A Conquista da Ilha Francisco Manoel pelo Veleiros do Sul
Memórias do ex-Comodoro Mário Hofmeister, o conquistador

por Danilo Chagas Ribeiro
(publicação original em 20 Dez 2004)

20 Jul 2016
No próximo sábado, dia 23 de julho de 2016, o Veleiros do Sul estará comemorando os 50 anos de posse da Ilha Francisco Manoel, no Rio Guaíba. Sob o comando do comodoro Eduardo Ribas, o clube promoverá um passeio náutico até a ilha conquistada pelo ex-comodoro Mário Hofmeister.

De 1966 para cá, a ilha recebeu do clube muitas melhorias e constante manutenção, através do trabalho dedicado dos prefeitos da ilha, como são chamados os associados do Veleiros encarregados bianualmente de promoverem as melhorias na "Chico", como, dentre outros, Astélio, Tarragô, Pablo Miguel e Luiz Morandi que instalou iluminação na ilha com energia solar.

A ilha Francisco Manoel, no Rio Guaíba, é um paraíso. Com 750m na maior dimensão, a ilha é sub-sede do Veleiros do Sul, e está a 12 milhas náuticas do clube, entre Belém Novo e Lami, no município de Porto Alegre. Molhes de pedra, trapiches, prédios, mata nativa e praias. A flora e a fauna estão lá preservadas: de orquídeas a aranhas caranguejeiras, e de figueiras centenárias a bugios.

Como é que um clube náutico pode ter uma ilha assim?
Em dezembro de 2004, o ex-comodoro Mário Hofmeister contou ao Popa.com.br como conquistou a ilha para o Veleiros do Sul.

Comodoro aos 36 anos
A geração atual de velejadores, via de regra, apenas veleja. Mais do que construir barcos, a geração atuante no início do século passado construiu a infra-estrutura dos clubes que hoje usufruimos. E sem dinheiro, à base de quermesses, favores do governo, e muito suor e desprendimento.

Em 1964, Mário Hofmeister (na foto ao lado, em 2004), com apenas 36 anos de idade e 2 de clube, foi eleito comodoro do Veleiros do Sul.
O governo do estado do RS tinha dívidas com a empresa de Mário e não podia pagar em dinheiro. Em 1.966 o empresário foi convidado a aceitar uma área de terras em pagamento. Na lista de imóveis disponíveis, constava a ilha Francisco Manoel, já bem conhecida e apreciada pelos associados do Veleiros do Sul.

"Podia ter pedido a ilha para mim"
O ex-comodoro mostrou-se espantado com a disponibilidade da bela ilha.
- Então o senhor aceita a ilha em troca da dívida?
, perguntou a funcionária do governo.
- Não, respondi a ela, mas o meu clube quer.
"Podia ter pedido a ilha para mim, mas preferi que o clube ficasse com ela", disse Mário em entrevista na varanda do bar que costuma freqüentar.

Adquirida de Francisco Manoel pelo estado, para uso do extinto DEPRC (Departamento de Portos, Rios e Canais), a ilha estava abandonada. Durante anos foi utilizada como base para embarcações. Lá no alto do morro da ilha há um marco geodésico com queimador e chaminé. Acredita-se que a chaminé era utilizada para produzir fumaça para fins de referência a medições por visada de teodolitos em dias sem vento(?). No caminho pela mata da costa sul da ilha há uma ponte sobre a pedreira de onde vieram as pedras para os molhes construídos pelo DEPRC (hoje, SPH).

No peito e na raça
De volta ao clube, Mário comentou sobre a disponibilidade da ilha. Houve grande entusiasmo. Semanas após, o então governador do estado Ildo Meneghetti (foto) foi prestigiar uma regata de remo nas proximidades do porto, e o comodoro do Veleiros lhe foi apresentado. Sem perder a oportunidade, Hofmeister comunicou ao governador sobre o interesse do clube pela ilha e pleiteou a doação. O governador respondeu:
- Rapaz, esteja às 8h desta segunda-feira lá no Palácio que vou lhe atender
(Mário tinha 38 anos de idade).

Requerimento "bem bacaninha"
Houve grande mobilização e correria no Veleiros do Sul. Prepararam um documento apresentando os seviços que o clube vinha prestando ao Estado, principalmente por ocasião das enchentes (algo como hoje o clube ainda presta à Defesa Civil), e requereram a doação da ilha. "Contratei uma datilógrafa para fazer um requerimento bem bacaninha", lembra-se o ex-comodoro.

O governador acenou favoravelmente com a doação e informou que abriria um processo a ser encaminhado à SPE, a Secretaria de Patrimônio do Estado. Para acelerar o andamento, Mário levou o processo em mãos ao Secretário.

Em nova audiência, o governador disse ao ex-comodoro que não poderia fazer uma doação, já que não tinha maioria na Assembléia, mas que daria a concessão da ilha ao clube por 99 anos.

Gratidão desinteressada
Em 1.974, já como vice-comodoro de Ernesto H. Neugebauer, Hofmeister levou o ex-governador Ildo Meneghetti à ilha para mais uma vez agradecer-lhe e mostrar o resultado da concessão.
Esta foi uma atitude nobre e altruísta deste ex-comodoro que me chamou especial atenção. Meneghetti já era página virada.

Vinícius de Moraes na Chico
O Capitão Am. Eduardo Hofmeister, o Ferrugem, filho do ex-comodoro, contou que Mário levou outro convidado ilustre para a ilha Chico Manoel: o poeta Vinícius de Moraes. Mas isso é outra história que em breve contaremos.

A Chico
A ilha Chico Manoel é mantida com esmero. Toda a área teve a mata nativa preservada pelo Veleiros do Sul. Várias mudas de espécies nativas foram plantadas pelo clube. A ilha tem um prefeito nomeado pelo clube, a ele cabendo a administração do local e a implementação de benfeitorias. Na área mais utilizada pelos associados, junto à praia leste, há flores por todos os lados. A praia é coberta por figueiras centenárias. Existem caminhos pela mata, areia "penteada", e diversas churrasqueiras com pia sob as árvores próximas à praia.

Um galpão crioulo com churrasqueiras, gerador de energia elétrica para as instalações e iluminação da praia, e ainda água potável também fazem parte das benfeitorias implementadas pelo Veleiros do Sul. Em se tratando de infra-estrutura náutica, a sub-sede da ilha dispõe de canal de acesso, está protegida por dois molhes de pedra, e tem dois trapiches para veleiros de porte. Um funcionário permanente do Veleiros do Sul mora na ilha e zela por ela, auxiliando também na atracação dos barcos.

Homenagem
Feitos de resultado relevante como este do ex-comodoro Mário Hofmeister precisam ser divulgados. E ele, homenageado. E foi assim que na tarde do domingo, 19 de dezembro de 2004, como parte das festividades de comemoração do 70º aniversário do Veleiros do Sul, foi descerrada uma bonita placa lembrando a conquista da ilha.

A cerimônia foi presidida pelo Comodoro Manfred Flöricke. Em breve discurso o comodoro enalteceu o trabalho de Mário Hofmeister e a importância da ilha para o Veleiros. Dentre vários associados do Veleiros, prestigiaram o encontro os ex-comodoros Astélio dos Santos e Laszlo Bohm, e a família de Mário.
O comodoro ofereceu um coquetel aos presentes.

Além de Mário Hofmeister, foi também homenageado o esportista Henrique Licht, que participou do processo de concessão da Chico. Juntos descerraram a placa afixada na chaminé da lareira. Ary Burger, que também colaborou no processo de concessão, foi lembrado.

Que a conquista do ex-comodoro Mário Hofmeister sirva como exemplo do trabalho desinteressado em prol de uma comunidade.

Uma homenagem do Popa.com.br a Mário Hofmeister e a todos que se dedicaram para que a ilha Francisco Manoel continue sendo a maravilha que é.

(Matéria originalmente publicada em 20/12/2004)

VÍDEO

O Pai da Chico
Cenas com Mario Hofmeister contando sobre a conquista e cenas da ilha
O vídeo aparecerá na barra inferior do Google Chrome: clique em pai-da-chico".
Duração 3:30min

 


 

 

 

 

 

Links com fotos da Chico

A Chico em 1924
Manhã de Domingo
Fotos da Chico
Crianças na Chico
Foto por Luiz Gerbase
Mais fotos na Chico
Galpão da Chico
Carta de acesso
Caçando aranhas na Chico

 

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Cmte Emilio Oppitz, Dez 2004
MAIS UMA DO MÁRIO

O Mário Hofmeister também ajudou o Clube Náutico Tapense, do qual é sócio, e sabemos, gosta muito e onde tem muitos amigos,entre os quais, me incluo.
Na época em que o Mário foi Comodoro do Veleiros do Sul, era Capitão dos Portos em Porto Alegre, Maximiano da Fonseca, o que fez, pela proximidade de ambientes de trabalho houvesse uma aproximação entre eles e o nascimento de uma sólida amizade.
O Com. Maximiano da Fonseca seguindo sua carreira militar chegou ao posto de Ministro da Marinha, como todos sabem. O que a maioria não sabe é que os laços de amizade com o Mário, continuaram muito sólidos.
Em 16/12/92 o Navio Oceanográfico Álvaro Alberto incendeia e afunda próximo e Tapes. Após do fato o Clube Náutico Tapense é base de apoio para as diversas investidas da Marinha nas operações de rescaldo e estudos, visando o resgate do que restava do navio, o que acabou não acontecendo, estando até hoje no local do sinistro como curiosidade para quem navega por estes caminhos.
O Mário com sua visão e inteligência sentiu que poderia conseguir alguma coisa para beneficiar seu outro clube, o Clube Náutico Tapense.
Telefonou para o amigo "Max", Ministro da Marinha, e pediu que o óleo diesel que seria retirado dos tanques do navio sinistrado fosse doado ao CNT. O "Max", garantiu que o pedido do seu amigo seria atendido. Para oficializar, e seguir os trâmites, o Clube deveria oficiar a solicitação junto ao Ministério, o que prontamente foi feito.
Sem muita demora, recebemos a confirmação de que estava efetivada a doação, era só uma questão de tempo para filtrar e recuperar o óleo e o mesmo seria entregue ao CNT.
Quantos? Eram 50.000 litros.
Um belo dia chegou ao Clube, um convite para a Comodoria comparecer ao Comando do 5º Distrito Naval, para almoçar com o Almirante Luiz Philippe da Costa Fernandes, Comandante do 5º Distrito Naval, e receber oficialmente o óleo. Fomos.
Após uma reunião muito informal e um almoço com os procedimentos de Marinha (taifeiros, etc...) o óleo foi documentalmente entregue ao CNT, e combinada a ENTREGA EM TAPES.
Este óleo beneficiou sobremaneira o clube. Enquanto o preço do óleo subia o Clube ganhava, e, quando o preço foi congelado, vendemos, aplicando o dinheiro. Continuávamos ganhando. Muitas obras foram realizadas com este dinheiro, pois com autorização do Conselho Deliberativo eram feitas à vista, o que dava um bom diferencial de preço e a Comodoria repunha, em prestações, para o fundo.
Por ocasião da dragagem da marina do CNT, nos foi solicitada a quantia de 50.000 litros de diesel para que a mesma fosse realizada.
Homenageie-se o Mário. Ele merece.

Por Emilio Oppitz Adriana CNT