Piratas
Uma história geral dos roubos e crimes de piratas famosos
Comentários do Comandante Rodrigo Beheregaray

PIRATAS: uma história geral dos roubos e crimes de piratas famosos. Cap. Charles Johnson. E. San Martin editor, Editora Artes e Ofícios, Porto Alegre, 2003. 430 p., ilustrado.

ISBN 85-7421-096-x

CAPA, CONTRA-CAPA e ORELHAS

Um livro que aborda a política interna, a disciplina de bordo, as façanhas e aventuras de 19 criminosos célebres da Era de Ouro da pirataria (1717-1724).

O misterioso autor deste livro não deixou rastros, biografia. Mas o principal ficou: um livro que se constituiu na primeira e até hoje insuperável crônica historiográfica de homens do mar que viveram sustentados por roubos, crimes, que conheceram todos os riscos, todos os revezes, todas as vitórias. Estas páginas escritas por um intenso conhecedor daquele mundo remoto, mas ainda presente, nos remetem à profunda atmosfera de tensão e fascínio na qual viviam mergulhados homens que não mediram esforços nem coragem em busca de fortuna e glória. Este livro é um monumento à aventura insana desses homens poderosos, assassinos e suicidas.

Piratas são recorrentes da história moderna. Saqueadores em alto mar, protagonizam batalhas ferozes, cenas onde o limite do homem é constantemente testado. Coragem, crueldade, sede de poder, persistência e resistência são algumas das marcas desses seres que nem parecem de carne e osso. Ao longo dos séculos foram se fixando no nosso imaginário, e hoje fazem parte de uma mitologia básica da raça humana.

A história da pirataria é um capítulo inesquecível da história do homem descobridor, e sobretudo daquele homem municiado pela ambição e impiedoso com seu semelhante, a quem não perdoa a fragilidade e de cujas posses se adona. Piratas nos causam horror e fascinação, representam uma espécie de mito (embora tenham sido bem reais) que nos persegue desde a infância. Mas quem é Charles Johnson, o cronista – com muito conhecimento de causa – das façanhas ensandecidas de 19 entre os maiores piratas? Do autor deste livro não restou uma única pista biográfica confiável. O livro, aliás, já foi até creditado a Daniel Defoe, o autor de Robinson Crusoe.

E. San Martin, com a técnica do jornalista e o método do pesquisador, tornou acessível para a língua portuguesa – não só traduzindo, mas recontando – uma literatura documental só acessível em pesados volumes originais. Nela, inimigos públicos abrem a alma severa e sem ilusões para retratar um tempo onde, ao invés de peixes, só lobos pareciam viver no mar.

E. (Eduardo) San Martin é jornalista e tradutor. Reside atualmente em Nova York e já foi correspondente de diversos jornais brasileiros em NY e Londres. E autor de, entre outros, Terra à Vista – histórias de náufragos..., Prêmio Açorianos de contos 1999; A Viagem do Pirata Richard Hawkins (1593-1594), Prêmio Açorianos de narrativa longa 2002; O Caminho de Eldorado – a descoberta da Guiana por Walter Ralegh em 1595, todos lançados por esta editora.

SINOPSE

O livro, por vezes muito bem detalhado e narrado, trata de um apanhado geral de alguns piratas entre especificamente os anos de 1717 e 1724, época de franca colonização de alguns países em terras recentemente descobertas ou em plena comercialização de produtos extrativistas e especiarias além de, é claro, metais e pedras preciosas.

A pirataria, talvez tão antiga quanto o comércio utilizando-se da navegação, foi acirrada e incrementada nesta fase de grande desenvolvimento da navegação exploratória, mercantil e armamentista pelos países mais desenvolvidos e ricos, onde não raro uma tripulação destemida, porém mal tratada por seus comandantes, se amotinava e passava a piratear e cometer os crimes mais bárbaros. Ao mesmo tempo vemos, mediante um estudo muito bem realizado pelo autor, os detalhes dos julgamentos na época e a sua condução onde, excluindo-se questões da pena capital, pode-se observar um período na evolução dos interrogatórios, averiguações de dados, fatos e testemunhas de defesa para os crimes cometidos pelos réus acusados e que permitiram um avanço na justiça aos moldes da que funciona hoje em dia.

O autor esforça-se não apenas por apresentar personagens piratas e seus feitos criminosos, como quem coleciona histórias de "Serial Killers" e tenta também aglutinar destes o máximo de informações possíveis à fim de os caracterizar, ou mesmo fazer um estudo de personalidade, do que levou estas pessoas a agirem desta forma. O como, o porquê, quais as conseqüências e mesmo como evitar as atividades de pirataria, lucidamente avaliadas e sugeridas como grande mal ao bom desenvolvimento dos povos, das economias e mesmo da paz, é constantemente avaliado pelo autor. Este estudo, muitas vezes tentando também ser o mais verídico possível, fez com que anexasse aos textos documentos com a citação de tripulações, cópias de cartas ou de julgamentos e testemunhos que por horas torna um pouco enfadonha a leitura.

O livro traz algumas ilustrações em P/B, em reproduções de xilogravuras ou litogravuras da época, de cenas de piratas em atividade ou mesmo de retratos daqueles descritos que enriquecem a obra. O trabalho de tradução parece muito bom, permitindo uma compreensão em uma linguagem atualizada, pois sabemos que na época, além de um inglês arcaico, o quão enfadonho era pelo barroco nas citações, homenagens e descrições hora de uma ou outra pessoa, especialmente autoridades, e de todas as firulas padronizadas na escrita.

Sobre a identificação do autor deste livro, que vendeu fantasticamente mais de um milhão de cópias na época de seu lançamento, mereceria, se fosse possível, um outro livro. É um mistério completo a sua origem. Poderia ter sido um ex-pirata, que teria ganho um indulto do Rei, que demonstra grande conhecimento de pessoas, fatos e detalhes da vida marinheira de um pirata. Ao mesmo tempo, o que não excluiria necessariamente a condição de ter sido pirata, pois muitos nobres e intelectuais teriam se tornado um, demonstra ser uma pessoa de fino trato com o dom da escrita e da oratória. Por muito tempo a autoria, usando pseudônimo de Cap. Charles Johnson, teria sido atribuída ao grande escritor Daniel Defoe, porém não há muitas evidências sobre isso. Na época existiria um certo capitão com este nome e que atuaria na marinha mercante inglesa, porém caso o fosse, nunca teria escrito outro livro e nunca se soube que o mesmo fosse uma pessoa dada a arte da escrita sendo quase um completo desconhecido. Ainda, teria sido cogitada a autoria a um ator dramaturgo em que representava uma peça nesta época onde usava o pseudônimo de Cap. Charles Johnson. Em sumo, é um verdadeiro mistério tal qual muitas histórias de tesouros enterrados, embarcações e tripulações desaparecidas.

O livro é um clássico e merece ser lido com atenção para todos os amantes não apenas do tema náutico e histórico como também para aos que pretendem conhecer mais a alma humana.

LISTA DE PIRATAS DESCRITOS

Capitão Henry Avery e tripulação
Capitão John Martel e tripulação
Capitão Edward Teach (Barba Negra) e tripulação
Major Stede Bonnet e tripulação
Capitão Edward England e tripulação
Capitão Charles Vane e tripulação
Capitão John Rackam e tripulação
A pirata Mary Read
A pirata Anne Bonny
Capitão Howell Davis e tripulação
Capitão Bartholomew Roberts e tripulação
Capitão Thomas Anstis e tripulação
Capitão Richard Worley e tripulação
Capitão George Lowther e tripulação
Capitão Edward Low e tripulação
Capitão John Evans e tripulação
Capitão John Philips e tripulação
Capitão Francis Spriggs e tripulação
Capitão John Smith e trip.
Capitão William Kidd e tripulação
Philip Roche e tripulação

Boa leitura.

Asterix
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Rodrigo Beheregaray