Conheci o László Böhm pelos anos de 1968-1969, quando ele dividia então com o Walter Bromberg a sociedade em um veleiro de aproximadamente 28 pés, de madeira, chamado “SAPECA”. Um lindo veleiro, diga-se de passagem, como são todos, aliás. Os veleiros tem alma e são vivos. Navegando parecem uns cisnes, de tão belos...

Éramos já então amigos e também rivais na raia, eu com o “MARTHA” e ele com o “SAPECA”. Dividíamos até algumas vitórias... Lembro-me de certa ocasião em uma Copa Rio Guaíba, a tripulação do “MARTHA” que representava. o Rio Grande Yate Clube ostentava uma linda camiseta, confeccionada por amigos lá de Rio Grande. László então, ainda na “sala de vela” aonde participávamos da reunião de Comandantes, como era habito antes de qualquer regata, afirmara que se camiseta ganha-se regata, já éramos previamente vencedores. Apostei com ele então uma rodada de chopp, paga por quem ficasse atrás na regata. Tive a felicidade de vencê-la e o Lászlo prontamente ao chegar ao clube patrocinou o chopp com a tradicional saudação “Tripíce Urra”.

Sua simpatia, seu espírito esportivo, era dos mais reconhecidos e fervorosamente sempre combativo. Seus conhecimentos de vela e de regras eram muito respeitados. Naquele seu linguajar todo especial defendia suas idéias com muita convicção e autenticidade.

Quando fui Comodoro do ABVO Sul escolhi-o como nosso medidor, junto com o companheiro Rolf Bercht, dentro das regras da IOR. Seu trabalho junto com o Rolf foi magnífico. Nas regatas Porto Alegre - Rio Grande era sempre o juiz de largada em Porto Alegre e chegada no Canal da Feitoria. Sua participação no Grupo dos Cruzeiristas era integral e feita com todo seu coração. Foi um dos “Mães” mais dedicados, e o tradicional “Rei Neptuno”, em todos batismos e festas do nosso grupo. Seu carinho pelo Veleiros do Sul, apesar de ter dados seus primeiros passos como velejador, no Jangadeiros, foi de total dedicação e amor, chegando aos cargos de Comodoro e Presidente do Conselho Deliberativo. Como Conselheiro Vitalício sua integração aos problemas do Clube eram das mais entusiasmadas e interessadas.

E a vida do László, foi sempre também voltada para sua profissão de Engenheiro e Professor, grande especialista em hidráulica e sanitarista, chegando a ocupar o cargo de Diretor do DMAE e Diretor Presidente do DEP, mas não esquecia nunca do seu Veleiros do Sul, participando, outrossim, avidamente das reuniões e jantares do clube, sempre com bom apetite, junto ao seu tradicional copo de chopp...!

Mais tarde adquiriu do nosso saudoso companheiro Ernesto Neugebauer, o veleiro “CORAL”, passando a chamá-lo de “UBÁ”, com o qual realizou grandes velejadas a São Lourenço, Pelotas, Rio Grande, enfim toda a Lagoa dos Patos e Rio Guaíba, acompanhado de seus filhos, Átila e Ilona, que eram seus queridos e bem preparados tripulantes. Realmente fazia bem aos nossos olhos ver o veleiro “UBÁ”, com suas velas enfunadas e suas linhas harmoniosas, velejando com o László no timão.

Por último, já no ocaso de sua longa carreira estava preparando o 2º volume de um livro sobre a historia do Veleiros do Sul. O primeiro volume que continha a etapa, dos Navegantes (sede antiga) para o Cristal, já o havia editado. A linguagem da sua escrita era uma tradução verdadeira de sua maneira de se expressar, com aquele carregado sotaque húngaro.

László deixará para nós uma imensa saudade, de amigo e companheiro ausente, mas deixará também, mais ainda, a alegria e felicidade de todos seus amigos, que com ele compartilharam, deste mundo tão maravilhoso, que é o mundo dos barcos e da água.

Jorge Vidal

Cruzeirista