A vitória do Habeas Corpus
na RGS do XIIº Circuito Conesul

por Danilo Chagas Ribeiro


Set/2003

Discursos: todo marinheiro dispensa de boa vontade

O clima na largada da regata de longo percurso do XIIº Circuito Conesul estava bem festivo. Várias tripulações apresentaram-se com alegorias em frente à Marina Pública alegrando o evento esportivo mais importante do esporte à vela do sul do país.

Aproximadamente uma centena de embarcações, na maioria veleiros, estavam no local. Alguns lancheiros foram prestigiar a cerimônia. Veleiros grandes e veleiros pequenos, alguns repletos de gente, outros apenas com a tripulação já fardada para a regata.

O Veleiros do Sul atracou flutuadores para que os tripulantes de alguns barcos pudessem neles desembarcar. A cerimônia de descerramento da placa denominando a Marina Municipal Comodoro Edmundo Soares na Ponta do Gasômetro teve discursos de autoridades. E é bom lembrar que discurso é coisa que todo marinheiro dispensa de boa vontade*. Uma banda tocou o Hino Nacional. Um pouco antes houve um cocktail e outros procedimentos típicos de cerimônias públicas.

Tinha que ter um alemão no meio...

Habeas Corpus, o Fast 303 do Comandante Astélio Bloise dos Santos, saiu-se muito bem nas regatas da primeira fase do Circuito tendo obtido dois primeiros lugares e um terceiro (saiba mais sobre a primeira fase). Nesta regata, a mais importante do Circuito, compunham a tripulação Adrion e Adriano, experientes velejadores, filhos do comandante. Além destes, Ana Maria Burgos, Luis Alberto Landvoigt, recentemente convertido a velejador, e eu. Tripulação do Veleiros do Sul sem um sobrenome alemão, não dá pra acreditar. Ainda bem que o Luis "nos salvou".

Rating: quando o primeiro a chegar nem sempre é o vencedor

Nas regatas de monotipos disputam barcos idênticos e o primeiro a chegar é o campeão. Nas classes IMS e RGS chegar primeiro não significa ganhar a regata: os barcos são medidos em função de várias características, desde o comprimento até a qualidade das velas. Os mais velozes "pagam" tempo aos outros. O Virtù, por exemplo, estava pagando 4,5 minutos por hora de regata para o Habeas Corpus. Significa que, se a regata durasse apenas uma hora, o Virtù precisaria chegar com mais de 4,5 min de vantagem para vencer.

Quando nos aproximávamos do Farol de Itapuã o comandante Astélio determinou que marcássemos o horário em que o Virtù, à nossa frente, contornasse a marca de retorno na Lagoa dos Patos. Assim, ao passarmos por aquele mesmo ponto, saberíamos nossa situação em relação ao único adversário que poderia ainda nos incomodar.

Ali ficamos sabendo da nossa enorme vantagem sobre o Virtù. Feitas as contas, nossa passagem pelo farolete 88, na Lagoa dos Patos, foi uma festa, com direito a whisky. A vitória pareceu-nos assegurada, como de fato ocorreu.

Proeiros - exercício físico em surtos

O cockpit é o lugar mais improvável para um proeiro. O lugar dele é no convés, levando vento e água no rosto, e sempre mal acomodado. Como o nome já diz, o proeiro precisa dar conta das atividades na proa de um barco, seja içando um balão, seja arrumando a saia da genoa.

Quando o barco oscila longitudinalmente (caturra), o proeiro precisa ser equilibrista. O pior cenário para o proeiro certamente é a troca de genoa na caturrada com onda e vento fortes, no inverno, quando encharca-se até a alma.
O posto de proeiro é um bom início para a formação do velejador. Há muito mais a dizer sobre proeiros. Veja aqui.

Um barco como o Habeas Corpus leva vários proeiros (são a maioria, do total de 7 tripulantes). Quando navegando contra o vento, o barco descreve zigue-zagues (veja o percurso no final desta página). Chama-se a isto bordejar, ou navegar no contravento. É quando o veleiro anda adernado, isto é, inclinado lateralmente, como na foto ao lado.

Os veleiros são desenhados para navegar nivelados, sem adernar. Para manter o barco nivelado, e assim otimizar sua velocidade, os proeiros fazem borda.

 

São verdadeiros contrapesos móveis, utilizados para equilibrar o barco no contravento. Isso significa sentar-se bem na borda, junto à boca maior, o lugar mais largo do barco. Esta é a função dos proeiros entre uma e outra virada de bordo.

O que fazem os proeiros na cambada, ou seja, quando o zigue passa a ser zague?

Correm para a borda oposta o mais rápido possível. Passam portanto um bom tempo parados e, de repente, precisam agir à toda a velocidade. É exercício físico em surtos.

Na hora de virar de bordo o comandante ou o timoneiro avisam: "Preparar pra cambar!". Os proeiros, sentados lado a lado com as pernas pra fora do barco, começam a encolher as pernas e a se preparar para o bote.
De repente ouve-se o "Foi!". É a hora da correria. O ruído estridente das catracas giradas rapidamente pela escota da genoa caracteriza este momento.

 

"Vamos lá cambada!"


Esta é a operação padrão, mas nem sempre ocorre assim. Às vezes o momento certo da cambada é discutido entre a tripulação. O timoneiro quer cambar e comunica o comandante. O comandante pode não concordar e apresenta seus motivos. O timoneiro tem também suas razões e passa a argumentar. O tático emenda seus planos e a discussão está formada. Todos pensam que têm absoluta certeza do que dizem, em função das percepções pessoais, no entanto não podem provar. É preciso ser muito eloqüente e conseguir aliados a bordo. Cada um tentando convencer os demais. O tom de voz não é ameno: se um vacilar na argumentação, a decisão do outro prevalecerá. A vitória pode estar em jogo nesta decisão. Há muita tensão a bordo. Quem já perdeu regata por meio barco sabe bem do que estamos falando.

Parece que a coisa é resolvida no grito. Não há tempo nem clima para frescuras. É assim na grande maioria das tripulações de regata. Melhor assim do que ter um comandante autoritário que decide à revelia da tripulação. A brincadeira perderia a graça.



O tempo vai passando e o bochincho se armando. Quando o timoneiro consegue o aval do camandante para cambar, o faz com sensação de tremendo atraso. O "Preparar para cambar" torna-se simplesmente "Cambar!" e a confusão está armada. É o caos para os proeiros. O barco vai cambando e os proeiros, desprevenidos, arrancam em disparada, se acotovelando, em direção à outra borda. Veja a cambada no Revanche aí ao lado.

Ressabiados destas cambadas "na marra", os proeiros passam a ficar mais espertos. Estão sempre ligados.

Neste clima de tensão, e já com dificuldade de enxergar a popa do adversário que disparou na nossa frente, o Comandante Astélio, para animar a tripulação, solta um alto e grosso "Vamos lá cambada!". Foi o suficiente para que um de nossos proeiros, marinheiro de primeira viagem, saltasse imediatamente do posto, achando que fosse uma ordem para cambar. Imagine a cena... Foi uma risada geral a bordo, é claro, mas enfim o comandante atingiu seu objetivo, e esta história, vai para o diário de bordo do Habeas Corpus.









O Habeas Corpus chegando à Lagoa dos Patos

Belo visual - um grande troféu desta regata

Na aproximação do Farol de Itapuã, a divisa Guaíba - Lagoa dos Patos, assistimos ao pôr-do-sol. Estava muito bonito. Contornamos o farolete 88, já na Lagoa dos Patos, na penumbra.
O piscar do farol significa muito mais do que a simples demarcação da foz do Guaíba. Enaltece o romantismo da navegação à vela.

A volta ocorreu tranqüila, com o sul pela popa o tempo todo. A noite estava escura e bem estrelada.

Porto Alegre desfilou para nós, de sul a norte. A vista da cidade à noite é espetacular. São muitas luzes, ora brancas, ora amarelas, ora encarreiradas, ora amontoadas. Na outra margem se vê as luzes da cidade de Guaíba, já mais ao norte. A navegação noturna é algo sensacional!

E saiba que um veleiro não tem luzes para iluminar o caminho.
- Mas então como é que se faz para enxergar?
Não se faz.
Só vendo...

Não troque o GPS pelo "sexto sentido"


Com o cair da noite, o comandante distribuiu lanternas aos tripulantes.

Do cotovelo do canal de navegação do Guaíba, ainda em Itapuã e já à noite, rumamos para Oeste da Ilha Chico Manoel, e de lá para a Ponta Grossa, cuja silhueta avistava-se claramente contra as luzes de Porto Alegre. Daí rumamos para a linha de chegada, atrás da Ilha do Presídio, com o auxílio do GPS. Volta e meia eu conferia o rumo e o tempo para chegarmos. Cada vez era uma "operação": empopados, o vento sul já não castigava tanto, mas mesmo assim estava bem frio. Conferir a posição significava abrir o velcro do impermeável, sacar os óculos de véio do bolso da camisa, sacar o GPS do bolso do impermeável, ligar a luz do display, ler a informação e guardar tudo de novo. A partir do DNA, certas coisas, antes simples, ficam mais trabalhosas (leia-se DNA como Data de Nascimento Avançada). Os óculos são o principal instrumento de navegação. E óculos, definitivamente, não combinam com convés.

Quando passei a anunciar tempos menores do que meia-hora, a tripulação começou a questionar minhas informações. E, agora que tudo já passou, posso dizer que em certo momento até eu fiquei um tanto desconfiado. Já estávamos a 4 minutos da linha de chegada, a julgar pela informação daquele treco todo tecnológico, mas não se via a luz do farolete, nem as do barco da Comissão de Regata, embora sabia-se, estas eram fracas. Dois outros faroletes utilizados como marcas para a regata estavam apagados. Mais um? Mais bem capaz!... Impossível. Toda a tripulação estava quieta, de olho no rumo, tentando achar a luz do farolete.

As coordenadas que estávamos perseguindo como sendo a da marca de chegada, haviam sido digitadas a partir de informações publicadas pela SPH e reformatadas pelo Capitão Am. Eduardo Hofmeister. Ao copiá-las, conferi. Passei-as do computador para o GPS e conferi de novo. Tinha que estar certo... Só que nada do tal farolete aparecer... Navegávamos na escuridão por conta de um instrumento eletrônico, recebendo informações de uma constelação de satélites, algo altamente confiável etc e tal.
Sensacional, maravilhoso, fantástico. Que se cate todos os adjetivos. Mas cadê o farolete? Maravilha mesmo seria enxergar o dito cujo onde presumia-se que deveria estar. Que se danem os satélites todos. Só queria ver um farolete bem ali na proa.

Finalmente, quase chegando no tal ponto, avistamos o farolete contra as luzes da cidade, apagado, mas bem onde deveria estar, ali próximo às luzes da Comissão de Regata. O rumo que tomamos estava mesmo correto.

Escreveu o Mestre Geraldo Knippling em Descobrindo o Guaíba : "A regra é muito simples: jamais deve-se abandonar um procedimento de navegação por GPS (operado corretamente), seguindo um 'sexto sentido' que diz que o caminho é outro. Podem ter certeza que no confronto entre o 'sexto sentido' e o GPS, este sai ganhando sempre, tranqüilamente".

"Sebo de Grilo"

Participar de uma regata às ganhas exige dedicação não só durante o percurso. Na véspera da largada o Comandante Astélio providenciou várias coisas, dentre elas um sopão de ervilhas que administrou pessoalmente na cozinha do clube. "Bota mais ervilha que está muito rala!", disse ao cozinheiro. Assim é o cara.

A preparação para uma regata exige cuidados importantes. Segundo eu soube sigilosamente de um tripulante do Habeas Corpus, tem coisas no barco que o comandante lubrifica somente com sebo de grilo. De preferência do tipo falante.

Ao cruzarmos a linha de chegada botamos no fogo a panela de pressão com a sopa. O motor foi acionado e baixamos as velas. Dobrar os panos sobre o convés foi uma das tantas coisas que aprendi com esta tripulação. Mas dobrar as velas no convés não é pra qualquer barco...

Atracados no trapiche do Veleiros do Sul, e ainda a bordo, saboreamos aquela sopa maravilhosa e tão merecida. Era tudo o que eu queria. Ficamos ainda um pouco a bordo, comentando o feito. Havíamos vencido o XIIº Circuito Conesul de Vela Oceano, classe RGS, e o 12º Troféu Farroupilha.

A excelente parceria a bordo do Habeas Corpus e o privilégio de participar de sua tripulação foram para mim o maior troféu da regata.

Danilo.
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(*) Se V. acha que peguei pesado demais, saiba de quem veio isso: Leopoldo Geyer, fundador do Veleiros do Sul, do Clube dos Jangadeiros e do Iate Clube Guaíba. Saiba mais em "Esquadrinhando a Lagoa dos Patos".



A Regata Farroupilha
vista do interior do Habeas Corpus

Aspectos táticos da regata
por Astélio José Bloise dos Santos*


Vinte de setembro de 2003, sábado 11 horas , ¨Ponta da Cadeia¨ ,embarcações em evolução constante aguardando a sinalização da Comissão de Regatas para a partida da Regata Seival, Farroupinha e Velejaço.
Visual bonito, mais de meia centena de embarcações de várias classes, embarcações assistentes, publico náutico acorrente ao local em função da homenagem promovida à Edmundo Soares. Aliás, Edmundo foi por muitos anos o mestre de cerimônia deste evento,e, diga-se de passagem, o melhor mestre de cerimônias que este evento da vela gaúcha possuiu em todos os tempos. Justa homenagem, justa designação do local com seu nome, enfim tudo indicava uma bela festa, uma bela regata.

A medida que os discursos promoviam atrasos na largada verificava-se um aumento na tensão dos competidores mais aguerridos que não perderam a oportunidade em promover várias simulações de largada, uma vez que, o vento rondou de quadrante e de intensidade várias vezes ,ora favorecendo o lado Leste da partida (junto ao cais), ora o lado Oeste (junto ao navio).
Com um atraso de uma hora e vinte e cinco minutos, enfim, iniciou-se a sinalização.
Cada competidor já havia estabelecido sua estratégia e sua tática de largada procurando defender-se da melhor forma possível das embarcações maiores e mais velozes, sem perder de vista evidentemente, seu concorrente mais imediato.

Relógios cadenciados, ouvidos no rádio, adrenalina subindo pelos poros, palavras de ordem de todo o tipo ,¨putiadas mil¨ e, eis-nos cruzando a linha de partida pelo cronômetro sem ouvirmos qualquer sinal audível ou visual. Partida ótima, borda ao máximo, velas sob ¨trimmer¨ constante ,e, estamos andando. Segue-se várias avaliações de posição em relação à concorrência, a área passível de navegação, e, a liberdade de manobra em função das demais embarcações e dos vários direitos de passagem que se estabeleceriam nas "cambadas".

Já na largada verificamos que nosso concorrente em relação a regata e ao troféu Cone-Sul,a embarcação VIRTU ( Delta 32), havia partido de forma brilhante e já tinha tomado alguns comprimentos de barco a nossa frente. Contra ele seria nossa regata e nossa estratégia durante as horas que se seguiriam até o cruzamento final na linha de chegada.

Como não tinhamos ¨altura¨ para seguirmos e ultrapassarmos a próxima marca de percurso ( antiga bóia 2 do canal do cristal),vários foram os bordos realizados com este intuito para W, sempre aproveitando para ¨subir¨ nas rondadas de leste e avaliando o tráfego descendo com direito. Em uma destas ¨subidas¨ verificamos o encalhe da embarcação AEON junto a margem da ¨balseira¨.

O AEON também era um de nossos concorrentes, principalmente para a Regata Farroupilha, já que, esta era uma regata independente dentro do Cone-Sul. Nas regatas anteriores havíamos livrado boa vantagem em pontos sobre o mesmo em relação ao Cone-Sul, porém, na disputa da Farroupilha estávamos 0 a 0 .

Evidentemente a ¨gozação¨ foi geral dentro do Habeas-Corpus¨, porém, no fundo todos lamentavam pelo carinho e amizade que a tripulação do Habeas-Corpus nutre pelo ¨TUTU¨ (apelido carinhoso pelo qual é conhecido Lucas Ostregreem). Realmente o encalhe foi lamentado ,mesmo porque, o Ader ,ausente no Habeas-Corpus nesta competição, havia disputado uma das regatas do Cone-Sul com o AEON.

O Habeas Corpus vinha "andando¨ bem e situava-se entre o grupo de vanguarda da competição, tinha tomado a dianteira de embarcações maiores , inclusive, de várias da categoria IMS . Neste trajeto até a antiga bóia 2 do canal do cristal, sem que tais manobras tenham significado manobras irregulares,o Habeas-Corpus foi bastante prejudicado pelo tráfego concorrente de embarcações maiores. Kamikase de Hilton Picollo, Levado de Jankiel , o obrigaram a cambar para evitar o vento ¨sujo¨.

Com estas preciosas perdas de tempo e de espaço, o VIRTU, tomava a dianteira de forma irremediável preocupando a todos a bordo. A regata a partir daí passou a ser uma perseguição implacável a embarcação VIRTU, que em função do sucesso ou do insucesso dos bordos aumentava ou diminuía a distância entre as mesmas.

A competição transcorreu sem maiores incidentes ou ações dignas de nota até a ¨altura¨ da Ponta Grossa quando o vento passou a variar muito tanto de direção como de intensidade. Verificava-se um CB e um ¨Rabo-de-Galo¨bem pronunciado a W, conotando que pelo menos algum ¨rabo¨de frente provocaria entradas de rajada de W .Estávamos em setembro com vento predominante de SE . Regra é a rondada a partir de determinada hora da tarde para Leste e o nosso concorrente cada vez mais se internava para Leste. Tal fato provocou grandes dúvidas na tripulação e sérias preocupações. Iríamos para W esperando as pronunciadas rajadas daquele quadrante ou perseguiríamos nosso concorrente em seu bordo ao Leste?

A regata tornou-se extremamente difícil naquele momento. Havia divergências extremadas entre os tripulantes. A decisão foi perseguir nosso concorrente ao Leste mas não abandonar as investidas para W. Fomos mais pelo meio e perdemos todas as rondadas. Quando estávamos no Leste e tentávamos ir para W íamos arribados (na negativa) e com vento fraco. Quando no W, não chegávamos a receber as rajadas esperadas daquele quadrante. E, nosso adversário por ser um barco maior e mais rápido, estando a nossa frente,comandava seu destino a as pegava. Em função disto obteve razoável vantagem nas imediações da Ponta Grossa, porém, ao nos afastarmos da mesma, o vento firmou e apertou, e, com alguns bordos bens sucedidos ¨encostamos ¨em todos eles na altura da Ponta do Arado. Na situação que nos encontrávamos na Ponta do Arado já tínhamos segurança de que potiávamos novamente a competição.

Pois bem, ao esticarmos um pouco mais um bordo para livrarmos a ilha de Francisco Manuel, nosso concorrente voltou a internar-se para Leste, saiu numa orçada positiva maravilhosa e cambou a Oeste também em uma boa rajada que lhe permitiria livrar a ilha. Nós não. Voltamos arribados em direção a ilha e subimos arribados até pegarmos a "altura¨ de nosso concorrente que voltou a obter razoável vantagem.

Aquela variação de vento combinado com um obstáculo obrigatório e necessário a ser vencido, foi de tal forma negativo para o Habeas Corpus, que começamos a enchergar novamente a embarcação AEON que vinha de oeste com razoável vento e velocidade. Aquele incidente, voltou a transformar a embarcação AEON em nosso concorrente. Esta mesma rajada e situação fez com que o Levado também nos suplantasse naquele momento vindo de Oeste.

Por curiosidade e para que o leitor se situe e situe a situação das embarcações dianteiras naquele momento, isto se desenrolava em conjunto com as embarcações da classe IMS. O Vento e Alma do Comandante Ortega sofreu as mesmas condições e percalços do Habeas Corpus, e, encontrava-se pouco adiante de nossa embarcação. O Revanche estava não muito a Oeste. O único barco destacado na ältura¨da Ilha de Francisco Manuel era o Navy Blue.
Uma vez ultrapassado este incidente na Ilha ,todos passaram a ter o mesmo vento com a mesma direção e intensidade. Aí era uma questão de velocidade e tática para suplantar o obstáculo do banco situado a leste do ¨cotovêlo¨ ,farolete marca do percurso.O vento manteve-se por um longo período meio torcido para SW , soprando em torno de 10 a 15 nós.
As embarcações dianteiras Navy Blue, Silver Surfer, Revanche, Vento e Alma , Virtu , e , Kamikase , ao aterrarem nas cercanias do morro da Fortaleza passaram a ter o vento diminuído e rondando para o Sul puro, condição aliás que também pegamos ao chegarmos naquela região.

O Habeas Corpus , Levado e o AEON mantiveram-se mais tempo navegando com vento franco de SW e voltaram a retirar toda a diferença que possuíam os dianteiros. Ao bordejarmos no canal do Itapuã com vento fraco de Sul cronometramos nossas diferenças e nos tranqüilizamos. Estávamos ganhando a regata com larga vantagem, diríamos até sem falsa modéstia que se estivéssemos inscritos na IMS, mesmo com as velas de dacron de cruzeiro, até aquele momento, pontiávamos ambas categorias. Almejávamos apenas que a intensidade do vento em popa não fosse muito significativa, uma vez que, as embarcações Delta 32 são muito mais velozes nestas condições que as outra embarcações,e, a medição RGS não é apropriada para aproximar e corrigir esta diferença.

Contornamos o farolete marca de percurso na lagoa e iniciamos nosso retorno sabendo que apenas necessitávamos administrar a vantagem já obtida até aquele momento. O vento na metade do canal do Itapuã firmou definitivamente em um S de boa intensidade. Prevíamos sua variação para SE e E ( o que de fato aconteceu) então ,optamos por abandonar o rumo de canal na primeira oportunidade razoável,retornando em um rumo mais reto e mais orçado que os demais concorrentes, com o intuito de evitar a aproximação da chegada ¨no pincel¨. Fomos acompanhados pela embarcação AEON, que inclusive, nos ultrapassou nas cercanias da Ponta Grossa. O AEON chegou a nos tirar trinta e cinco segundos na chegada. Considerando seu encalhe inicial, esta embarcação andou muito bem, fez juz a seu segundo lugar no Cone-Sul e talvez tenha sido maltratada na Regata Farroupilha pelo que andou.

No mais, foi apreciar a grande navegada que a competição nos permitiu, agradecer o companheirismo e eficiência da tripulação,além , dos aspectos hilariantes que desfrutamos a bordo em conjunto . Ao cruzar a linha de chegada, tomando o tempo das embarcações concorrentes, somente nos cabia correr para o abraço merecido.

(*) Astélio, navegador veterano e comandante do Habeas-Corpus, é o atual Presidente (re-eleito) do Tribunal Nacional de Justiça Desportiva, órgão vinculado à Federação Nacional de Vela e Motor. Astélio já presidiu a Federação de Vela do Rio Grande do Sul, tendo sido Comodoro do Veleiros do Sul por dois mandatos.

 

O rastro do Habeas Corpus

Veja a carta náutica com o percurso plotado do Habeas Corpus (e do Charlie Bravo). Analise o track de ambos (arquivos PLT, do Ozi Explorer). Aproveite para testar seus conhecimentos de navegação. Clique aqui.

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