Veleiro Europa zarpa de Salvador
48 tripulantes cooperativos embarcam para Ushuaia
Átila Böhm

06 Nov 2005
Está zarpando hoje para Ushuaia o navio-veleiro Europa. Construído em 1911 na cidade de Hamburg, Alemanha, para ser um navio-farol holandês, a embarcação de aço tem três mastros, 55,60m de comprimento e 303 toneladas. O navio foi convertido em um bark e hoje transporta passageiros. Aportou em Salvador no dia 29/10/2005, praticamente um ano após a última escala lá (26/10/2004).

Pagando para trabalhar
Em 1994 o navio passou por uma extensa reforma, e desde então trabalha como navio-escola, com o objetivo de ensinar a tradição de velejar. Conta com uma tripulação fixa de 14 tripulantes profissionais e tem capacidade para levar 48 tripulantes cooperativos que pagam cerca de $4,500 euros pelo período de 3 semanas a bordo, na rota Ushuaia / Península Antártica / Ushuaia. Os tripulantes cooperativos participam da faina de convés e de cabine.

Parecia ataque de piratas
Há um ano atrás fui apanhar minha filha na escola no Bairro do Rio Vermelho de onde é possível avistar o horizonte sobre o mar. Vejo um navio à vela no rumo do Farol da Barra, vindo do Norte. Isto é estranho porque nunca vi um navio chegar por este rumo, entre o Banco de Santo Antonio e a praia. Isto é comum aos barcos pequenos e conhecedores do local. Apanhei a Erica e fomos ver o navio contornar o Farol da Barra. Tive a sensação de estar presenciando um ataque de piratas holandeses.

O Bark Europa com todas as velas passou a poucos metros da ponta onde se localiza o Farol da Barra e continuou velejando para dentro da Baía de Todos os Santos, contornando as praias da cidade. Largou a âncora em frente ao Iate Clube da Bahia, aparentemente sem ligar os motores. Minha curiosidade foi tamanha que no outro dia fui até o Yate Clube e pedi uma entrevista com o capitão.

Clássico x tecnologia
O Capitão Robert Vos, 56, holandês, assume o comando em Salvador para fazer a 3ª viagem com o Europa para a Península Antártica. Com muita simpatia ele me leva para todos os cantos do navio. Na sala de comando, uma cristaleira sobre o deck de popa, pode-se ver todo o convés do navio. No comando, o clássico mistura-se ao que há de mais moderno. Um painel de madeira maciça abriga os aparelhos eletrônicos de ultima geração. O comando do leme é hidráulico acionado por um joystick, radar, gps, laptop, e toda a parafernália da navegação moderna.
A sala de navegação tem o mesmo estilo, atmosfera clássica com os aparelhos ultramodernos bem disfarçados, Internet e weather fax (aparelho que recebe informações meteorológicas).
A cozinha moderna, em aço inox, tem capacidade para atender aos mais de 50 clientes/tripulantes diários. Capitão Robert me explica que diariamente os tripulantes cooperativos produzem o pão do café da manhã.

Chope a bordo
Na cabine principal onde está a cozinha, sala de refeições e também o bar, detalhes em madeira e corrimão de latão polido, luminárias clássicas e uma máquina de servir chope. Sentamos junto ao balcão do bar e enquanto ele me relata histórias do navio prepara dois chopes em copos com o logotipo do Europa.
Tomamos a segunda rodada de Chopp no convés, com toda a tripulação embaixo das vergas. Centenas de metros de cabos cruzando os mastros. Todos com muita descontração prestavam a atenção na nossa conversa. Até o cachorro da raça Labrador prestava a atenção na entrevista. A atmosfera era de que estávamos fazendo negócios em um navio mercante do fim do século 19.

Faina e tradição marinheira
Os 48 Tripulantes cooperativos dividem os 12 camarotes. Cada camarote tem de 2 a 6 camas, toalete com chuveiro e uma pequena escrivaninha. Os tripulantes cooperativos ajudam e aprendem a trabalhar nas velas e manutenção do navio. Segundo o Capitão não houve nenhum acidente a bordo do Europa desde o inicio das operações em 1994. “Fazemos treinamentos de rotina em combate a incêndio, homem ao mar e primeiros socorros. Temos especial atenção em mau tempo, todos devem usar cintos de segurança. São instaladas redes ao redor da murada para impedir o homem ao mar”, diz o capitão.

No convés de popa temos a roda de leme, clássica, apesar de o navio possuir um potente piloto automático. “Usamos as mãos e a bússola tradicional em 90% do tempo, estamos preocupados em transmitir o máximo da tradição marinheira aos nossos tripulantes cooperativos. Acreditamos que ao assumir o controle do barco, nossos alunos conseguiram agregar todos os valores que a vela oceânica proporciona”, afirma Robert Vos.

Sem limites e sem experiência
Ao pôr-do-sol estamos no convés principal. Dirijo-me ao Capitão Klaas Gaastra, 53, que será substituído, para elogiar a manobra de chegada. “Fazemos isto porque gostamos. Além do que dá muito mais trabalho passar por fora do Banco de Santo Antonio”, diz Gaastra.

O Europa navega à velocidade de 13 milhas por hora, e pode usar 30 velas simultaneamente. Você não precisa ter alguma experiência para participar dos programas do Europa, a idade também não é problema, conversei com um dos tripulantes cooperativos com 64 anos que embarcou em Halifax no Canadá e desembarca em Ushuaia. Além de totalmente integrado ele estava mito feliz.

O Europa está novamente ancorado em frente ao Iate Clube da Bahia, um ano após o relato acima. É um barco imponente. Infelizmente não tive tempo para visitar o Cmt Robert que levará o Europa até Ushuaia. Fica para a próxima.

Fotos: Divulgação

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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