Danilo Chagas Ribeiro

20 Set 2005
A segunda etapa do XIV Circuito Conesul teve ventos favoráveis, apesar do tempo frio e com um pouco de chuva. Durante o hasteamento das bandeiras e da execução dos hinos nacional e rio-grandense, 35 barcos preparavam-se junto à marina pública, no porto de Porto Alegre. Após o breve discurso do comodoro do Veleiros do Sul deu-se início aos procedimentos da largada, "de gala", com contagens regressivas e comentários sobre a sinalização da Comissão de Regata pelo rádio VHF.

O vento chegou a 24 nós no Guaíba, próximo à Ponta Grossa. Estava frio e o dia que começou algo ensolarado, ficou feio, com alguns chuviscos. O rio estava bem acima do normal, quase cobrindo os trapiches do Veleiros. A correnteza era forte e havia muita madeira descendo o rio, incluindo árvores inteiras.

Classes e Regatas
O porto fica ao norte da cidade, onde nasce o Rio Guaíba. De lá, os barcos desceram o rio (veja imagem mais abaixo), com trajetos diferentes de acordo com as classes (O'DAY23, RGS e ORC Club). Compondo o Circuito, havia o Troféu Seival, a Regata Farroupilha e o Velejaço Farroupilha.

Fita azul - chegando de madrugada
O trajeto mais longo no Circuito Conesul foi o da classe ORC Club, que desceu todo o Guaíba, entrou na Lagoa dos Patos, onde descreveu um longo triângulo, e subiu o rio de volta, em um total de 89 milhas náuticas, ou 164km. O veleiro "fita azul", assim chamado o primeiro a chegar, foi o Tanicts do Comandante Aristóteles Bourscheid (foto abaixo). Realizaram o percurso em 14:21h, chegando à 01:56h da madrugada do dia 18. Veja imagem e horários mais abaixo.

Fazendo borda no frio
O comandante geralmente é o timoneiro. Os demais tripulantes "fazem borda" na maior parte do percurso, isto é, ficam sentados na borda do veleiro com as pernas para fora, para manter o barco menos adernado, e assim melhorar sua performance (foto ao lado). Imagine o que seja isso, embarcado durante horas.

É preciso estar em forma para suportar a empreitada, sem encosto para as costas, no frio, madrugada adentro.

Borda falsa
E para complicar, alguns barcos têm "borda falsa", como os Delta e os Fast. É um perfil metálico vertical colocado em toda a extensão do convés. Ao sentar-se na borda, a parte de baixo dos joelhos dos proeiros apóia-se sobre o tal perfil, forçando os tendões. É um incômodo razoável.

A solução que alguns comandantes encontraram para isso foi revestir o perfil com espuma, borracha, ou cano de PVC, o que pode reduzir o desconforto.

Incrível!!!
O Comandante Henrique Ilha, 75 anos (Veleiros do Sul), participou do Circuito Conesul no seu veleiro Aquário II. A bordo com o Comandante e a Imediata Walmy, estava o filho Pedro, a filha Mariá, a neta Mariana, e mais uma neta. Haviam 7 Ilhas a bordo, e não lembro do nome de todo o arquipélago, incluindo um neto, velejador que acompanha o pai, Nelson, que é juiz internacional da ISAF, a Federação Internacional de Vela, e estava velejando na Espanha naquela data. Outro neto do casal Ilha velejava no Conesul, mas em outro barco.
Três gerações a bordo! Isso, por si só, já é muito bonito.

E o que dizer da Walmy fazendo borda aos 71 anos???
Vejam-na com as netas na borda. Vejam o exemplo!!!

O Comandante Henrique Ilha e a Walmy premiaram a todos nós com sua participação no XIV Conesul. Demostraram o espírito do esporte à vela de forma exemplar. Parabéns, Henrique e Walmy! Parabéns à família Ilha.

Abalroando as Baleias da Ponta Grossa
Navegando para Cascais, Portugal, há algumas semanas, o Veleiro Brasil1 abalroou um baleia, provavelmente dormindo. Um dos tripulantes teve costelas quebradas devido à súbita parada.
No Conesul, um veleiro de 30' abalroou baleias mais duras. As "Baleias da Ponta Grossa" são uma formação de rochas que, com o rio cheio, fica submersa em grande parte. Logo após o abalroamento, o veleiro safou-se e tomou o rumo da Ponta Grossa, voltando a abalroar outra das baleias. Felizmente não houve conseqüências sérias.

Leme quebrado: fim da regata
O veleiro San Chico, Velamar 29 campeão do Troféu Seival em 2004, sofreu pane. "Estávamos indo rumo a Ilha do Barba Negra com balão. Era um través orçado e descíamos as ondas a 9 nós (GPS). O problema era quando parávamos na próxima onda. A pressão era muito grande. Numa dessas ondas, no final da planada, o barco atravessou e o leme não agüentou, quebrando bem na linha d'água", contou Francisco Freitas. O barco da Comissão de Regatas do Veleiros do Sul prestou socorro, mas não podia voltar de imediato a Porto Alegre. "Ficamos amarrados na popa da CR até que o último barco da ORC entrasse no Guaiba, o que ocorreu somente às três da manhã", disse Xico.

Segundo lugar bem disputado
Na Classe O'Day, o veleiro Lady Jany vinha mantendo a liderança folgada. Em segundo lugar vinha o barco Marota perseguido pelo Tobruk. A perseguição, que começou na Ponta Grossa, foi fantástica. Durante 45 minutos (2,5 milhas) o Marota foi perdendo a vantagem. OTobruk acabou vencendo por apenas 1 segundo de diferença.

A O'Day23 foi a única classe no Conesul a reunir exclusivamente barcos de um mesmo modelo/fabricante.

A bordo do Charlie Bravo
Foi mais uma regata muito boa para o Charlie Bravo V, com ventos sob medida.
O Comandante Paulo Hennig fez esquentar os cascos do catamarã de 43 pés, com uma tripulação diferente da primeira etapa. Como sempre, foi uma hemorragia de prazer velejar no Charlie Bravo V.

Quem ligou o som?
De repente, enquanto o Capitão Ferrugem trimava uma bergamota, passamos a escutar música bem alto.
Quem teria ligado o som do Charlie Bravo V durante a regata? Enfim, são 9 tripulantes...
Demorou até percebermos que o som naquele volumão vinha da praia, a mais de uma milha de distância. Soube-se mais tarde que era uma festa rave em Belém Novo.

Navegação Digital
O comandante Paulo Hennig embarcou com seu notebook contendo os waypoints do Velejaço sobre a tela do Ozi Explorer, o programa de navegação digital. O computador vai ligado ao GPS, o que permite ver a posição precisa do Charlie Bravo V sobre a carta náutica o tempo todo. É o desenho de um barquinho cuja posição é atualizada a cada segundo.
As informações prestadas pelo Ozi permitem ao navegador passar ao timoneiro a cada marca do percurso o novo rumo, os locais para cambar considerando a batimetria apresentada pela carta, o ângulo atual em relação à próxima marca para assim conferir a "altura" e indicar o momento preciso da cambada, e outras informações importantes. Certamente o computador não informa tudo. Nesta regata, por exemplo, a correnteza do rio era significativa, implicando em considerações adicionais sobre o local da cambada.

Bom trabalho!
Parabéns à comodoria do Veleiros do Sul pela realização do grande evento, especialmente ao Comodoro Manfred Flöricke.

Além das regatas pp. ditas, o clube organizou reuniões, ofereceu coquetel e confraternização, e ainda brindou a todos com uma bonita festa de premiação com troféus, sorteio de prêmios (croques, camisas, etc).
Nossos parabéns também ao funcionário Odécio Adams pela organização da competição.

"Quem é Marco Reichert?"
Parabéns ao Renato Meurer, ao Nilton Beccon, ao Henrique Dias, e ao Marco Reichert, os vitoriosos do Conesul.
O Marco tem boa experiência no esporte à vela, talvez mais como cruzeirista (tinha o Bruce Roberts Apollo que pessoalmente construiu ). Há um ano associou-se ao Veleiros do Sul. Sua vitória fez com que boa parte do meio náutico gaúcho ficasse indagando pelas varandas "Quem é Marco Reichert?". Bem, agora todo mundo já sabe. Marco Reichert é o vencedor do XIV Circuito Conesul.

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Classificação do 35º Troféu Seival

1º - C’Est la Vie VI, Henrique Dias (VDS) 1.20

2º - Silver Surfer, Klaus Bohne (VDS) 2.40

3º - Spin, Antonio Motta (VDS) 3.60

Classificação da 16ª Regata Farroupilha

1º Virtú, Nilton Becccon (CDJ) 1.2

2º Mandinga – Paulo César Gonçalves (YCRG) 2.4

Classificação final do 14º Circuito Cone Sul

Classe ORC Club

1º Cavaco – Marco Reichert (VDS) 11,3 pp

2º Spin – Antonio Motta (VDS) 13,7

3º Silver Surfer – Klaus Bohne (VDS) 15,4

Classe O’Day 23

1º - Lady Jany - Renato Meurer (ICG) 3,2

2º - Marota - Carlos Tartakowsky (CDJ) 9,6

3º Jodan - João Daniel Nunes (ICG) 9,8

 

Percurso da Classe ORC Club no Troféu Seival

 


Observe na orça do Charlie Bravo V como o vento rondou de SSE para SE, de montante a jusante.

Aí vão algumas fotos do Conesul, no sábado, 17 Set 2005

 

 

 

 

 

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