Fernando de Noronha
Antes que seja tarde
Fernando Maciel

06 Out 2007
Ainda ontem eu falava com alguns amigos sobre a certeza de um futuro incerto para Fernando de Noronha, o paraíso brasileiro que vale cada centavo e cada minuto que gastamos para conhecer.

A primeira vez que visitei o arquipélago foi em 1992. Quinze anos se passaram desde o primeiro encontro com um lugar que não pode ser contado. As fotos também não nos dão a dimensão do paraíso, pois não tem sons nem cheiros. Com a melhor foto tirada de qualquer ponto de Noronha não vamos ter o calor do sol, nem sentir a brisa do mar no rosto. Também não poderemos pisar em suas areias brancas e quentes, tampouco dar um mergulho em um mar que mais parece uma mistura de piscina com aquário, pois dependendo da posição do sol, muitas vezes não vemos a água, e os peixes parecem flutuar no ar.

Noronha tem que ser conhecida pessoalmente. Temos que gravar em nossas retinas toda aquela beleza. Temos que sentir na pele. Temos que nos emocionar, temos que ver e rever, e não podemos nem devemos esquecer que existem duas Noronhas: uma está acima d'água e outra abaixo.

Mergulhe em Noronha. Peixes coloridos de todas as formas e tamanhos, tartarugas, arraias, moréias, lagostas, tubarões, corais de todos os tipos, tudo isto ainda está à nossa espera.

Esta foi minha sexta visita ao arquipélago e ainda tenho coisas a fazer e ver, trilhas que não tive tempo de percorrer, naufrágios em que ainda não mergulhei, montanhas que não subi e gente que não conheci.

Quero em breve retornar, fazer coisas que ainda não fiz, sentir mais uma vez a cumplicidade que começou no primeiro encontro. Em 1992 a Ilha tinha pouco mais de 1200 moradores, não existiam hotéis, apenas pousadas familiares, a água potável era escassa e mal se conseguia tomar um banho. E era frio, a energia elétrica também era um problema. Um gerador mantinha a ilha abastecida e às 22:00h a luz era desligada. Foi um período romântico, também de privações, o problema de abastecimento era muito grande, faltavam materiais para construção, medicamentos, alimentos, assistência médica, só não faltava peixe. Poucos eram os carros que circulavam na Trans-Noronha em seus 7,5 km de extensão, indo do Porto de Santo Antonio à Praia do Sueste.

Em minha segunda passagem pela ilha fiz um amigo, o "Minerva". Na semana passada eu confessava a ele que estava assustado com o que havia visto agora. Muitos carros, motos, ônibus e caminhões. Muitas construções novas, inclusive em áreas que supostamente não seria permitido erguer sequer um bambu.

Pois bem, "Minerva" me segredou que já são 4000 moradores, 2000 veículos e que as autoridades tinham perdido o controle e que agora estavam tentando retomar as rédeas perdidas.

Vi hotéis onde chegam a cobrar diárias de R$ 1.200,00. São vários restaurantes novos. As pousadas e hotéis na sua maioria tem piscinas e aquecimento solar, e todos têm ar condicionado. A água e a energia não são mais problemas. O progresso atravessou o oceano.

Fiquei triste, depois lembrei que Noronha também é BRASIL e também está ao sabor dos desmandos e da incompetência de nossos governantes, que no caso elegem o administrador da Ilha em Pernambuco, sem necessitar morar em Noronha.

Tive a oportunidade de levar minha filha duas vezes à ilha, uma quando ela tinha 09 anos e outra agora aos 11 anos. Nas duas ocasiões percorremos todas as praias e mergulhamos muito. Acho que inconscientemente eu já mostrava a ela algo que em um futuro não muito distante não terá mais a magia nem as formas do paraíso.

Se você puder, vá a Noronha antes que seja tarde.

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