A autora velejando entre Capão da Canoa e Torres, litoral do RS |
Há três anos velejando, após um afastamento de mais de vinte anos, meu irmão e eu já fomos vítimas dos efeitos danosos dos raios solares. Loucos para voltar a velejar, nos descuidamos e abusamos do sol.
O resultado foi um câncer de pele no meu ombro e uma lesão pré-maligna no meu rosto.
Meu irmão, que não tem o hábito de usar óculos de sol, precisou ser submetido a uma cirurgia de catarata, que se desenvolveu rapidamente desde que voltamos a velejar.
Esta nossa experiência nos mostra que, ao navegar, devemos evitar o excesso de sol. A bordo isto nem sempre é possível. Às vezes, a exposição aos raios solares é inevitável. Nestes casos, é indicado o uso de medidas de proteção, que são simples, mas envolvem disciplina e muita dose de paciência.
Como é do conhecimento de todos, o sol é essencial à existência de vida na Terra. Seus raios nos aquecem, estimulam a produção de vitamina D, necessária à ossificação, e a produção de melanina, pigmento responsável pelo bronzeado da pele, e que a protege dos efeitos danosos do sol, funcionando como um filtro solar. Porém, sol em excesso pode ser prejudicial à nossa saúde.
FISIOLOGIA DA RADIAÇÃO SOLAR
A radiação solar chega à superfície da Terra sob a forma de ondas eletromagnéticas. Estas abrangem um espectro muito amplo, desde 0,001 nm (nanômetro) até ondas de rádio com vários metros de comprimento. A luz visível faz parte deste espectro (380 a 780 nm). Acima de 780nm, situa-se a
radiação infravermelha, e, abaixo de 380nm, a ultravioleta.
Os raios ultravioletas se dividem em três faixas, de acordo com o seu comprimento de onda:
-UVA: de 320 a 380 nm
-UVB: de 280 a 320 nm
-UVC: de 200 a 280 nm
A atmosfera terrestre filtra estas radiações. A camada de ozônio retém os raios UVC e UVB, que seriam letais para a maioria dos seres vivos. Somente chegam à Terra os raios UVA, parte dos UVB, a luz visível e os raios infravermelhos. Recentemente, a camada de ozônio vem sofrendo perdas devido a várias formas de poluição do ar, o que tem aumentado os riscos da radiação ultravioleta, que é a responsável pela maioria dos efeitos danosos da exposição solar, principalmente a UVB.
Índice de UV, cortesia da Climatempo
(link OK em 14 Set 2005)
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ÍNDICE ULTRAVIOLETA
Nos avisos rotineiros de meteorologia, pode ser encontrado, atualmente no Brasil, o índice ultravioleta. Ele indica a incidência diária de radiação ultravioleta em todo o território nacional, que pode variar de acordo com a latitude, mês do ano, hora do dia, altitude, condições atmosféricas, tipo de solo e previsão da camada de ozônio. Sua escala varia de 0 a 15, da seguinte maneira (os limites das faixas podem variar):
-0 a 2: nível mínimo de exposição
-3 a 4: nível baixo de exposição
-5 a 6: nível moderado de exposição
-7 a 9: nível alto de exposição
-10 a 15: nível muito alto de exposição
O índice ultravioleta nos permite ter uma idéia da nossa exposição pessoal e, assim, intensificar nossos cuidados com a radiação solar. Por exemplo, o tempo máximo de exposição ao sol, ao meio dia, sem filtro solar, para pessoas de pele muito sensível, é de 30 minutos para o nível mínimo, 15 a 20 minutos para o nível baixo, 10 a 12 minutos para o nível moderado, 7 a 8,5 minutos para o nível alto e 3,5 a 6 minutos para o nível muito alto. Com filtro solar, este tempo é multiplicado pelo fator de proteção solar do produto.
DANOS CAUSADOS PELO SOL
O sol pode causar vários danos, a curto ou a longo prazo. Dentre os danos agudos, destacam-se a queimadura solar e a insolação. Os danos a longo prazo são conseqüências dos efeitos cumulativos do excesso de sol, que se manifestam ao longo dos anos. QUEIMADURA SOLAR
É uma reação inflamatória aguda que ocorre após exposição solar direta por um período prolongado. Caracteriza-se por vermelhidão da pele, edema, dor local e, nos casos mais graves, formação de bolhas.
As queimaduras solares são geralmente extensas e superficiais (de 1º grau). É comum associar-se a elas certo grau de insolação, o que é mais grave que a própria queimadura.
O tratamento consiste no uso de compressas umedecidas e cremes hidratantes sobre a pele, hidratação via oral abundante e sedativos, se necessário. Nas queimaduras graves, pode ser necessária a hospitalização, com reposição hidroeletrolítica, uso de analgésicos a antibióticos.
INSOLAÇÃO
Ocorre após um período prolongado sob o sol, principalmente com a cabeça desprotegida. Manifesta-se por queimadura da pele e desidratação. Podem ocorrer sintomas como irritabilidade, dor de cabeça, tontura, vertigem, falta de ar, aumento da temperatura corporal, vômitos, mal-estar, coma e até a morte.
O tratamento consiste em tomar muito líquido e banhos frios, além dos cuidados com a queimadura. Nos casos mais graves, é necessária a hospitalização para a reidratação do paciente.
DANOS A LONGO PRAZO
São decorrentes do efeito cumulativo do sol ao longo dos anos. A radiação solar em excesso pode acelerar o envelhecimento da pele, tornando-a fina, seca e com pouca elasticidade, levando à formação de rugas e manchas. Também pode induzir à formação de catarata ocular, causar ou agravar doenças de pele e alterar o sistema imune, predispondo a infecções e lesões pré-malignas e malignas.
Há três tipos de câncer de pele relacionados à exposição solar: carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e o melanoma. Destes, este último é o mais grave, sendo a principal doença fatal originada na pele. Está relacionado a exposições agudas ao sol, talvez por um dano ao DNA. Pode aparecer repentinamente ou se originar de sinais ou manchas pré-existentes.
MEDIDAS DE PROTEÇÃO À RADIAÇÃO SOLAR
Para evitar os danos causados pelo sol, é importante que as pessoas se protejam, principalmente as de pele clara, que têm pouca proteção natural (pele mais fina e uma quantidade menor de melanina). Uma das medidas é evitar o sol nos horários próximos ao meio dia, quando a radiação solar é mais intensa. Neste período, os raios solares atingem perpendicularmente a superfície da Terra, atravessando uma fatia de atmosfera menos espessa.
O uso de óculos de sol que absorvam UVA e UVB, chapéus e roupas de malha fechada, de preferência coloridas, são outros cuidados importantes. Roupas escuras, especialmente pretas, são excelentes, mas causam muito desconforto, pois absorvem luz e radiação infravermelha, provocando calor e sudorese. O uso regular de filtros solares é outra medida recomendada. Eles podem ser físicos ou químicos.
Os filtros solares físicos refletem e dispersam os raios solares. São misturas minerais e os mais usados são o óxido de zinco, dióxido de titânio, óxido de ferro e óxido de magnésio. São protetores de amplo espectro; porém, com pouca aceitação cosmética, pois são espessos e deixam a pele esbranquiçada.
Os filtros solares químicos são moléculas sintéticas que absorvem as radiações solares, principalmente a UVB. São usados o ácido para-aminobenzóico (PABA) e seus derivados, as benzofenonas, os cinamatos, etc.
Os bloqueadores solares de alta proteção geralmente contém uma associação de filtros químicos com protetores físicos, atingindo, assim, um alto valor de fator de proteção solar (FPS).
COMO APLICAR UM PROTETOR SOLAR
- Aplicar, de maneira uniforme, uma boa quantidade do produto sobre todas as áreas expostas ao sol, evitando as próximas aos olhos, 15 a 30 minutos antes da exposição solar.
- Repetir a aplicação a cada 2 a 3 horas ou após banhos ou transpiração excessiva.
- Escolher o fator de proteção adequado para o tipo de pele. Recomenda-se FPS 15 ou maior.
- Adaptar a proteção solar às condições locais de altitude e reflexão do sol. Superfícies brancas, como o convés do barcos, refletem 80% dos raios solares. A água reflete 5% e a areia, 20%. Alguns filtros solares podem provocar reações alérgicas. Nestes casos, seu uso deve ser imediatamente interrompido.
Pessoas com acne devem ter o cuidado de não usar filtros com veículos oleosos, que pioram o processo. Para estas, são indicados veículos em gel ou base siliconada. Atenção: O uso de filtros solares não significa proteção 100% eficaz . Eles não impedem totalmente a passagem da radiação solar através da pele. Mesmo usando protetores solares, devemos evitar, o máximo possível, a exposição excessiva ao sol. BRONZEADO SEGURO
Pegar um sol pode ser agradável, desde que seja com moderação, aos poucos, evitando os horários próximos ao meio dia. Porém, é importante lembrar que o bronzeado não é sinal de saúde. É uma proteção da pele, que já foi agredida, contra os raios solares.
Antes de sair para navegar, não podemos nos esquecer do equipamento para um bronzeado seguro: óculos de sol, chapéu, roupas adequadas e muito, muito filtro solar.
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22 Set 2005
André Barth Victor VDS
Claudica, minha mana e CAPITÃ, (que foto linda a tua do início hem!) teu artigo ficou maravilhoso, as dicas que tu destes são muito importantes para os navegadores. Depois de 25 anos sem velejar, o Manota, o Feio, o Rímoli, o Dr.Vidal, o Meretíssimo Mêre, O Nieto, o Joel, o meu grande Colega de Engenharia da UFGRS o Zé Mecânico, e outros tantos companheiros de passadas velejadas, que não teria espaço para nomeá-los, encheriam estes comentários, sabem disto, mas graças a Deus nós começamos a velejar novamente. Foi uma felicidade geral. Porém algum tempo depois, uns seis meses mais ou menos depois, meus olhos comecaram a ficar com com umas nuvens estrannhas. Os Oftalmos, à princípio, não sabiam o que era. Por fim descobrimos que o meu cristalino "queimou" pela ação dos UVA. Eu nunca consegui me adaptar com óculos de sol. Já operei o olho direito, agora vou ter que operar o esquerdo, porque já não estou enxergando mais nada com ele. A falta da camada de ozônio é a responsavel por isto, segundo os médicos. Assim, velejadores, usem óculos de sol, camisetas de mangas compridas, bermudas compridas, e protetores solares (que eu odeio usar), mas temos que usar e seguir as orientações médicas, porque eles, médicos, sabem o que é importante para nós. É essa a minha dica. E vamos velejar e curtir essas nossas lindas águas do Brasil, Guaíba, Lagoa e nosso maaaravilhoso MAR do litoral.
André Barth, mano da Capitâ Claudia |