Como surgiu a vela em Porto Alegre 05 Ago 2004 Sendo o Guaíba um dos estuários mais lindos do Brasil, banhado pelos rios Jacuí, Caí, rio dos Sinos e Gravataí, com uma extensão de cerca de 30 milhas até alcançar a entrada da Lagoa dos Patos, não se compreendia a razão porque o iatismo não surgira ali há mais tempo. Em Porto Alegre, sempre houve em diversas épocas, quem aparecesse com algum veleiro e assim como surgia desaparecia das águas do Guaíba. O signatário deste artigo também teve o seu primeiro barco a vela pelo ano de 1910 ou 1911. Naquela época, não existiam clubes de vela – nem tampouco abrigos garantidos para a ancoragem. Foi por volta de 1932 que começou um surto de entusiasmo, tendo à frente Ewaldo Ritter, Bruno Weimann, Cônsul inglês sr. Carwell e outros que mandaram construir dois barcos no estaleiro de Roberto Funck, na Ilha Grande. Por iniciativa de Ewaldo Ritter e para que houvesse um ponto certo para tratar da construção dos primeiros barcos, visto que para ir ao estaleiro distante, na Ilha Grande, seria um tanto difícil, marcaram-se os encontros em todas as quartas-feiras num bar próximo ao porto. Aí então reuniram-se os interessados na construção dos primeiros barcos, que marcariam o início da vela em Porto Alegre. Mais tarde, quando os barcos já sulcavam as águas do Guaíba, fixaram no “Liliput” o ponto de reunião dos novos veleiros e dos adeptos da vela. Continuava dia fixo, todas as quartas-feiras, e para lá era atraído todo aquele que fosse visto navegando em algum barco a vela, ou que de alguma forma mostrasse simpatia pelo novo esporte. Um belo domingo, com magnífica brisa, velejava no meu segundo barco a vela, o “Bavária”, da classe 22 m, quando vi que o barco irmão, “Ariela”, procurava nos alcançar. De regata nada entendia e era meu instrutor Jacó Zeller, a quem havia adquirido o “Bavária”; Zeller supoz ser intenção do construtor Funck fazer a experiência para ver qual corria melhor. Mas, puro engano. Não havia interesse em regata e apenas em conquistar mais um adepto às reuniões das quartas-feiras no “Liliput”. Desde este convite de “Alto Mar” tornei-me assíduo freqüentador das reuniões dos “Veleiros Avulsos” do Guaíba. A semente lançada por Ewaldo Ritter foi duma fertilidade incalculável, prosseguindo até hoje as reuniões das quartas-feiras, porém na sede dos “Veleiros do Sul”. Foi portanto no “Liliput” que se formou a atual geração de veleiros. Foi do entusiasmo daquele pequeno grupo que se realizou a primeira regata a vela, sob o patrocínio do “Grêmio Náutico Gaúcho” a cuja frente estava o grande animador dos esportes especializados Luís Pinto Chaves Barcellos, cabendo a Roberto Bromberg a sua organização. Foi no “Liliput” que se resolveu construir um “Porto dos Veleiros” com garage para guardar o material e Estaleiro para construção dos barcos. Foi ainda no “Liliput”, no dia 12-12-1934, que se resolveu fundar o clube dos “Veleiros do Sul”. Tudo quanto se tratou naquelas reuniões em volta da mesa de “chopp” foi realizado e com sucesso; haja vista o brilho com que os veleiros gaúchos sempre voltaram das competições quer nacionais, quer internacionais. No entanto, a coisa mais importante, o que entrava o desenvolvimento do Yachting Gaúcho, não foi tratado no “Liliput”. Senão, quem sabe ? até isto estaria feito!...
É que naquela época, éramos modestos veleiros. Navegávamos em barcos de bolina, que com pequeno auxílio se encalhava na praia. Mas hoje, que possuímos barcos de quilha de 2 a 10 toneladas, é que sentimos e notamos a falta dos abrigos, não só para ancoragem como para refúgio nos dias do “minuano” ou quando se perturba o tempo. A costa leste, que é a costa de Porto Alegre, não dispõe em toda a sua extensão, 30 milhas, dum único abrigo natural.
Porto Alegre se presta admiravelmente para possuir abrigos artificiais, que poderão ser feitos com pouco dispêndio. Na zona em que está situado o “Clube dos Jangadeiros”, na Tristeza, a natureza está auxiliando a obra a ser feita. Existe um banco de areia que vai da Ponta do Dionísio (Vila Assunção) à Ponta do Caximbo. Aí poderia ser feita uma ilha, com o aterro retirado da parte entre a costa e o banco. Teríamos dois proveitos. Um que tornaria navegável o antigo canalete e outro com a ilha construída sobre o banco dando excelente abrigo para os iates de maior calado. Da costa se faria um aterro aproveitando uma entrada de trapiche, que a protegeria dos ventos do sul. Construída a ilha, haveria duas entradas: uma junto à Ponta do Dionísio (Vila Assunção) e outra abaixo do extinto Iate Clube (Yacht Club Porto Alegre) . Esta obra seria agora viável, aproveitando-se o importante trabalho contra as enchentes que o Governo Federal está fazendo sob a competente direção do dr. Hildebrando de Góis.
A Federação de Vela e Motor do Rio Grande do Sul, que está muito interessada no assunto, já esteve em contato com o Interventor Federal, Sr. Cel. Ernesto Dorneles, expondo a idéia, e conta com a simpatia da realização dessa aspiração. Também o Dr. Laerte Brígido, Diretor do Departamento de Obras e Saneamento do Ministério da Viação, mostrou-se muito interessado em ir ao encontro dos Veleiros Gaúchos mandando o Dr. Camilo Menezes fazer um estudo no local. Da mesma forma encarou o problema o Dr. Breno Hofmann, Diretor da C.P. do 765, que acha viável a construção da ilha artificial e sem prejuízo à navegação. Para melhor orientação do que se pretende, apresentamos um desenho com a projetada ilha dos Jangadeiros. A ilha terá 100 metros de largura por 1.000 metros de comprimento.
Está prevista a construção dum estaleiro de reparações, com carreira para iates de 2 ½ m de calado, residências para os empregados e marinheiros dos iates, departamento de pesca do Clube dos Jangadeiros e garages para barcos de vela e remo. Se o Governo do Estado apoiar a pretensão da F.V.M.R.G.S., então estará resolvido o problema da Vela Gaúcha em Porto Alegre.
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Transcrito por gentileza do Comandante Carlos Altmayer Manotaço Gonçalves, em 14 de julho de 2004.
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