Curiosidade: A Navegação Celestial nos Tempos do Constellation Disparando pontas
de grafite Quem imagina
que a navegação celestial era difícil somente nos
tempos do Descobrimento O sextante de bolha, na realidade um octante, era mais usado na aviação, principalmente nos áureos tempos do Super-Constellation. Nas grandes altitudes e também à noite não se avista o horizonte. Era um periscópio, introduzido em furo específico na parte superior da aeronave pressurizada. Como a vedação não era perfeita, sempre escapava ar por alguma fresta causando um ruído atordoante. Acertar a bolha no centro do círculo de referência e conferir a escala micrométrica era uma "parada", principalmente em turbulência. O tamanho da bolha era ajustável. Devido à velocidade do avião, a precisão era diretamente relacionada à velocidade com que era feito o cálculo final. As duas primeiras visadas eram feitas com corpos celestes que davam uma linha de posição mais paralela ao sentido do vôo, portanto menos influenciadas pelo deslocamento da aeronave. A última visada era chamada a linha "de velocidade", perpendicular ao sentido do vôo, utilizando um astro bem na proa ou na cauda (avião não tem popa, é cauda mesmo). Havia uma demora de dois minutos para este cálculo, com a aeronave voando a 600 kph, significava um erro de 20 km. Por este motivo, plotava-se essa linha com um retardo correspondente para conseguir fechar um triângulo razoável, compatível com as duas visadas anteriores. Forçosamente, este triângulo de posição ficava bastante aberto. O centro dele então era projetado para a frente, no sentido do vôo, a fim de compensar a velocidade e a distância percorrida, para obter a posição "exata", no momento. Mesmo assim, 10 minutos mais tarde esta posição "exata" já estava 100 km na retaguarda. Mesmo com todas estas restrições, não deixava de ser fascinante plotar a última linha e chulear que resultasse num triângulo fechado (um sonho!). Gostaria de frisar que estes sextantes eram os mais modernos, uma verdadeira vitória da tecnologia. Isto porque na década anterior já havia o sextante de bolha,com o qual todos os candidatos faziam o curso de navegação celestial. Ele era usado em aviões com uma abóbada de plexi e o navegador se encaixava nela, segurando o engenho na mão; não tinha pois o apoio propiciado pelo sextante telescópico. A abóbada em si, tinha um índice de refração variável e difícil de estabelecer. Em turbulência era praticamente impossível conseguir uma leitura razoável. Para a leitura micrométrica havia um gatilho que disparava uma ponta de grafite sobre um pequeno disco, deixando uma marca (que depois podia ser apagada). O navegador então, ao fazer a visada, disparava este gatilho umas 4 ou 5 vezes em sucessão rápida, quando achava que tinha enquadrado o astro com a bolha no centro. Em seguida verificava o pequeno disco com as marcas deixadas pela ponta de grafite, tirava a média dessas para ler na escala micrométrica. A abóbada era usada em aviões sem pressurização. Com o advento da aeronave pressurizada, passaram a usar a mesma abóbada para a navegação celestial. Houve casos em que a estrutura falhava: em um deles o navegador foi sugado para fora. Foi aí que surgiu a modalidade telescópica, descrita acima. Acho que isso dispensa mais comentários. Na verdade, caro Danilo, por mais fascinante que seja, tudo isto é passado. O conhecimento da navegação celestial não deixa de ser um status que não tem mais qualquer utilidade prática nos dias de hoje e seria perfeitamente dispensável nos exames para capitão amador ou profissional. Para "backup"
compra-se mais um ou dois ou três GPS e fica-se muito mais garantido
que com um sextante dentro de uma enorme caixa, em noite escura e de
chuva! O valor está na capacidade e inteligência do indivíduo
de dominar esta complexa tecnologia. Acontece o mesmo com
o radiamadorismo, onde ainda hoje exigem o conhecimento e a proficiência
da telegrafia para as classes B e C. É um absurdo. Ninguém
mais usa telegrafia, somente alguns velhos saudosistas. O resultado
é que está acabando o radioamadorismo e os governos estão
tomando conta de muitas freqüências "nobres" usadas
por radioamadores, simplesmente porque não estão sendo
usadas. Complementando o que
já disse, é também interessante saber que em todos
os cursos de navegação celestial os instrutores se gabam
em elogiar a presença da estrela polar (no hemisfério
norte), com a grande virtude de dar uma leitura direta de altura, dispensando
o uso das afamadas "Sight Reduction Tables"! Na realidade,
a estrela polar é decepcionantemente fraca e somente fica razoavelmente
visível acima dos paralelos 35 ou 40. Um abraço do O Cmte. Knippling,
ex-comandante da Varig agraciado com a Ordem do Mérito Aeronáutico,
tem mais de 40.000h de vôo. Velejador veterano, o Capitão
Am. Knippling escreveu obra que consideramos indispensável à
navegação no Guaíba e Lagoa dos Patos. Fartamente
ilustrada e apresentando cartas detalhadas da região, waypoints
e informações preciosíssimas à navegação,
sua obra pode ser encontrada nas livrarias e na Secretaria do Veleiros
do Sul. |