:
...
Quanto a segurado, o assunto ja esta encerrado, definitivamente, pois a Diretoria do Bradesco tomou conhecimento do assunto, atravez de uma entrevista em uma Radio, ai no Brasil, e prontamente, sem nenhum problema, com muita presteza, e necessario dizer, liquidou o sinistro, nos pagando o montante assegurado, alem do que nao quis ficar com o "salvado", que vendemos aqui na Florida, diminuindo nossos prejuizos, e que nos possibilitou ficarmos, descansando, alguns meses na terra do Tio Sam.
...
Um abraco

Valeria e Geraldo

 

Comentários: info@popa.com.br