O Farolete "Pau do Hugo"
Hugo Sander, um velejador que deixou marca
Cmte Emilio Oppitz

Todos os velejadores que navegam a Tapes conhecem o farolete chamado Pau do Hugo, porém muito poucos conhecem a história desta marca que lá está para evitar encalhes no banco que acabou levando o mesmo nome. O banco do Pau do Hugo.


Hugo e o seu farolete

O Hugo muitos conhecem, principalmente os que navegam a mais tempo e lembram da dedicação que ele sempre teve pelo Clube Náutico Tapense e o carinho que ele tinha pelos navegadores que vinham até Tapes. Quanto tempo ele, como Diretor de Patrimônio, "pegava junto" com os funcionários, inclusive cumprindo horário, sem remuneração alguma. Só quem não gostava muito, eram os funcionários, porque ninguém ficava parado.
Comprou seu primeiro barco, um Guanabara de nome Edás, quando tinha 27 anos. Quantos ele tem agora? 75. Não é engano, 75 anos de idade, portanto lá se vão 48 anos de vela, mais tempo do que muitos dos que estão aí a navegar, tem de idade. Bota milhas nisto.
Atacava por todos os lados, inclusive ajudando os barcos que, por falta de sinalização encalhavam "naquele" banco, e o fazia pensar em sinalizá-lo.

Um dia, há pouco mais de vinte anos, velejando com sua família, no barco Adriana que era dele, confiando na experiência, errou e deu uma topada no banco, fazendo com que o chimarrão que sua esposa, a Regina, tomava, derramasse no seu colo. Foi a "cuia" d'água que o fez dizer - Amanhã vou dar um jeito neste banco.


Hugo com Emilio no Roncador (Saco de Tapes)

No outro dia, começou a providenciar o necessário para sinalizá-lo: um poste de eucalipto que mandou apontar para cravá-lo na ponta do banco. Um tonel foi preparado, pintado de vermelho e feito um corte em X no fundo para o pau, e arruelas para pregar em cima. Pediu para o Pedrinho, da Dilopes (Aviação Agrícola) uma moto bomba emprestada, no que foi atendido prontamente, como sempre a Dilopes fez quando solicitada pelo CNTapense.
Para transporte conversou com o Com. Adão Boeira dos Santos do Cartagena que topou a parada e levou junto seu filho Beto, garotão ainda. Com o Gringo (Alcione Tizzato) grande cabeça, boa vontade e força para ajudar. Hugo e seus dois filhos Fernando e Cristiano. Pronta a expedição.

No dia seguinte cedo, com calmaria ajudando, com o pau a reboque, e muita boa vontade, foram lagoa afora para, de uma vez por todas, marcar o tal do banco. Barco fundeado, desceram entre quatro, se espalharam pelo banco e caminhando pelas bordas até se encontrarem acharam a ponta, o lugar para cravarem a marca.
Trouxeram o barco para o lugar certo. Amarraram a mangueira de saída da moto bomba, próximo a ponta do pau com um cordão fraco, para depois poder soltá-la e tentaram por o pau na vertical, o que não conseguiam, pois ele tendia a flutuar, mesmo com o Hugo dentro da água tentando segurá-lo se agarrando nele. Era pouco peso. O Beto subiu, então, nos ombros do Hugo.


Hugo (à direita na foto) no Farol Cristóvão Pereira, em 1.967

Ligada a moto bomba, se foi o pau areia a dentro. Funcionou. Combinaram que quando o poste afundasse próximo de dois metros, deviam diminuir aos poucos a rotação da moto bomba, para que a areia movimentada pelo jato de água fechasse aos poucos o buraco, prendendo a ponta do pau e fazendo com que ele ficasse em pé. Outro sinal, seria do Hugo que estaria mergulhado, bateria no pau para que a rotação fosse diminuída.

As batidas do Hugo e os dois metros aconteceram simultaneamente, e o pessoal ao invés de diminuir a rotação, desligaram a moto bomba, fazendo com que a areia fechasse o buraco de uma só vez, e prendesse os pés do Hugo junto com ao pau, não deixando que ele subisse para respirar, fato agravado ainda, pelo peso do guri nos seus ombros.
Derrubou o Beto e se debatia tentando desenterrar os pés, que teimavam em não sair do buraco, porém teve a idéia de usar o pau de eucalipto, para subir, e, assim conseguiu se soltar. Foi por pouco.
Ele conta, que viu a coisa preta. Chegou a inalar água que ainda tinha areia em suspensão, o que fez com que ficasse vários dias com problemas de respiração. As narinas ardiam, assadas pela areia.
A mangueira, que injetava a água, e que se enterrou junto, teve de ser cortada, pois a areia fechou tão rápido que ficou presa e não se soltou mais.


Hugo, na proa do Supimpa (Emilio em primeiro plano)

Estava quase terminado o trabalho. Faltava só colocar o tonel vermelho por cima da ponta do pau, pregá-lo e vir embora. Feito o trabalho. Problema resolvido. Este banco não incomodaria mais, porque a informação passada de uns aos outros fez com que, quem viesse a Tapes, já vinha procurando o "Pau do Hugo" que lhe dava segurança para passar pela ponta do banco sem encalhar.

Várias vezes o tonel teve de ser pintado, o que o Hugo providenciava.
Ao mesmo tempo o Clube gestionava junto ao DEPREC, na época, por uma sinalização oficial, com faroletes lá no Pau do Hugo e na entrada do canal de acesso a marina.
Finalmente o pleito foi atendido, e hoje temos o Farolete do Pau do Hugo, luminoso e com sua manutenção feita pelos órgãos oficiais.

Custo para o Clube? Nada. Todo o pessoal fez aquilo com o intuito apenas de ajudar os navegadores que passavam por ali. Já eram navegadores e lembram com orgulho aquela passagem. Têm consciência da importância do que fizeram, e, com certeza o fariam hoje outra vez, se fosse necessário.

E quanto ao nome temos a certeza de ser uma justa homenagem à esta pessoa tão especial que foi o primeiro a se preocupar com aquela marca e o fez desinteressadamente, senão pensando na coletividade náutica, e quase dando sua vida para faze-lo.
Esperamos que um dia haja o reconhecimento oficial deste trabalho e que nas novas cartas náuticas encontremos ao lado da marca, o nome de "FAROLETE DO PAU DO HUGO".

O ponto de passagem pelo Farolete do Pau do Hugo é:
S30º 46,0560' W051º 21,1482' (WGS84. Marcado pelo Cmte Emilio Oppitz).

Hugo segue velejando no Supimpa e também como tripulante no barco de amigos

Track contornando o Farolete Pau do Hugo

 

Hugo Sander e Mário Hofmeister no Clube Náutico Tapense (Fev 2005)

Celso Chagas Ribeiro

 

"Se perguntares pra turma que hoje vem aqui, ninguém conhece o Hugo, mas se perguntares aos mais antigos, e que hoje não vêm mais, pois não tem um filho como o Ferrugem que leva o pai a navegar, todos lembram dele".
(Comandante Emilio Oppitz, Tapes, dando o recado)
Fev 2005

 

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