Erros
de Navegação - um passado quase esquecido
Perdidos no fog
por
Augusto Chagas
06 Fev 2004
Um erro de navegação
dentro de um fog trouxe a maior perda da Esquadra Americana em tempo
de paz.
A cerração sempre foi um perigo para a navegação
apesar de hoje ter sido bastante diminuído depois da introdução
do GPS.
Em 1923 os auxílios de rádio à navegação
estavam na sua infância e uma errônea interpretação
de uma informação provida por um rádio farol na
costa da Califórnia trouxe a maior perda em tempo de paz da Marinha
Americana.
Uma flotilha de 11 dos mais modernos
destróieres e 7 outros navios de guerra estavam em manobras em
9 de setembro de 1923.
O oficial de navegação do destróier líder
o USS Delphy era o catedrático de navegação da
Academia Naval. Sua palavra, e portanto, suas decisões, era lei.
O dia todo apresentara dificuldades
por causa do nevoeiro, tornando impossível qualquer visada do
sol. Ás 1800 num radiogoniômetro conseguiram um alinhamento
de uma estação da costa. Este alinhamento confirmou parte
da navegação estimada do oficial encarregado o que foi
o seu primeiro erro. Ele deveria estar em algum ponto daquela linha
mas ele não poderia saber com precisão onde.
O curso tinha sido mais ou menos
sul todo o dia, quase paralelo à costa mas ele na tinha como
saber exatamente qual a distância que a esquadra navegava.
Todas as indicações do dia foram ruins. O SS Cuba que
tinha encalhado na Ilha de São Miguel tinha provocado grande
trafico de rádio de modo que não foi possível obter
uma confirmação da posição de estações
em terra.
Três horas depois de receber o sinal do rádio farol o oficial
de navegação, sem se dar conta que estava 30 milhas fora
do curso deu ordem para a esquadra guinar para bombordo e seguir no
rumo de 095° para dentro de uma densa cerração.
Minutos
após, o Delphy a 20 nós raspou o fundo e adernou num promontório
rochoso que avançava no Pacífico 75 milhas ao Norte de
Santa Bárbara logo ao norte do Cabo Arguello. Não havia
tempo para os outros barcos alterarem o curso. O USS P.Lee viu a espuma
branca levantada pelos hélices do líder agora em ré,
virou para a esquerda e subiu também nas rochas.
O USS Young bateu violentamente
nas rochas e rasgou a maior parte de seu costado de bombordo antes de
afundar; ele foi logo seguido pelo USS Nicholas.
Então a próxima coluna de três navios o USS Woodhury,
o USS Chauncey e o USS Fuller, chegaram, também indo muito rápido
para evitar o desastre. Ao todo sete destróieres construídos
entre 1918 e 1920 pelas últimas especificações
da Marinha Americana, custando milhões de dólares naufragaram
sem possibilidade da salvação nas ondas violentas.
Somente a terceira coluna na qual
o navegador líder teve um pressentimento forte o suficiente para
desobedecer a ordem de guinar para bombordo evitou maior desastre.
O notável deste acontecimento
foi que só morreram 22 marinheiros.
Poderiam ter morrido maior número se não fosse o heroísmo
do Engenheiro Chefe Erekenburg do Delphy que duas vezes atravessou a
rebentação, no escuro, com cabos para salvamento. Foi
ajudado por uma mulher moradora da costa que tomou conta dos cabos salva-vidas
e ajudou a puxar muitos sobreviventes para terra.
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O Comandante Augusto
Chagas é velejador, especialista em navegação estimada
e digital
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