Entrevista a um velejador da Clipper 2005
Kan Chuh (Salvador, BA)

Exclusivo para o popa.com.br
26 Out 2005
Nome: CRAUS KARTHE
Idade: 43
Natural: ALEMANHA
Residência: MANILHA, FILIPINAS
Veleiro: CINGAPORE
Data: 25-OUT-2005
Local: SALVADOR-BRAZIL
Trecho: CASCAIS – SALVADOR
Distância: 3.560 MILHAS
Tempo: 20 DIAS

O que levou vc a fazer regata clipper de volta ao mundo?
Participar de uma equipe, velejar o mundo e aprender mais sobre vela. Velejar

Quanto custou uma vaga no beliche de lona num barco de 68 pés ao redor do mundo em 10 meses?
Cerca de R$ 100.000,00 mas vale a pena mesmo. Vamos velejar 36.000 milhas por todos os oceanos, cerca de uma vez e meia a volta ao mundo, visitando 13 paises e velejando competindo contra barcos iguais, velas iguais e todas com tripulações amadoras.

Você já velejava antes de participar da Clipper?
Eu já velejava mas muitos no barco nunca velejaram antes.

Quando você começou a velejar?
Eu velejo desde 1987 e tenho um veleiro sloop de 48 pés.

Qual a diferença entre velejar no seu barco e nestes veleiros de 68 pés da Clipper?
A principal diferença é que a gente precisa de no mínimo 6 pessoas no cockipt para fazer qualquer coisa pois tudo é muito grande e pesado. Tudo é manual, não temos nada elétrico.

Como a tripulação faz para lidar com enjôos?
Quando a gente saiu da Inglaterra, pegamos uma mar muito picado e a metade da tripulação, 7 pessoas, ficaram enjoados mas após 3 a 4 dias, tudo passou e todos ficaram muito bem.

Vocês velejaram muito com balão?
No trecho para salvador tivemos duas semanas com balão em cima e uma semana com velas brancas. Tivemos um trecho muito bom de 7 dias direto de balão sem dar jaibe.

Você está no barco SINGAPURA, a maioria da tripulação são de lá?
Sim, a maioria são asiáticos. Eu sou alemão, mas sou radicado nas Filipinas mas temos alguns tripulantes Ingleses.

Assim é muito interessante pois como cada barco representa uma cidade, acaba sendo uma disputa de tripulantes de diferentes cidades?
Sim, é isso mesmo.

Quem faz a tática no barco já que só tem o Skipper e o restante dos tripulantes são amadores?
A tática é feita pelo Skipper e pelo Líder do Turno. Temos dois turnos e eu sou um deles. A gente faz basicamente o estudo da rota baseado nas previsões climáticas, escolhas das velas a usar, organização das manobras e etc.

Como os barcos são iguais, a vida a bordo é muito intensa com a disputa?
Mais ou menos, pois na saida ficamos 2 dias com outro barco no horizonte, mas depois ficamos 18 dias sem ver ninguém e um dia antes da chegada encontramos um barco 16 milhas na frente e chegamos apenas uma milha atrás na linha da chegada.

Como é o sistema de turnos no barco?
Somos 14 tripulantes e fazemos dois turnos de 7 pessoas. De dia são turnos de 6 horas e a noite são turnos de 4 horas (19-23, 23-03, 03-07). No horário de descanso a gente cozinha, se alimenta e descansa.

Como é a alimentação a bordo?
Como estou num barco asiático, tem muita comida asiática como macarrão. Mas como viemos da Inglaterra, e lá se abasteceu com muita carne. Eu prefiro mais uma alimentação vegetariana.

Quantas velas vocês tem a bordo?
Temos 3 balões, 3 genoas, 2 staysail e uma mestra. Na configuração máxima, acho que chegamos a 500 metros quadrados. O balão tem aproximadamente 350 metros quadrados e a mestra tem 140. As forças no barco são muito grandes e os trimers tem que tomar muito cuidado.

Agora que vocês estão indo para o cabo da Boa Esperança onde os ventos são muito fortes, qual a expectativa de vocês?
Até agora a velocidade máxima foi de 13,8 nós, mas acho que o barco é capaz de fazer 20 nós. Temos balão para até 35 nós de vento.

O que vocês gostou mais da regata?
Eu gostei mais de velejar a noite com as estrelas lá em cima.

Você já esteve no Brasil antes?
Já estive varias vezes na Argentina mas gostei muito do Brasil e vou voltar aqui.

O que você não gostou da regata?
Não gostei do calor que faz dentro do barco pois os mesmos tem poucas gaiutas e com o barco molhando a gente não quer a agua entrando dentro do barco. Nos tropicos é muito quente e a gente não consegue nem dormir.

Como é o barulho dentro do barco velejando? Qual a maior onda encontrada?
Quando a gente está orçando, não é possível dormir na proa do barco pois você voa 20 cm na hora que o barco bate nas ondas. É uma coisa incrível. A maior onda tinha uns 3 metros, nada assustador.

Vamos falar um pouco da tripulação, de coisas engraçadas que ocorreu na regata.
Entre Canárias e Cabo Verde tinha muitos peixes voadores e em uma noite encontramos 25 deles dentro do cockpit. Olhe que o nosso costado é muito alto.

Vocês quebraram algo no barco?
A gente não quebrou mas um outro barco quebrou o estai de proa e ai todos os barcos trocaram as ferragens de proa.

Qual a diferença entre o seu 48 pés e este 68 pés?
O meu barco tem um V profundo na proa então é mais macio nas ondas. Este barco tem a proa plana então bate muito no contravento mas é ótimo na popa.

O que você teria para dizer para os velejadores brasileiros?
Eu gostaria de convidar as pessoas para virem velejar na Ásia pois temos locais muito bonitos, ventos frescos, clima otimo e estamos quase na mesma latitude. Tailândia, Philipinas e Vietnan são muito lindos. A comida é ótima e os preços são acessíveis.

Eu tenho a maior vontade de conhecer a baia de Halong Bay no vietnam.
Eu já estive lá. È lindíssimo com os rochedos verticais cheia de verde saindo da água.

E a pirataria?
Tem um pouco de pirataria em navios cargueiro, mas nada em iates de cruzeiro.

Qual a sua expectativa para esta perna até a África?
Temos umas das menores tripulações e a tripulação de asiáticos são de estatura menores portanto temos uma desvantagem na força física da tripulação mas velejamos bem, velejamos sempre concentrados e podemos conseguir bons resultados com inteligência.

Posição dos barcos em 26-out-05

 

 

 

Fotos do Cingapore

 

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