Set/2003
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Discursos:
todo marinheiro dispensa de boa vontade
O clima na largada da regata
de longo percurso do XIIº Circuito Conesul estava bem festivo.
Várias tripulações apresentaram-se com alegorias
em frente à Marina Pública alegrando o evento esportivo
mais importante do esporte à vela do sul do país.
Aproximadamente uma centena
de embarcações, na maioria veleiros, estavam no
local. Alguns lancheiros foram prestigiar a cerimônia. Veleiros
grandes e veleiros pequenos, alguns repletos de gente, outros
apenas com a tripulação já fardada para a
regata.
O Veleiros do Sul atracou
flutuadores para que os tripulantes de alguns barcos pudessem
neles desembarcar. A cerimônia de descerramento da placa
denominando a Marina Municipal Comodoro Edmundo Soares
na Ponta do Gasômetro teve discursos de autoridades. E é
bom lembrar que discurso é coisa que todo marinheiro dispensa
de boa vontade*. Uma banda tocou o Hino Nacional. Um pouco antes
houve um cocktail e outros procedimentos típicos de cerimônias
públicas.
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Tinha que ter um
alemão no meio...
Habeas Corpus, o Fast 303
do Comandante Astélio Bloise dos Santos, saiu-se muito bem nas
regatas da primeira fase do Circuito tendo obtido dois primeiros lugares
e um terceiro (saiba mais sobre a primeira fase).
Nesta regata, a mais importante do Circuito, compunham a tripulação
Adrion e Adriano, experientes velejadores, filhos do comandante. Além
destes, Ana Maria Burgos, Luis Alberto Landvoigt, recentemente convertido
a velejador, e eu. Tripulação do Veleiros do Sul sem um
sobrenome alemão, não dá pra acreditar. Ainda bem
que o Luis "nos salvou".
Rating: quando
o primeiro a chegar nem sempre é o vencedor
Nas regatas de monotipos disputam
barcos idênticos e o primeiro a chegar é o campeão.
Nas classes IMS e RGS chegar primeiro não significa ganhar a
regata: os barcos são medidos em função de várias
características, desde o comprimento até a qualidade das
velas. Os mais velozes "pagam" tempo aos outros. O Virtù,
por exemplo, estava pagando 4,5 minutos por hora de regata para o Habeas
Corpus. Significa que, se a regata durasse apenas uma hora, o Virtù
precisaria chegar com mais de 4,5 min de vantagem para vencer.
Quando nos aproximávamos
do Farol de Itapuã o comandante Astélio determinou que
marcássemos o horário em que o Virtù, à
nossa frente, contornasse a marca de retorno na Lagoa dos Patos. Assim,
ao passarmos por aquele mesmo ponto, saberíamos nossa situação
em relação ao único adversário que poderia
ainda nos incomodar.
Ali ficamos sabendo da nossa enorme
vantagem sobre o Virtù. Feitas as contas, nossa passagem
pelo farolete 88, na Lagoa dos Patos, foi uma festa, com direito a whisky.
A vitória pareceu-nos assegurada, como de fato ocorreu.
Proeiros - exercício
físico em surtos
O cockpit é o lugar mais
improvável para um proeiro. O lugar dele é no convés,
levando vento e água no rosto, e sempre mal acomodado. Como o
nome já diz, o proeiro precisa dar conta das atividades na proa
de um barco, seja içando um balão, seja arrumando a saia
da genoa.
Quando
o barco oscila longitudinalmente (caturra), o proeiro precisa ser equilibrista.
O pior cenário para o proeiro certamente é a troca de
genoa na caturrada com onda e vento fortes, no inverno, quando encharca-se
até a alma.
O posto de proeiro é um bom início para a formação
do velejador. Há muito mais a dizer sobre proeiros. Veja
aqui.
Um barco como o Habeas Corpus leva
vários proeiros (são a maioria, do total de 7 tripulantes).
Quando navegando contra o vento, o barco descreve zigue-zagues (veja
o percurso no final desta página). Chama-se a isto bordejar,
ou navegar no contravento. É quando o veleiro anda adernado,
isto é, inclinado lateralmente, como na foto ao lado.
Os veleiros são desenhados
para navegar nivelados, sem adernar. Para manter o barco nivelado, e
assim otimizar sua velocidade, os proeiros fazem borda.
São
verdadeiros contrapesos móveis, utilizados para equilibrar o
barco no contravento. Isso significa sentar-se bem na borda, junto à
boca maior, o lugar mais largo do barco. Esta é a função
dos proeiros entre uma e outra virada de bordo.
O que fazem os proeiros na cambada,
ou seja, quando o zigue passa a ser zague?
Correm para a borda oposta o mais
rápido possível. Passam portanto um bom tempo parados
e, de repente, precisam agir à toda a velocidade. É exercício
físico em surtos.
Na hora de virar de bordo o comandante
ou o timoneiro avisam: "Preparar pra cambar!". Os proeiros,
sentados lado a lado com as pernas pra fora do barco, começam
a encolher as pernas e a se preparar para o bote.
De repente ouve-se o "Foi!". É a hora da correria.
O ruído estridente das catracas giradas rapidamente pela escota
da genoa caracteriza este momento.
"Vamos
lá cambada!"
Esta é a operação padrão, mas nem sempre
ocorre assim. Às vezes o momento certo da cambada é discutido
entre a tripulação. O timoneiro quer cambar e comunica
o comandante. O comandante pode não concordar e apresenta seus
motivos. O timoneiro tem também suas razões e passa a
argumentar. O tático emenda seus planos e a discussão
está formada. Todos pensam que têm absoluta certeza do
que dizem, em função das percepções pessoais,
no entanto não podem provar. É preciso ser muito eloqüente
e conseguir aliados a bordo. Cada um tentando convencer os demais. O
tom de voz não é ameno: se um vacilar na argumentação,
a decisão do outro prevalecerá. A vitória pode
estar em jogo nesta decisão. Há muita tensão a
bordo. Quem já perdeu regata por meio barco sabe bem do que estamos
falando.
Parece que a coisa é resolvida
no grito. Não há tempo nem clima para frescuras. É
assim na grande maioria das tripulações de regata. Melhor
assim do que ter um comandante autoritário que decide à
revelia da tripulação. A brincadeira perderia a graça.
O
tempo vai passando e o bochincho se armando. Quando o timoneiro consegue
o aval do camandante para cambar, o faz com sensação de
tremendo atraso. O "Preparar para cambar" torna-se simplesmente
"Cambar!" e a confusão está armada. É
o caos para os proeiros. O barco vai cambando e os proeiros, desprevenidos,
arrancam em disparada, se acotovelando, em direção à
outra borda. Veja a cambada no Revanche aí ao lado.
Ressabiados destas cambadas "na
marra", os proeiros passam a ficar mais espertos. Estão
sempre ligados.
Neste clima de tensão, e
já com dificuldade de enxergar a popa do adversário que
disparou na nossa frente, o Comandante Astélio, para animar a
tripulação, solta um alto e grosso "Vamos lá
cambada!". Foi o suficiente para que um de nossos proeiros,
marinheiro de primeira viagem, saltasse imediatamente do posto, achando
que fosse uma ordem para cambar. Imagine a cena... Foi uma risada geral
a bordo, é claro, mas enfim o comandante atingiu seu objetivo,
e esta história, vai para o diário de bordo do Habeas
Corpus.
O
Habeas Corpus chegando à Lagoa dos Patos
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Belo visual - um
grande troféu desta regata
Na aproximação do
Farol de Itapuã, a divisa Guaíba - Lagoa dos Patos, assistimos
ao pôr-do-sol. Estava muito bonito. Contornamos o farolete 88,
já na Lagoa dos Patos, na penumbra.
O piscar do farol significa muito mais do que a simples demarcação
da foz do Guaíba. Enaltece o romantismo da navegação
à vela.
A volta ocorreu tranqüila,
com o sul pela popa o tempo todo. A noite estava escura e bem estrelada.
Porto Alegre desfilou para nós,
de sul a norte. A vista da cidade à noite é espetacular.
São muitas luzes, ora brancas, ora amarelas, ora encarreiradas,
ora amontoadas. Na outra
margem se vê as luzes da cidade de Guaíba, já mais
ao norte. A navegação noturna é algo sensacional!
E saiba que um veleiro não
tem luzes para iluminar o caminho.
- Mas então como é que se faz para enxergar?
Não se faz.
Só vendo...
Não troque
o GPS pelo "sexto sentido"
Com
o cair da noite, o comandante distribuiu lanternas aos tripulantes.
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Do cotovelo do canal de navegação
do Guaíba, ainda em Itapuã e já à noite,
rumamos para Oeste da Ilha Chico Manoel, e de lá para a Ponta
Grossa, cuja silhueta avistava-se claramente contra as luzes de Porto
Alegre. Daí rumamos para a linha de chegada, atrás da
Ilha do Presídio, com o auxílio do GPS. Volta e meia eu
conferia o rumo e o tempo para chegarmos. Cada vez era uma "operação":
empopados, o vento sul já não castigava tanto, mas mesmo
assim estava bem frio. Conferir a posição significava
abrir o velcro do impermeável, sacar os óculos de véio
do bolso da camisa, sacar o GPS do bolso do impermeável, ligar
a luz do display, ler a informação e guardar tudo de novo.
A partir do DNA, certas coisas, antes simples, ficam mais trabalhosas
(leia-se DNA como Data de Nascimento Avançada). Os óculos
são o principal instrumento de navegação. E óculos,
definitivamente, não combinam com convés.
Quando passei a anunciar tempos
menores do que meia-hora, a tripulação começou
a questionar minhas informações. E, agora que tudo já
passou, posso dizer que em certo momento até eu fiquei um tanto
desconfiado. Já estávamos a 4 minutos da linha de chegada,
a julgar pela informação daquele treco todo tecnológico,
mas não se via a luz do farolete, nem as do barco da Comissão
de Regata, embora sabia-se, estas eram fracas. Dois outros faroletes
utilizados como marcas para a regata estavam apagados. Mais um? Mais
bem capaz!... Impossível. Toda a tripulação
estava quieta, de olho no rumo, tentando achar a luz do farolete.
As coordenadas que estávamos
perseguindo como sendo a da marca de chegada, haviam sido digitadas
a partir de informações publicadas pela SPH e reformatadas
pelo Capitão Am. Eduardo Hofmeister. Ao copiá-las, conferi.
Passei-as do computador para o GPS e conferi de novo. Tinha que estar
certo... Só que nada do tal farolete aparecer... Navegávamos
na escuridão por conta de um instrumento eletrônico, recebendo
informações de uma constelação de satélites,
algo altamente confiável etc e tal.
Sensacional, maravilhoso, fantástico. Que se cate todos os adjetivos.
Mas cadê o farolete? Maravilha mesmo seria enxergar o dito cujo
onde presumia-se que deveria estar. Que se danem os satélites
todos. Só queria ver um farolete bem ali na proa.
Finalmente, quase chegando no tal
ponto, avistamos o farolete contra as luzes da cidade, apagado, mas
bem onde deveria estar, ali próximo às luzes da Comissão
de Regata. O rumo que tomamos estava mesmo correto.
Escreveu o Mestre Geraldo Knippling
em Descobrindo o Guaíba : "A regra é muito
simples: jamais deve-se abandonar um procedimento de navegação
por GPS (operado corretamente), seguindo um 'sexto sentido' que diz
que o caminho é outro. Podem ter certeza que no confronto entre
o 'sexto sentido' e o GPS, este sai ganhando sempre, tranqüilamente".
"Sebo
de Grilo"
Participar de uma
regata às ganhas exige dedicação não
só durante o percurso. Na véspera da largada o Comandante
Astélio providenciou várias coisas, dentre elas um sopão
de ervilhas que administrou pessoalmente na cozinha do clube. "Bota
mais ervilha que está muito rala!", disse ao cozinheiro.
Assim é o cara.
A preparação
para uma regata exige cuidados importantes. Segundo eu soube sigilosamente
de um tripulante do Habeas Corpus, tem coisas no barco que o
comandante lubrifica somente com sebo de grilo. De preferência
do tipo falante.
Ao cruzarmos a linha
de chegada botamos no fogo a panela de pressão com a sopa. O
motor foi acionado e baixamos as velas. Dobrar os panos sobre o convés
foi uma das tantas coisas que aprendi com esta tripulação.
Mas dobrar as velas no convés não é pra qualquer
barco...
Atracados no trapiche
do Veleiros do Sul, e ainda a bordo, saboreamos aquela sopa maravilhosa
e tão merecida. Era tudo o que eu queria. Ficamos ainda um pouco
a bordo, comentando o feito. Havíamos vencido o XIIº Circuito
Conesul de Vela Oceano, classe RGS, e o 12º Troféu Farroupilha.
A excelente parceria
a bordo do Habeas Corpus e o privilégio de participar
de sua tripulação foram para mim o maior troféu
da regata.
Danilo.
________
(*) Se V. acha que
peguei pesado demais, saiba de quem veio isso: Leopoldo Geyer,
fundador do Veleiros do Sul, do Clube dos Jangadeiros e do Iate Clube
Guaíba. Saiba mais em "Esquadrinhando
a Lagoa dos Patos".
A Regata Farroupilha
vista do interior do Habeas Corpus
Aspectos
táticos da regata
por
Astélio José Bloise dos Santos*
Vinte de setembro de 2003, sábado 11 horas , ¨Ponta
da Cadeia¨ ,embarcações em evolução
constante aguardando a sinalização da Comissão
de Regatas para a partida da Regata Seival, Farroupinha e Velejaço.
Visual bonito, mais de meia centena de embarcações
de várias classes, embarcações assistentes,
publico náutico acorrente ao local em função
da homenagem promovida à Edmundo Soares. Aliás,
Edmundo foi por muitos anos o mestre de cerimônia deste
evento,e, diga-se de passagem, o melhor mestre de cerimônias
que este evento da vela gaúcha possuiu em todos os tempos.
Justa homenagem, justa designação do local com
seu nome, enfim tudo indicava uma bela festa, uma bela regata.
A medida
que os discursos promoviam atrasos na largada verificava-se
um aumento na tensão dos competidores mais aguerridos
que não perderam a oportunidade em promover várias
simulações de largada, uma vez que, o vento rondou
de quadrante e de intensidade várias vezes ,ora favorecendo
o lado Leste da partida (junto ao cais), ora o lado Oeste (junto
ao navio).
Com um atraso de uma hora e vinte e cinco minutos, enfim, iniciou-se
a sinalização.
Cada competidor já havia estabelecido sua estratégia
e sua tática de largada procurando defender-se da melhor
forma possível das embarcações maiores
e mais velozes, sem perder de vista evidentemente, seu concorrente
mais imediato.
Relógios
cadenciados, ouvidos no rádio, adrenalina subindo pelos
poros, palavras de ordem de todo o tipo ,¨putiadas mil¨
e, eis-nos cruzando a linha de partida pelo cronômetro
sem ouvirmos qualquer sinal audível ou visual. Partida
ótima, borda ao máximo, velas sob ¨trimmer¨
constante ,e, estamos andando. Segue-se várias avaliações
de posição em relação à concorrência,
a área passível de navegação, e,
a liberdade de manobra em função das demais embarcações
e dos vários direitos de passagem que se estabeleceriam
nas "cambadas".
Já
na largada verificamos que nosso concorrente em relação
a regata e ao troféu Cone-Sul,a embarcação
VIRTU ( Delta 32), havia partido de forma brilhante e já
tinha tomado alguns comprimentos de barco a nossa frente. Contra
ele seria nossa regata e nossa estratégia durante as
horas que se seguiriam até o cruzamento final na linha
de chegada.
Como não
tinhamos ¨altura¨ para seguirmos e ultrapassarmos a
próxima marca de percurso ( antiga bóia 2 do canal
do cristal),vários foram os bordos realizados com este
intuito para W, sempre aproveitando para ¨subir¨ nas
rondadas de leste e avaliando o tráfego descendo com
direito. Em uma destas ¨subidas¨ verificamos o encalhe
da embarcação AEON junto a margem da ¨balseira¨.
O AEON também
era um de nossos concorrentes, principalmente para a Regata
Farroupilha, já que, esta era uma regata independente
dentro do Cone-Sul. Nas regatas anteriores havíamos livrado
boa vantagem em pontos sobre o mesmo em relação
ao Cone-Sul, porém, na disputa da Farroupilha estávamos
0 a 0 .
Evidentemente
a ¨gozação¨ foi geral dentro do Habeas-Corpus¨,
porém, no fundo todos lamentavam pelo carinho e amizade
que a tripulação do Habeas-Corpus nutre pelo ¨TUTU¨
(apelido carinhoso pelo qual é conhecido Lucas Ostregreem).
Realmente o encalhe foi lamentado ,mesmo porque, o Ader ,ausente
no Habeas-Corpus nesta competição, havia disputado
uma das regatas do Cone-Sul com o AEON.
O Habeas
Corpus vinha "andando¨ bem e situava-se entre o grupo
de vanguarda da competição, tinha tomado a dianteira
de embarcações maiores , inclusive, de várias
da categoria IMS . Neste trajeto até a antiga bóia
2 do canal do cristal, sem que tais manobras tenham significado
manobras irregulares,o Habeas-Corpus foi bastante prejudicado
pelo tráfego concorrente de embarcações
maiores. Kamikase de Hilton Picollo, Levado de Jankiel , o obrigaram
a cambar para evitar o vento ¨sujo¨.
Com estas
preciosas perdas de tempo e de espaço, o VIRTU, tomava
a dianteira de forma irremediável preocupando a todos
a bordo. A regata a partir daí passou a ser uma perseguição
implacável a embarcação VIRTU, que em função
do sucesso ou do insucesso dos bordos aumentava ou diminuía
a distância entre as mesmas.
A competição
transcorreu sem maiores incidentes ou ações dignas
de nota até a ¨altura¨ da Ponta Grossa quando
o vento passou a variar muito tanto de direção
como de intensidade. Verificava-se um CB e um ¨Rabo-de-Galo¨bem
pronunciado a W, conotando que pelo menos algum ¨rabo¨de
frente provocaria entradas de rajada de W .Estávamos
em setembro com vento predominante de SE . Regra é a
rondada a partir de determinada hora da tarde para Leste e o
nosso concorrente cada vez mais se internava para Leste. Tal
fato provocou grandes dúvidas na tripulação
e sérias preocupações. Iríamos para
W esperando as pronunciadas rajadas daquele quadrante ou perseguiríamos
nosso concorrente em seu bordo ao Leste?
A regata
tornou-se extremamente difícil naquele momento. Havia
divergências extremadas entre os tripulantes. A decisão
foi perseguir nosso concorrente ao Leste mas não abandonar
as investidas para W. Fomos mais pelo meio e perdemos todas
as rondadas. Quando estávamos no Leste e tentávamos
ir para W íamos arribados (na negativa) e com vento fraco.
Quando no W, não chegávamos a receber as rajadas
esperadas daquele quadrante. E, nosso adversário por
ser um barco maior e mais rápido, estando a nossa frente,comandava
seu destino a as pegava. Em função disto obteve
razoável vantagem nas imediações da Ponta
Grossa, porém, ao nos afastarmos da mesma, o vento firmou
e apertou, e, com alguns bordos bens sucedidos ¨encostamos
¨em todos eles na altura da Ponta do Arado. Na situação
que nos encontrávamos na Ponta do Arado já tínhamos
segurança de que potiávamos novamente a competição.
Pois bem,
ao esticarmos um pouco mais um bordo para livrarmos a ilha de
Francisco Manuel, nosso concorrente voltou a internar-se para
Leste, saiu numa orçada positiva maravilhosa e cambou
a Oeste também em uma boa rajada que lhe permitiria livrar
a ilha. Nós não. Voltamos arribados em direção
a ilha e subimos arribados até pegarmos a "altura¨
de nosso concorrente que voltou a obter razoável vantagem.
Aquela variação
de vento combinado com um obstáculo obrigatório
e necessário a ser vencido, foi de tal forma negativo
para o Habeas Corpus, que começamos a enchergar novamente
a embarcação AEON que vinha de oeste com razoável
vento e velocidade. Aquele incidente, voltou a transformar a
embarcação AEON em nosso concorrente. Esta mesma
rajada e situação fez com que o Levado também
nos suplantasse naquele momento vindo de Oeste.
Por curiosidade
e para que o leitor se situe e situe a situação
das embarcações dianteiras naquele momento, isto
se desenrolava em conjunto com as embarcações
da classe IMS. O Vento e Alma do Comandante Ortega sofreu as
mesmas condições e percalços do Habeas
Corpus, e, encontrava-se pouco adiante de nossa embarcação.
O Revanche estava não muito a Oeste. O único barco
destacado na ältura¨da Ilha de Francisco Manuel era
o Navy Blue.
Uma vez ultrapassado este incidente na Ilha ,todos passaram
a ter o mesmo vento com a mesma direção e intensidade.
Aí era uma questão de velocidade e tática
para suplantar o obstáculo do banco situado a leste do
¨cotovêlo¨ ,farolete marca do percurso.O vento
manteve-se por um longo período meio torcido para SW
, soprando em torno de 10 a 15 nós.
As embarcações dianteiras Navy Blue, Silver Surfer,
Revanche, Vento e Alma , Virtu , e , Kamikase , ao aterrarem
nas cercanias do morro da Fortaleza passaram a ter o vento diminuído
e rondando para o Sul puro, condição aliás
que também pegamos ao chegarmos naquela região.
O Habeas
Corpus , Levado e o AEON mantiveram-se mais tempo navegando
com vento franco de SW e voltaram a retirar toda a diferença
que possuíam os dianteiros. Ao bordejarmos no canal do
Itapuã com vento fraco de Sul cronometramos nossas diferenças
e nos tranqüilizamos. Estávamos ganhando a regata
com larga vantagem, diríamos até sem falsa modéstia
que se estivéssemos inscritos na IMS, mesmo com as velas
de dacron de cruzeiro, até aquele momento, pontiávamos
ambas categorias. Almejávamos apenas que a intensidade
do vento em popa não fosse muito significativa, uma vez
que, as embarcações Delta 32 são muito
mais velozes nestas condições que as outra embarcações,e,
a medição RGS não é apropriada para
aproximar e corrigir esta diferença.
Contornamos
o farolete marca de percurso na lagoa e iniciamos nosso retorno
sabendo que apenas necessitávamos administrar a vantagem
já obtida até aquele momento. O vento na metade
do canal do Itapuã firmou definitivamente em um S de
boa intensidade. Prevíamos sua variação
para SE e E ( o que de fato aconteceu) então ,optamos
por abandonar o rumo de canal na primeira oportunidade razoável,retornando
em um rumo mais reto e mais orçado que os demais concorrentes,
com o intuito de evitar a aproximação da chegada
¨no pincel¨. Fomos acompanhados pela embarcação
AEON, que inclusive, nos ultrapassou nas cercanias da Ponta
Grossa. O AEON chegou a nos tirar trinta e cinco segundos na
chegada. Considerando seu encalhe inicial, esta embarcação
andou muito bem, fez juz a seu segundo lugar no Cone-Sul e talvez
tenha sido maltratada na Regata Farroupilha pelo que andou.
No mais,
foi apreciar a grande navegada que a competição
nos permitiu, agradecer o companheirismo e eficiência
da tripulação,além , dos aspectos hilariantes
que desfrutamos a bordo em conjunto . Ao cruzar a linha de chegada,
tomando o tempo das embarcações concorrentes,
somente nos cabia correr para o abraço merecido.
(*) Astélio,
navegador veterano e comandante do Habeas-Corpus, é o
atual Presidente (re-eleito) do Tribunal Nacional de Justiça
Desportiva, órgão vinculado à Federação
Nacional de Vela e Motor. Astélio já presidiu
a Federação de Vela do Rio Grande do Sul, tendo
sido Comodoro do Veleiros do Sul por dois mandatos.
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