Canoa
Grande, ou Barca de Itapuã
por Aldo Tedesco*, especial para o popa.com.br |
Saiba sobre os veleiros que transportavam os açorianos em Viamão no século XVIII
Viamão,
Hoje
Com mais de 230 mil habitantes distribuídos em 1488 km2, é o
maior município da região metropolitana. Possui a maior reserva
ecológica da Grande Porto Alegre - lazer náutico e lazer junto
à natureza, aliando o progresso à preservação
ambiental.
A
fundação de Viamão
Por aqui é que tudo começou, em 1732: Viamão foi primeiro
grande núcleo de povoamento do estado do Rio Grande do Sul - Brasil.
Deu origens a várias cidades, inclusive a capital: Porto Alegre, distante
25 km. Os primeiros colonizadores formam as primeiras estâncias de criação
de gado e cavalo.
A partir de 1752, os imigrantes portugueses vindos das Ilhas dos Açores
e Madeira consolidam a ocupação luso-brasileira do sul.
Itapuã
Estes imigrantes desembarcam às margens da Laguna dos Pato e Lago Guaíba,
numa região que destacava-se das demais pelos seus morros de pedras,
ilhas, baias, praias, matas e campos de criação.
Os graxains, as capivaras, os bugios, as aves exuberantes e muitos outros
exemplares da fauna e da flora, além dos nativos, compunham este cenário
que extasia essa gente desbravadora e sofrida, cheia de sonhos e esperanças.
Os guaranis chamavam o local de ITA - pedra e PUÃ - ponta. ITAPUÃ
= PONTA DE PEDRA.
E entre estes bons portugueses, certamente havia um que entendia de construção
naval, que guardava os segredos da construção de barcos que
seriam largamente utilizados para o desenvolvimento da região. E
é sobre um destes barcos, em especial, que seria chamado de Canoa Grande
ou Barco do Viamão, que vamos falar. Foi um duro golpe para os construtores
de pirogas ...
Com o aumento da navegação, em 1858 foi construído o
Farol de Itapuã para sinalizar os perigos locais na divisão
das águas da Laguna dos Patos e Lago Guaíba.
Foi palco de combates durante a Revolução Farroupilha, pois
os Farrapos construíram fortes nos Morros Itapuã e Fortaleza
e mandavam bala quando os navios imperiais procedentes do Rio de Janeiro queriam
passagem. Alguns barcos estão afundados por ali.
O parque de Itapuã mantém até hoje a sua beleza natural
preservada. Agrupa todos os atrativos naturais e possuiu 5560 hectares.
Canoa Grande
ou Barca do Viamão
Dados técnicos
Construção com quilha, cavername e tabuado completo, dormentes
e vaus. Roda de proa em forma de ariete e cadaste recebendo o gio que, por
sua, forma a popa com almeida.
Tá difícil de entender, né?
Então, vamos lá. Saiba o que são estes termos navais,
antes de prosseguirmos:
keel - Chata, barcaça
traquete do Lat. trinquete
+ It. trinchetto s. m., vela grande do mastro da proa.
velacho de vela s. m., vela do mastro da proa entre o traquete e o
joanete.
joanete s. m., vela superior à gávea;
mastaréu do Fr. ant. mastarel s. m., Náut., designação
genérica de cada um dos mastros suplementares.
cadaste s. m., peça de popa em que assentam as dobradiças
do leme.
gio s. m., peça curva de madeira que entalha no contracadaste
do navio.
vau do Lat. vadu(no pl.)
paus que se cruzam nas gáveas; (no pl.) traves onde assenta a coberta
do navio.
almeida do Ár. al-maida,
mesa s. f., abertura na popa do navio por onde entra a cana do leme;
aríete do Lat. ariete, carneiro s. m., antiga máquina
de guerra constituída por um forte tronco de freixo com uma testa de
ferro ou de bronze a que se dava em geral a forma da cabeça de carneiro.
Constr. Naval. Esporão.
O que é
É uma embarcação fluvial à vela ou à vara
quando o vento não é favorável.
Construção
Com um só mastro colocado verticalmente e quase ao centro com mastaréu,
formando o todo mais comprido do que a embarcação. Duas velas
redondas - traquete e um velacho de muita guinda - são içadas
no mastro. Elas são usadas com vento aberto ou de popa.
Sem o vento ou desfavorável, usam-se varas. Quando elas não
estão sendo utilizadas, permanecem arriadas no convés, no sentido
longitudinal do barco.
Por onde navegava o barco
Nos rios que deságuam na Laguna dos Patos, principalmente na região
de Viamão.
E
aí, veio de onde?
Provavelmente dentro de algum daqueles
baús vieram os planos de construção. E alguém
que conhecia os ossos do ofício - grandes navegadores, grandes descobridores
- encontrou moleza no caminho das águas, já que os ventos eram
abundantes e as coisas por aí é que aconteciam com mais facilidade
e rapidez.
Keel dos ingleses
A Canoa Grande faz lembrar o Keel dos ingleses que navegou por rios e canais
do Yorkshire ou ainda embarcações da Europa do século
XIII.
Construção sem moldes ou modelos
Não eram utilizados desenhos ou moldes. O construtor sabia como construir,
pois tinha tudo registrado na memória. A técnica era transmitida
de geração a geração. Talvez por isso tenha se
perdido nas brumas do tempo.
Você que navega pela região, que esquadrinhou todos os cantinhos
do Guaíba e das Lagoas da região, já viu alguma destas
embarcações por aí?
Fontes:
Revista Mergulhar e Náutica, Museu Naval e Oceanográfico do
Rio de Janeiro (Pesquisa e foto do modelo da embarcação), Fotos:
Prefeitura Municipal de Viamão.
Pesquisa, compilação e texto por Aldo Tedesco. Todos
os direitos reservados.
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(*) Aldo Tedesco foi diretor de indústria de construção
naval, é consultor de empresas e jornalista.
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