A classe Transat 6.50
Uma proposta para construir os Minis no RGS
Felipe Susto Loss

24 Out 2007
Yves Le Blevec venceu a Transat 650 na categoria dos protótipos com um terceiro lugar na primeira perna (5 d 20 h 46 min 34 s ) e um primeiro na segunda (17 d 6 h 35 min 2 s) totalizando 23 dias, 3 horas, 43 minutos e 24 segundos de travessia do Atlântico em solitário num veleiro de 6,5 metros. A velocidade média dele na segunda perna foi de 7,36 nós.

Os seus principais concorrentes, Isabelle Joschke e Samuel Manuard, respectivamente primeira e segundo na primeira etapa sofreram avarias assim como tantos outros. Esta edição da regata está tendo alguns fatos interessantes: até onde eu sei foi a primeira vez em que todos concorrentes (89 barcos) terminam e uma mulher vence uma das etapas. Provavelmente se não tivesse quebrado poderia com certeza ter sido a primeira a vencer o evento também.

Prova de resistência
Quebras são uma constante no evento. Gosto de comparar as regatas da classe mini com as provas de resistência do automobilismo (abandonos desde a largada e principalmente perto do fim quando o desgaste dos equipamentos é maior). Na primeira etapa da Transat 650 deste ano houve alguns, mas felizmente todos conseguiram concluir a etapa, inclusive um barco de série que teve uma cruzeta do mastro quebrada e conseguiu chegar em terra na costa norte da Espanha para reparo e seguir caminho.

Perdido no mar
Nesta primeira fase um dos favoritos, Alex Pella, errou o caminho da chegada se dirigindo para uma das ilhas rochosas do arquipélogo de Madeira dando um susto na organização, corrigiu o rumo a tempo de evitar um acidente mas perdeu várias posições. Tudo porque uma pane no sistema eletrônico o deixou sem piloto automático (isso que é quase um padrão levar no mínimo dois a bordo, iguais ou um hidráulico e outro elétrico) a dois ou três dias da chegada, obrigando-o a seguir direto no leme.

A largada da segunda fase já contou com um velejador a menos por recomendações médicas. São relatadas freqüentes dores nas costas, lesões e às vezes até problemas mais graves principalmente com uma flotilha tão numerosa. Neste caso específico parece que foi problema cardíaco e/ou de pressão e como a segunda perna é muito longa, com dificuldades com o sono, má alimentação e hidratação, seria arriscado ele seguir. Um dos eslovenos (barco 510) sofreu uma colisão no costado e retornou para avaliar os estragos logo na largada (foto bem abaixo). Fez um reparo rápido e voltou para a regata sem grandes prejuízos no tempo.

Falha no posicionamento
Um problema generalizado está sendo a falha dos transmissores de posicionamento, talvez por falta de carga na bateria interna do aparelho. O próprio vencedor da regata desde o início da segunda perna ficou sem o posicionamento do restante da flotilha, correu sozinho sem saber se estava na frente ou atrás dos seus concorrentes, quem havia abandonado a regata ou não.

Avarias
O espanhol Alex que terminou a primeira etapa sem piloto teve o mastro trincado (foto), voltou, reparou, largou de novo e mais tarde abandonou com a ruptura do mesmo. A Isabelle voltou para reparar o sistema pivotante do gurupés perdendo a chance de continuar na liderança. Fica a dúvida se a decisão foi acertada ou não, ela poderia ter seguido na frente da flotilha com o gurupés fixo, sem rotação, amarrado no convés. Talvez não perdesse tanto desempenho e ainda estivesse entre os primeiros.

O Manuard, que ficou em segundo na primeira etapa, também retornou para refazer a laminação de carbono em torno do fuzil de proa (foto), provavelmente algum problema construtivo (barco 2007). Com o passar da regata e a aproximação do destino (mais de 17 dias direto no mar exigindo tudo dos barcos) já houve outros problemas mastros, lemes, elétricos, de pilotos e velas. A maioria destes, reparáveis no mar, só ficaremos sabendo com a chegada de cada um dos concorrentes.

Como se pode ver, não são só os Volvo 70 e os barcos brasileiros que quebram e apresentam defeitos, todos estão sujeitos a isso, principalmente nos protótipos que são criados no limite da regra, que por sinal tem um bom coeficiente de segurança. Neste caso uma instalação mal feita, um defeito de fabricação, uma bolha ou impureza num laminado em local de responsabilidade, um simples jibe acidental, uma manobra mal feito ou uma colisão com um objeto flutuante não identificado podem ser catastróficos nestes barcos extremados. Os componentes de carbono bem feitos são várias vezes mais resistentes do que os de alumínio por exemplo. Mas o carbono é um material frágil que na maioria das vezes não apresenta visualmente os sinais de fadiga, podendo surpreender qualquer um.

Adaptação à rotina
Para concluir, existe levantamento sobre os vencedores da Mini Transat ou Transat 650 versus experiência na regata. A maioria quase absoluta dos vencedores deste evento o conseguem na segunda ou terceira tentativa. Não basta treinar, ajustar, corrigir e melhorar os barcos, é necessário se adaptar na prática a uma rotina intensa e equilibrada para tocar o barco com todo seu potencial e por tanto tempo. Toda essa complexidade que envolve tecnologia, planejamento, disciplina, persistência, auto-suficiência e superação é que tornam a Classe Mini tão atrativa!

Classe Mini on line
Para acompanhar o desfecho da regata acesse o site oficial do evento: www.transat650.org , a versão em francês está sempre atualizada, em inglês quase sempre um pouco defasada e em português nem vale muito a pena.
Para saber sobre a organização da classe internacional, regras, e atualidades acesse o site oficial da classe: www.classemini.com.

Um outro site muito bom e com bastante informação sobre a classe é www.minitransat650.com, possui um fórum em várias línguas com muita informação técnica. O site oficial da classe Mini no Brasil é o www.classemini.com.br

Classe Mini no Brasil
Existe um movimento no Brasil para tornar a classe mais popular e inseri-la numa série de eventos nacionais como Santos-Rio, Vitória-Trindade, Refeno e outras. Porque não também na volta da ilha de Florianópolis, Seival e Cayru!? Só é necessário ter um número mínimo de 3 barcos inscritos por evento. Pelo sucesso da Cayru em solitário e do número de inscritos na Santos-Rio Solo que ocorrerá fim de semana que vem fica claro que interesse por esse tipo de regata existe.

Proposta
Se alguém tiver interesse em adquirir/construir um barco da classe pretendo trazer os moldes em breve para o RS e fabricar o meu seguindo a risca o projeto original do Samuel Manuard, sem materiais exóticos, com supervisão direta do trabalho para que saia dentro dos padrões de qualidade e segurança exigidos. Será muito interessante fazer um pacote com mais alguns interessados para reduzir custos e otimizar o processo. A intenção não é ter lucro e sim amortizar o investimento efetuado nos moldes e ter o maior número de barcos na água. Para mais detalhes os interessados podem me contatar pelo e-mail fvloss@via-rs.net. Qualquer dúvida sobre a classe ou informações sobre outros modelos de minis, inclusive alguns para construção amadora em madeira epóxi, estou a disposição!

Abraço e bons ventos,
Felipe Vier Loss

Fotos: Divulgação transat e Forum transat

 



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