O barco das sete mulheres
fotos Danilo Chagas Ribeiro

A 10ª Copa Cidade de Porto Alegre (CDJ/Março 2004) teve a participação de pelo menos uma dúzia de barcos com mulheres a bordo. Tudo indica que elas vêm participando cada vez mais do esporte à vela, colorindo o rio. No entanto, foi uma grande surpresa ver o veleiro Bruma, do Veleiros do Sul, ser tripulado exclusivamente por mulheres.


Ana Lúcia Canal Thiesen freqüenta com assiduidade o Veleiros do Sul. Integrante da tripulação do Bruma, Ana Lúcia foi por nós convidada a falar sobre a participação das mulheres no esporte à vela. Aí vão trechos da conversa:

Foi muito prazeroso participar da regata no Bruma (das Sete Mulheres), pois a amizade existente entre a Graciela Barbachan (capitã do Barco), a Eliana Abel, a Valéria e eu é muito grande. Participaram da tripulação também a Ana Luíza e a Manuela, filhas da Graciela, e a Emília, filha da Eliana.

Nenhum esporte é machista
Essa amizade se formou nas viagens com a turma do Optimist, pois a Graciela (capitã da frotilha do Veleiros) levava suas filhas Ana Luíza e Manuela; a Eliana levava sua filha Emília, a Valéria (esposa do capitão da frotilha do Jangadeiros) levava seus três filhos e eu levava meu filho Gustavo. Enfim, o grupo, a parceria, a cumplicidade, é muito importante não só em terra, mas também nas velejadas.

Acredito que nenhum esporte seja machista, a maneira de encarar as situações é que pode torná-lo ou não. Acho que isso vem mudando com o tempo, pois nós mulheres, estamos mudando esse cenário, nos apropriando de espaços antes só destinados aos homens.

É muito prazeroso velejar com nosso parceiro
A participação feminina é pequena no esporte à vela por se tratar de um esporte radical, que exige um grande preparo físico por parte de seus atletas, muitas vezes enfrentando chuvas, temporais, ficando muito tempo molhado, o que muitas mulheres não gostam.

Às vezes, os homens (namorados, maridos) preferem deixar as mulheres "fora do brinquedo". Assim como nós mulheres os deixamos fora de "nossos brinquedos" em algumas situações, mas é muito prazeroso velejar com nosso parceiro. Eu digo isso por experiência, pois eu meu marido, Neni Thiesen, passamos muitos momentos juntos, inclusive nosso filho, Gustavo, que hoje tem 14 anos, foi concebido numa dessas velejadas nos mares de Porto Belo - SC e hoje seu dia-a-dia é o mundo da vela.

Deveria haver premiação especial para tripulações femininas
A convivência a bordo é muito direta, o espaço é restrito, por isso é necessário ter uma personalidade "light" e muita organização. Nas vivências que tive a bordo pude notar que as características de cada um vêm a tona, e que é imporatnte não só relatar as nossas experiências, mas saber ouvir a das outras pessoas.

Assim como em outras classes da vela, a exemplo da Optimist, acho que deveria haver premiação especial para tripulações exclusivamente femininas, como incentivo a mais mulheres estarem na água.


O popa ouviu também a velejadora Luciana Bastos de Freitas, que participou da 10ª Copa Cidade de Porto Alegre como tripulante do San Chico, do Clube dos Jangadeiros (foto abaixo).

Algo que só uma mulher sabe fazer bem: puxar a saia!
Comecei como a maioria, na classe Optimist, no CDJ, nunca fui uma assumidade em regatas desta classe e passei um bom tempo somente fazendo companhia em passeios de finais de semana. Isso fazem uns bons 18 anos...
Depois, entrei na flotilha Hobbie Cat 16, como proeira e tive a felicidade de contribuir com a organização do grupo como Secretária da Flotilha.

Mais recentemente participei da tripulação do campeão invicto Qued (um micro-racer 19), com meu pai (Francisco Freitas) e meu irmão.
Ano passado adquirimos o San Chico, antigo Voodoo - Velamar 29, e desde então estamos correndo na classe RGS com uma tripulação essencialmente familiar: Pai, irmão, namorado e dois amigos da família, também irmãos.
Faço o meio de campo, por ser a mais leve dos tripulantes, passo o balão, ajudo na proa, e algo que só uma mulher sabe fazer bem: puxar a saia! (hehehehheheheheheh)

A vaidade feminina x calos e hematomas
Voltando à época do optimist, lembro que a turma já era composta com pouca participação feminina. Com a chegada à época adolescente, este número se tornou ainda menos expressivo, ficando somente algumas guerreiras como a Marthinha Rocha, do VDS. Atribuo esta redução à chegada da vaidade - que não combina com hematomas e calos nas mãos, aos laços de amizade fora do clube - desviando a atenção para outros esportes, além da própria atividade escolar, exigindo certa dedicação para os estudos.

7 mulheres sem nenhuma ser jogada para fora merece um prêmio especial
Culturalmente, a participação de mulheres em regatas de barcos Oceano vem sendo restritas à eventos comemorativos, como Eles & Elas, e com muito orgulho, atualmente em alguns Velejaços. No trabalho para fomentar a participação feminina, os monotipos estão saindo na frente. Com premiação diferenciada, as velejadoras competem entre iguais. Não estou dizendo que esta é a solução para o Oceano, pois acredito que em se falando de equipes, não há nada melhor do que a soma das potencialidades, a combinação do que cada um pode agregar, seja homem ou mulher.

Acho memorável a participação do "Barco das 7 mulheres", e acho que mereciam não somente premiação diferenciada como também o reconhecimento pelo esforço de sobrevivência - 7 mulheres juntas dentro de um barco sem nenhuma ser jogada para fora realmente merece um prêmio especial. Brincadeiras à parte, considero que uma equipe feminina pode ser tão bem sucedida e unida quanto uma equipe masculina!

Viva a diferença! Se cada classe merece premiação, a classe feminina também merece!




Outros barcos com tripulantes femininas na 10ª Copa P.Alegre

 

Ângela e Helena Plass compuzeram a tripulação do veleiro Coringa

Renato Plass

O popa.com.br sugere aos clubes náuticos que instituam premiações especiais para barcos com tripulações exclusivamente femininas. Se já é assim em algumas classes, por que não também na Classe Oceano?
Será uma forma de motivar e prestigiar a participação das mulheres no esporte à vela, especialmente na Classe Oceano.

Ou tem alguém com medo delas?

Mulheres no Esporte à Vela gaúcho há mais de meio-século
Fazendo um parênteses, o Comandante Carlos Altmayer (Manotaço) Gonçalves, do Barba Negra/VDS, oportunizou certamente a melhor crônica publicada no popa: "Esquadrinhando a Lagoa dos Patos". A matéria tem por autor Leopoldo Geyer, que fala de soltar pombos-correio para mandar notícias para casa, das dificuldades cômicas na compra de galinhas, e a "teoria" de que tudo na vida tem refugo. É de rir!
Pois nesta matéria, Manotaço informa também que sua mãe foi uma das velejadoras pioneiras do Rio Grande do Sul.

Manotaço:

O barco classe Jangadeiros cedido por Leopoldo Geyer ao Deparatamento Feminino do Clube dos Jangadeiros era o “REBOJO”, o qual vemos na foto a seguir, disputando a regata comemorativa ao 4º aniversário do CDJ. O sucesso do depto. Feminino foi tal que em seguida Leopoldo cedeu o “CICLONE” ao grupo das marujas. Na foto a seguir “Rebojo” está sob o comando de Helga Altmayer, tendo por tripulantes Ilka Altmayer e Nora Bier
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Artigo relacionado a este: Trocando de Palco

 

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