Vento em popa: o mito do melhor vento
Saiba o que é VMG - Velocity Made Good
Paulo Angonese

Este artigo procura esclarecer em que condições você pode atingir o melhor desempenho de seu veleiro, considerando o ângulo do vento em relação ao barco. Para isto discorreremos de conceitos como diagrama polar e VMG - Velocity Made Good.

Desde já esclareço que não sou profissional da área, apenas velejo, sou curioso e interessado no assunto da vela. E acredito que compartilhando tais informações o esporte à vela se tornará mais prazeroso. Mais um adendo: nesta área de nada adianta teoria sem muita prática.

Certamente você já ouviu a expressão "de vento em popa", como uma referência a que tudo está muito bem e na melhor velocidade possível. Provavelmente ela seja do tempo das caravelas, pois o melhor desempenho nos veleiros atuais dificilmente se dá com o vento entrando diretamente pela popa, ou seja, em popa rasa.

Geralmente a melhor velocidade, considerando o uso da grande e do spinnaker, se dá com o vento entrando na alheta, ou 3/4. Porém o ângulo ideal depende do projeto do barco, das velas utilizadas e da intensidade do vento.

Outra questão que geralmente ocorre é qual seria a melhor opção para vento a 90º: gennaker ou spinnaker ou mesmo uma genoa. O diagrama polar poder responder estas e outras questões.

O Diagrama Polar
Para descrever o comportamento de determinado barco nas variadas condições de intensidade e ângulo de vento utiliza-se o Diagrama Polar. Nas projetos mais modernos ele tem sido fornecido pelo fabricante. A figura Diagrama Polar Farr 36 é um exemplo. Tomando-o como base vamos descrevê-lo.

Do eixo vertical partem círculos representando a velocidade em knots. Do centro do eixo partem raios indicando o ângulo do vento em relação à embarcação. No gráfico existem linhas que representam a velocidade de deslocamento do barco (comprimento do raio) para determinado ângulo e velocidade do vento. A velocidade do vento é indicada com um número sobre esta linha. Observe que existem 2 grupos de linhas: as superiores, quando utilizando a genoa, e as inferiores o spinnaker.

Por exemplo: com vento de 30 knots a 90º este barco desenvolveria um pouco menos de 12 knots. É claro que na prática, depende de outros fatores como correnteza, tamanho e direção das ondas, trimagem das velas, etc...
Note que para esta mesma condição o uso do spinnaker faria cair o rendimento do barco para menos de 10 knots!

VMG: Velocity Made Good
Considere que seu objetivo está bem à vante, 0º. E o vento sopra exatamente nesta direção. O comportamento normal seria rumar direto ao alvo. Apesar de saber que orçando um pouco mais o barco poderia ficar mais rápido, ele estaria percorrendo uma distância maior (tendo que fazer o jibe mais adiante). Ocorre que esta velocidade pode ser maior o suficiente para que o tempo de chegada ao destino seja menor do que em popa rasa.
Esta velocidade de aproximação de um ponto é conhecida como VMG: Velocity Made Good.

O diagrama polar também representa a VMG, considerando o destino a 0º. Basta projetar a velocidade encontrada no gráfico sobre o eixo y, ou multiplicar pelo coseno do ângulo do vento.
Este gráfico também indica a melhor VMG para vento em popa e para a orça. São os pequenos quadrados.
Observe mais uma vez, que apesar deste barco orçar até 30º, a melhor VMG está entre 40º e 50º, dependendo da velocidade do vento.

No segundo exemplo, Diagrama Polar Catalina 34, o comportamento é bem diferente pois, além de ser um projeto diferente, a análise é apenas para vela grande e genoa 150% (sem spinnaker).
Note que melhor velocidade de deslocamento, ou SOG (Speed Over Ground), é no través.
Este diagrama também indica o melhor ângulo para popa considerando a VMG (Best down Wind 178) e para orça (Best Tack 46).

No terceiro exemplo, Diagrama polar Shipman 50, observe a diferença de rendimento no través entre uma Code 0 Gennaker e uma Spinnaker.

Sugestões
Conhecer melhor o desempenho do seu barco certamente poderá ser útil. Em regatas pode não ser muita vantagem seguir em popa rasa até a próxima bóia. Ou se você estiver orçando poderá chegar antes folgando um pouco. Para cruzeiros poderão ser poupados vários minutos para o próximo waypoint.

Mas se o projeto do seu barco é antigo, e V. não tem o diagrama polar, e nem como consegui-lo, como fazer?
- se você tem um GPS procure a função VMG e passe a utilizá-la nas navegadas. Se pretende comprar um GPS inclua a função VMG como requisito.

- se você tem um GPS sem VMG ou um speedometro anote as velocidades e os respectivos ângulos. Em casa monte seu diagrama. A VMG é a velocidade medida x coseno do ângulo.

- se não tiver um GPS procure conseguir um emprestado, e faça seu próprio diagrama polar. Apesar de não constar a velocidade terá uma boa noção do comportamento do seu barco. Se tiver ou conseguir um
anemômetro, melhor ainda.

Para as medições procure escolher um dia com um vento firme, com poucas rajadas e rondadas.

Boas VMGs!

Paulo Angonese

Fontes de consulta:
Performance Prediction, Farr Design Ltd, Nov 2002
Polar diagram for shoal draft keel, MKI, Ago 2005
Shipman - Carbon Yachts

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