Solaris - uma proposta radical
Diário de bordo do veleiro Solaris: Recife a Luiz Correia
Fernando Niedermeier

17/Nov/2005

13-10 15h Saída de Recife para Fernando de Noronha(300 MN) com vento 25 nos SE. De 20h a 1h algo que ainda não tínhamos feito, capa para descançar, pois todos saíram com sono.

14-10 Vento rondou para leste forte. Vontade de voltar. Mas às 11h retornou para sudeste, porém fraco.

15-10 Metade final do dia com pirajás consecutivos. Mudavam rumo e intensidade do vento significantemente. 22h- Chegada na ilha à vela, após vários bordos no lado norte, pois 5 MN antes da ponta da Sapata tentamos ligar o motor e nada. Parecia, novamente, problema na bomba de transferência. Depois na ilha, confirmado o entupimento por algas no pescador do tanque. Novamente diesel contaminado. Quase certo no Iate Clube de Pernanbuco. Em 2000 tivemos o mesmo problema no Plankton.

16-10 Desembarque na ilha com recepção do administrador do porto querendo cobrar R$140,00 por dia a título de taxa de fundeio e R$30,00 por pessoa-dia de taxa de preservação ambiental do IBAMA. Negociamos uma redução no número de dias declarados e tripulação. No mesmo dia conversamos com o pessoal do Caboje, barco de fabricação francesa, em aço, recém chegado do Caribe com uma dupla de baianos muito simpáticos. Nos passaram várias dicas. Seguiram para Recife no final da tarde. Dois dias depois chegou um Benneteau 39 trazido pelo Marcos Melo, carioca, que também nos forneceu informações valiosas. Outro brasileiro foi o Fábio do Kuarup, barco francês também em aço, que já estava na ilha a mais de uma semana devendo ainda permanecer por um mês. A tarde começou o swell de NE já esperado.

17-10 O swell estava incrível. Ondas enormes faziam a festa dos surfistas e o terrorismo na hora de passar a ponta do molhe com o bote pequeno, carregado e lento (motor 3.3). Era necessário aguardar a série das ondas grandes próximo da linha de arrebentação,com maré alta, e acelerar tudo para entrar no porto. Nos três dias de swell mais forte os barcos de turismo não operaram e os de mergulho apanhavam os passageiros na baia de Sueste, no outro lado da ilha. Até o dia 19 fizemos passeios lindos por terra na base da carona, muito comum em Noronha.

19-10 18h Saída para Atol das Rocas na esperança de desembarcar. Bom vento de RV 210. Trecho de 80 MN. RV 270.
20-10 Chegada às 14h. Fundeamos a NW do atol com orientação do responsável do IBAMA pelo VHF que permitiu o desembarque para aliviar o enjôo de um tripulante. Rumamos com o bote para a pequena ilha onde está localizado o abrigo dos pesquisadores. É uma pequena casinha de madeira dividida em dois cômodos, sala-cozinha e quarto com dois beliches. O swell de Noronha ainda estava presente na região e o caminho entre os recifes era estreito e tortuoso.

Com o VHF portátil recebíamos informações do Risonaldo,responsável do IBAMA que estava no lugar da Zelinha. Após um bom tempo aguardando um intervalo maior entre as grandes(séries bem maiores que Noronha) ingressamos na linda e clara piscina seguindo o caminho de areia entre os corais, perfeitamente visível mesmo com maré alta, pois a tranparência da água supera qualquer lugar que tenhamos passado no litoral brasileiro. Conversa extremamente agradável com o Risonaldo, dois estudantes de engenharia de pesca, e uma estudante de biologia. Estes tres últimos realizando pesquisas em suas áreas em projetos préviamente analizados e selecionados pelo IBAMA.

Permanecem no atol no máximo 4 pessoas, normalmente metade do Instituto e metade pesquisadores que são trocados a cada 30 dias a bordo do veleiro Delícia do Zeca, oriundo de Natal-RN. Água doce apenas para beber. Não podem pescar, nem interferir em nada no curso natural. Limpeza da louça com areia e água do mar. Energia solar, seis painéis de 75 W com baixa eficiência devido aos excrementos das aves, abastecem 4 baterias de 150 A. Consumo : radio VHF, som de baixa potência, e globalstar para comunicação com a central do IBAMA em Natal. Geladeira à gás. Aves, milhares. Ficam em torno de 30 cm das nossas cabeças enquanto caminhamos. Fazem tanto barulho, que é difícil conversar.

Berçário de tubarões ao lado do abrigo. Moreas passeando na beira, caçando pequenos peixes. Aratus(espécie de caranguejo) aos milhares nas paredes das ruínas do antigo farol. É indescritível. È simplesmente maravilhoso. Voltamos ao Solaris para conferir a âncora, pois parecia que o vento havia rondado. Que nada. Ainda swell de NE e vento de SE. O barco balança lateralmente e a corrente ronca no fundo de corais. Almoçamos e novamente desembarcamos, agora com maré baixa. Pior. As ondas das séries baixas também arrebentavam. Uma caminhada junto com os pesquisadores em direção a piscina das tartarugas, com maré baixa, revelou uma beleza oculta no atol. Corais de todas as formas e cores. Pequenos animais desconhecidos para nós. Também restos de muitos naufrágios, pois o atol já foi extremamente perigoso na época da navegação sem prescisão, sendo difícil de ser avistado mesmo durante o dia.

Na piscina das tartarugas (uma das várias falhas nos recifes de coral com áreas de areia bastante extensas) um mergulho maravilhoso. Água perfeitamente translúcida, parecia não existir. Peixes das mais variadas espécies, coloridos, prateados, grandes, pequenos. Tartarugas marinhas grandes e lindas, que ao contrário dos peixes não permitiam aproximação. Vimos também diversos tipos de tubarões, entre eles, o Lixa e o Limão. Acompanhamos o trabalho de identificação, medição e cadastramento das enormes arraias residentes no local. Retornamos ao barco e zarpamos às 16:30h em direção à Fortaleza (280 MN) , rumo RV 270, vento 130 RZ, mar ainda mexido com ondulações de várias direções, por influência do swell. A idéia inicial era ir direto a Luiz Correia – PI, conforme sugestão do Àtila, mas assim dividiria o tempo de viagem e alteraria muito pouco a extensão total.

24-10 7:30h Chegada à Fortaleza. Quatro grandes geradores eólicos no primeiro molhe. Procurávamos o Marina Park Hotel. Passando o porto encontramos o Iate Clube do Ceará onde obtivemos a informação do nosso destino. Mais alguns molhes e passagem pelas ruínas de um grande cargueiro encalhado expremido por recifes e chegamos a marina. Pequena, estrutura náutica sofrível e um bonito Hotel 5 estrelas. 20US$ a diária. Velejadores sem grana sempre choram e saiu uma cortesia de três dias.
Justificamos o voto e a partir daí consultas e cotações de preços de redes, cangas e qualquer artesanato para vender no Caribe, além de estoque de alimentos(arroz, feijão, castanhas, macarão, etc). Recebemos a sugestão de fazer o rancho em Luiz Correia, último ponto no Brasil, e acabamos tendo que voltar por terra para Fortaleza. Pelo menos levamos redes e cangas.

26-10 9:00 h Saída para Paracurú, RV 305, vento RV 150. Perto, 36 MN. Ainda passamos um trabalhão para livrar uma grande âncora almirantado que veio enrolada na nossa corrente do fundo da marina.
Chegada às 15:00 h. Lugar belíssimo, grandes dunas brancas, coqueiros. Único ruído além do vento práticamente constante de 20 nós eram os helicópteros que pousavam no terminal da Petrobrás oriundos das plataformas de extração de petróleo distantes 20 a 40 MN da costa. Fundeio com pouco balanço (pequenas ondas perpendiculares à direção do vento. No dia seguinte o Erik e a Lara aproveitaram o bom vento para velejar de Windsurf. Foi bom treinar antes de Jericoacoara.

28-10 2:00h Saida à vela para Jericoacoara. 110 MN. RV 310. Vento RV 120, 15 nós. Chegada às 20:00h, procurando um local com menor ondulação lateral. Não adiantou. É muito mexido, raso e o vento ronca. Ótimo para wind, ruim para veleiro fundeado. No dia seguinte, muito longe da praia, desembarcamos com maré baixa com ondas arrebentando em toda a área devido a pequena profundidade. A partir das 9h, de 50 a 60 pranchas de windsurf disputavam as ondas na ponta de Jericoa... Pranchas tipo wave, maioria australiana da marca JP. 99% dos velejadores estrangeiros. Muitos acima dos 40 anos, inclusive mulheres. O Erik aproveitou.

31-10 2:00h Saída à vela para Luiz Correia. 70MN. RV 270, vento fraco 10 nós, RV 110. Chegada às 14 h. Na barra do Rio Parnaíba molhes extensos que foram construídos com objetivos escusos, pois nunca houve porto comercial na região. Lugar pequeno, sazonal, só funciona mesmo na temporada. Atracamos na Marina Albatroz, ainda em fase de projeto, que opera atualmente com suporte para alguns pesqueiros que abastecem de água e gêlo fabricado no local. Em breve haverá diesel. Para nós nem precisaria, pois desde Recife não gastamos mais do que 10 litros de combustível e as próximas 1500 milhas provavelmente serão vencidas à vela. Fomos muito bem recebidos pelo Bruno, que administra a marina de seu pai Raimundo que mora em Terezina e apareceu dias depois. A amplitude das marés é grande. Nas luas cheia e nova chega a 3,2 m, gerando forte correnteza e complicando a amarração do barco no trapiche velho feito com troncos de Carnaúba. Estamos 10 dias aqui e o tempo foi gasto com revisão de vários itens do barco, pois a próxima perna até a Guiana Francesa é de 800 MN. Além disto procura dos
materiais do último rancho feito no Brasil e que, ao contrário do que afirmaram em Fortaleza, aqui não tem. Resultado: viagem de 500 km para Fortaleza em estrada ruim, 7h na ida e 8 na volta. Iríamos alugar um carro, mas por sorte o Bruno se ofereceu para esta empreitada, pois boa parte da família dele mora lá. Seguiram ele, a namorada, a Miriam, o Erik e a Lara. Passaram uma noite na casa gentilmente cedida pela mãe do Bruno, compraram o rancho e mais um monte de contrabando para valer a pena o custo da viagem. O barco já esta abarrotado. Mais uns dias e pretendemos sair.



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