O foco e o podium
Do Clube dos Jangadeiros (Porto Alegre) para o mundo
Fábio Dutra Pillar e Silva, campeão mundial de Laser Radial 2006

Foco te coloca no topo do podium”. Foi a partir dessa frase (usada por Robert Scheidt) que nasceu a motivação para enfrentar as dificuldades da classe Laser Radial. Mesmo sabendo que a genética não me presenteou com um porte físico favorável à classe, resolvi “lutar contra a natureza” e me dedicar ao barco que me dava mais prazer ao velejar.

Aos 15 anos de idade me deparei com a difícil tarefa de escolher uma nova classe após abandonar o berço da vela – a classe Optimist. Experimentei inúmeras opções mas as planadas e a praticidade das velejadas de Laser me seduziram. Com 56 Kg (longe dos 72 ideais pra classe) comecei a treinar diariamente nas águas do Guaíba. Cansei de ouvir “piadinhas” dos amigos dizendo que eu nunca ia conseguir resultados expressivos nessa nova classe: “larga esse barco, Cachopa, vai velejar de Snipe”...

Por alguns instantes me contentei em ser campeão de canastra ou sinuca, ainda mais levando em consideração os resultados do Optimist, nada expressivos a nível nacional. Mas a frase do Robert ecoava na minha cabeça cada vez que eu a encostava no travesseiro para dormir.

Foram 5 anos de treinamento intensivo na água e na academia a fim de compensar a falta de peso e foi no começo de 2006 que conquistei o meu primeiro título realmente importante na classe: o de Campeão Brasileiro. A partir daí veio a confiança necessária para seguir em frente e expandir meus horizontes:

“Julho de 2006, Los Angeles, Califórnia. Campeonato mundial de Laser Radial”
Um primeiro dia de regatas razoável. Um 16o e um 12o lugares me colocavam em 12o na súmula – uma posição pior do que eu havia terminado o mundial do ano passado. A raia era bem complicada, o vento rondava bastante e o contravento estava cheio de “buracos”.

No segundo dia já me senti mais à vontade nas águas de Los Angeles. Consegui fazer boas largadas e conquistei um 5o e um 1o lugares subindo surpreendentemente para a liderança da competição. O sonho de ser campeão do mundo parecia possível...

Já no terceiro dia consegui manter a regularidade tirando 4o e 9o lugares. Essa média de 4 regatas entre os 10 primeiros me garantiam a vice-liderança do campeonato atrás apenas do holandês Steven Le Fevre (campeão europeu). A confiança estava em alta.

Quarto dia: ventos fortes e muitas algas na água. Foram duas regatas com “obstáculos” e tive a infelicidade de pegar lixo no leme e na bolina nas duas regatas do dia. Tirei 30o e 27o nas duas regatas do dia e despenquei para a quinta colocação na classificação geral. Sinceramente senti a chance do titulo afundar junto às algas que trancaram no meu barco...

No quinto dia de regatas as coisas voltaram a dar certo. Com um 2o e um 4o lugares voltei à vice-colocação 5 pontos atrás do líder. A pressão estava toda ao lado dele, uma equipe grande e profissional estava por trás das boas colocações do holandês. Fui dormir contente com o vice-campeonato e preocupado com as táticas de marcação que o holandês poderia imprimir pra cima de mim.

Sexto e último dia: Um dia lindo de sol! Fui pra raia contagiado pelos sentimentos de euforia e confiança. Quando na ultima perna de popa da primeira regata do dia fiz a ultrapassagem mais importante da minha vida. Saí de 3o para 1o, ultrapassando o holandês que era meu adversário direto ao titulo. Munido de confiança reforçada e contando ainda com a falta de segurança que essa ultrapassagem gerou no Steven, larguei a ultima regata precisando botar 3 barcos entre eu e ele.

Na 1a montagem de bóia ele contornou em 6o e eu em 7o e, talvez por afobação ou nervosismo, eu o vi bater na marca. Após cumprir a penalidade de 360 graus ele ficou dois barcos atrás de mim, posição que ainda lhe garantia o título. A regata mais tensa da minha vida! Felizmente o cara estava mais nervoso que eu! Cometeu erros bobos e me abandonou no segundo contravento.

Fiz uma regata brilhante e consegui acabar a perna em 1o lugar. A essas alturas o Steven estava em 10o lugar, combinação suficiente para eu conquistar o titulo. Entretanto, quando tudo parecia se encaixar, perdi a liderança quase em cima da linha de chegada. Inconformado com a situação e com o risco de perder o titulo só percebi que tinha lixo na bolina após cruzar a linha em 2o lugar.

E foi assim meu ultimo minuto de campeonato: alinhado na linha de chegada, torcendo para que o holandês chegasse atrás do 6o lugar. Dito e feito! Steven acabou em 10o e o titulo estava de novo no Brasil! E melhor, nas minhas mãos!
Muita comemoração, orgulho para a família e para os amigos do Jangadeiros. E de quebra um sentimento de satisfação indescritível! Através de muita força, dedicação e FOCO cheguei ao topo da minha carreira: SOU O MELHOR DO MUNDO.

Fábio Dutra Pillar e Silva

Fábio no podium de Los Angeles

 

Punta del Este

 

 

Pau de Oeste no Gauíba

 

 

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