O balanço das águas da Lagoa dos Patos
A influência dos ventos no nível
Danilo Chagas Ribeiro

10 Fev 05
Por que a Lagoa dos Patos sofre tanta variação de nível com o regime de ventos?
Como é possível que Tapes e São Lourenço, a apenas 100km de distância, possam ter níveis tão diferentes freqüentemente?

Os ventos influenciam o nível das águas da Lagoa dos Patos, além das chuvas. Represada nas duas extremidades, a Lagoa balança de acordo com os ventos predominantes, normalmente Sudeste e Nordeste.

Gargalos
A lagoa tem sua principal captação de águas ao Norte, através de estreita passagem em Itapuã, onde o Rio Guaíba a alimenta. Apesar da foz do Guaíba parecer larga, o rio tem um gargalo de apenas 300m com profundidade para escoamento em regime considerável. O resto da foz (~4km) é de pouca profundidade.

A cem milhas náuticas* ao Sul do Guaíba, a lagoa é canalizada para o Oceano Atlântico através do Canal da Feitoria. São mais 40 milhas serpenteando em região onde a profundidade é menor que 1 metro em boa parte.

Grandes variações
O nível da Lagoa pode oscilar muito de um dia para o outro.
O comodoro do Iate Clube de São Lourenço, Cmte Rógis Barbosa, informou que das 16h de ontem até as 16h de hoje (10Fev), a Lagoa baixou 60cm pela ação do Rebojo (vento SW). Alguns barcos, como um Bruma 19, ficaram suspensos pelas amarras.
Disse também o Comodoro Rógis que variações desta grandeza são comuns por lá. Comentou ainda ter presenciado variações de até 1 metro em algumas horas. O comodoro falou de fotos de um jeep nas pedras junto à foz do rio, que passam o ano embaixo d'água.

O Comandante Emilio Oppitz, experiente velejador da Lagoa dos Patos, comenta que "quando o nível da Lagoa sobe em Tapes, baixa em S. Lourenço". Segundo Emilio, que ministra cursos de vela em Tapes, Miguel Sanches, Mestre em Geografia, registrou o nível das águas na região por mais de ano. Nestes registros observa-se variações de 40cm em apenas 2 dias.

A velejadora Christina Silveiro, vice-comodora do Clube Náutico Itapuã, diz que o Rio Guaíba sobe cerca de 40cm da noite pro dia junto ao arroio da vila de Itapuã (apenas 6,5mn da Lagoa dos Patos) quando o Sul sopra forte.

Chuvas e Marés


Observe uma linha com ondas: é o Guaíba, depois das chuvas, empurrando água pra Lagoa.

É notável a correnteza, quando da viração, tanto junto ao no Farol de Itapuã (foto ao lado), quanto na Barra de Rio Grande, dependendo do sentido da vazante. O fluxo na foz do Rio Guaíba é influenciado também pelo nível de chuvas em sua bacia. Já o Canal da Feitoria sofre efeito das marés do Atlântico.

Nordestão
Quando o Nordeste sopra, cai o nível das águas na região Norte da lagoa e cresce ao sul, pelo represamento no Canal da Feitoria. Sobe o nível também em São Lourenço, e cai em Tapes. O efeito é alterado em época de chuvas na bacia do Guaíba.

Frentes do Sul
Quando o vento Sudeste sopra, o gargalo se dá em Itapuã, onde as águas da lagoa são represadas (também na L. do Casamento). Cai o nível das águas em S. Lourenço e sobe em Tapes. O Rio Guaíba deixa de desaguar e sobe também. O efeito da maré deve ser associado.

O abaixamento do nível da lagoa pela estiagem na sua bacia de captação faz com que a água do mar avance, salgando e clareando as águas, habitualmente mais escuras. Esta ocorrência propicia a entrada dos camarões vindos do mar, que se procriam na Lagoa. A alegria dos pescadores portanto, ocorre na tristeza dos agricultores.

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(*) Medidas pela região navegável. 1mn ou milha náutica = 1,852km (100mn =~ 180km)
Os gráficos são meramente ilustrativos e mostram a variação
exageradamente.

Colaboraram neste artigo: Cmte Emilio Oppitz, Cmte Geraldo Knippling, Cmte Rógis Barbosa e Engº Hermes Vargas dos Santos.