A viagem do Liberdade
Joshua Slocum
Sinopse de Roberto Gruner

Depois de muita procura consegui encontrar, em Porto Alegre, o livro A Viagem do Liberdade, narrativa do conhecido Joshua Slocum sobre suas aventuras com o Aquidneck e, posteriormente, a construção e navegada do Liberdade, saindo do Brasil rumo ao USA em 1888. Importante ressaltar que tudo isto antes de realizar uma das maiores façanhas náuticas da história quando, a bordo do Spray, tornou-se o primeiro marinheiro a completar uma navegação em solitário ao redor do mundo. Este fato é de conhecimento do meio náutico através de seu livro Navegando solitário ao redor do mundo (Sailing alone around the world).

Em 28 de fevereiro de 1886 o Aquidneck partiu de Nova York rumo a Montevidéu. Em sua tripulação, constavam a esposa de Joshua Slocum, e seus dois filhos, Victor e Garfield, respectivamente com 14 e cinco anos.
Após várias tormentas, um surto de varíola a bordo e um motim, o Aquidneck naufragou na Baía de Paranaguá, Paraná, pouco depois do Natal de 1887. Sem recursos para retornar aos USA, o navegador e sua família dão início ao plano que os levaria para casa em uma pequena embarcação de 35 pés de comprimento e 7,5 pés de largura máxima.
Lançada em 13 de maio de 1888, dia da abolição da escravatura no Brasil, a canoa foi batizada de Liberdade, em português.

Zarparam em 24 de junho da Baía de Paranaguá e 55 dias depois chegaram a costa norte-americana.
O texto é de uma narrativa simples e que destaca as observações do autor com referência a locais e seus habitantes. Alguns momentos são de uma atualidade que surpreende e faz com que esqueçamos o tempo já transcorrido:

- ... fomos para Antonina, no Brasil, para buscar um carregamento de mate, uma espécie de chá que, preparado como um drinque, é salutar e revigorante. É compartilhado pelos nativos de maneira altamente sociável, por meio de um tubo que é enfiado na bebida fumegante em uma urna de prata ou cuia, que acontece de estar sempre à mão quando “camaradas bebedores encontram camaradas”....Enquanto estive neste país, participei com freqüência das rodas sociais de mate e finalmente deleitei-me com minha própria bombelia. (para nós gaúchos o texto é claro, o Slocum tomava chimarrão, não é uma honra?)

-... estes pampeiros (ventos dos pampas), em geral sopram com grande fúria, mas dão um bocado de avisos de sua chegada: o primeiro sinal é um período de inigualável bom tempo, com pequena nuvens felpudas flutuando tão mansamente no céu que mal se percebe seu movimento, apesar de se moverem como um imenso rebanho de ovelhas pastando serenamente no imenso campo azul. Então, gradualmente, e sem nenhuma causa aparente, as nuvens começaram a se amontoar em grandes grupos; um sinal que a tripulação identificou. A seguir veio um lampejo de fogo por de trás das massas que se acumulavam, e na seqüência um ruído ribombante ao longe... (quem já enfrentou um pampeiro pode confirmar esta descrição feita em 1886).

São narradas outras curiosidades, como a difícil navegação no Rio da Prata (que persiste até nossos dias) e as eternas dificuldades com as autoridades portuárias e fiscalizações burocráticas.

A Viagem do Liberdade
Autor: Joshua Slocum
Editora Planeta do Brasil Ltda., 154 páginas
Coordenação e apresentação: Eduardo Bueno
Publicação original: há quase 120 anos
Publicação atual: 2005