Jan
2004
Fazendo
amigos pela Internet
Conheci a Cris, virtualmente, no grupo de mails popacombr. Após
trocarmos alguns mails propuzemo-nos a iniciar um intercâmbio
entre velejadores gaúchos e catarinenses. Em outubro de 2003
fui correr uma regata na Lagoa da Conceição, em Florianópolis,
no MikeXX, o O'Day 23 da Cris e do Artur, marido dela. Foi uma
experiência muito boa.
Na mesma semana em
Floripa conheci o Sérgio Berretta, também do grupo de
mails popacombr. Na companhia do Dálgio (Cmte do Zé
Mané), me propiciou uma bela navegada entre a Ilha de Santa
Catarina e o continente, a bordo do Images, também um
O'Day23.
Nas andanças
pelo meio náutico catarinense, ora com a Cris e o Artur, ora
com o Sérgio, conheci muita gente interessante. Conheci também
clubes, marinas e restaurantes freqüentados pelos velejadores ilhéus.
Comparações
Diversos navegadores catarinenses indagaram com curiosidade sobre o
Guaíba. Querem saber do tamanho do rio, se sofre influência
de maré, regime de ventos, etc. Perguntam também sobre
os clubes gaúchos. Vou me arriscar a algumas comparações.
Em Florianópolis
a composição da náutica é diferente da gaúcha.
A estrutura geográfica
e organizacional representam as maiores diferenças.
Características
que mais me chamaram a atenção:
Clubes
x Marinas
Enquanto que em Porto Alegre talvez 95% dos veleiros estejam concentrados
em três clubes (Veleiros do Sul, Clube dos Jangadeiros e Iate
Clube Guaíba), em Florianópolis os barcos estão
mais dispersos.
No Guaíba as
marinas não têm muita representatividade, se considerarmos
os escassos barcos nelas atracados. Já em Florianópolis,
as marinas representam papel muito importante, tanto na lagoa quanto
no mar.
Nenhuma
delas, pelo que vi e fui informado, oferece molhes de proteção,
o contrário acontecendo em Porto Alegre. As marinas tornam o
esporte à vela mais acessível financeiramente: se, por
um lado, não oferecem piscina e as mordomias de um clube, por
outro, têm um custo mensal muito menor.
Mas a primeira grande divisão
é mar/lagoa.
Mar
x Lagoa
A lagoa comunica-se com o mar através de estreita barra. A saída
se dá em mar aberto (costa leste da ilha), sendo necessário
passar sob pequena ponte junto à barra. Por isso os veleiros
da Lagoa da Conceição não costumam navegar no mar,
e vice-versa (implicaria em baixar o mastro). A maior distância
navegável por mini-oceanos na Lagoa é algo como da Ponta
da Cadeia ao Veleiros do Sul, no Guaíba.
Trapiches
x Poitas
Enquanto que em Porto Alegre 100% dos barcos que não saem d'água
encontram-se atracados a trapiches, em Florianópolis predomina
o uso de poitas. A variação de maré influencia
muito nesta opção.
Uma das exceções
corre por conta da marina pública na Lagoa da Conceição,
em que o trapiche está junto à calçada pública
(foto acima). Fiquei surpreso ao perceber isso. Creio que a opção
poita represente menor custo também.
Veleiros
da Ilha
No Iate Clube Veleiros da Ilha, o maior e mais tradicional clube náutico
de Florianópolis, a maioria dos barcos de oceano está
sobre carretas de encalhe, indo pra água através do guincho.
Somente barcos de maior porte permanecem atracados (veja foto da maquete).
A
sede principal do clube é muito boa e oferece linda vista para
o mar. A pesca é incentivada no clube através de eventos,
o que não ocorre em Porto Alegre.
O Veleiros da Ilha
tem uma sub-sede em Jurerê, noroeste da ilha, em prédio
amplo e novo, com um longo trapiche. Os veleiros oceano ficam apoitados
ao largo, sem molhes de proteção.
Operacionalmente,
as diferenças principais entre Florianópolis e Porto Alegre
correm por conta de atracar x apoitar. Navegadores de mini-oceanos apoitados
dependem dos "vai-e-vem", os botes que levam e trazem a tripulação
embarcada. Este serviço tem horário. Às 18h, por
exemplo, cessava este transporte em Jurerê, limitando o horário
de navegação de quem não dispõe de bote
próprio.
Obs: O Iate Clube
Veleiros da Ilha tem convênio de operação com o
Veleiros do Sul.
Federação
x Associação
Além da Federação de Vela de Santa Catarina, Florianópolis
conta com a AVELISC, uma associação que realiza regatas
e congrega importante número de velejadores.
Mudanças
de cenário
O avanço do mercado imobiliário modificou bastante o litoral
de Santa Catarina nos últimos anos. Quando ainda guri, nos anos
70, íamos veranear em Bombinhas. O acesso desde a BR-101 era
de chão batido. E de muita poeira... Na volta às aulas
em P. Alegre, sempre se ouvia a pergunta: "Onde passou as férias?
Bombinhas?... Ah Ah Ah... Ele disse que foi pra bom-bi-nhas..."
Ninguém sabia onde era, mas o nome sugeria o fim do mundo. O
chique em Porto Alegre era veranear em Atlântida, Capão,
e até em Tramandaí. Isso dava muito mais IBOPE do que
a tal da Bombinhas.
Todo o litoral catarinense desenvolveu-se muito e passou a atrair turistas
de todos os lados. Hoje, infelizmente, Bombinhas virou num horror imobiliário.
Floripa, no entanto, continua cada vez melhor.
A foto da Lagoa da
Conceição aí abaixo (uma relíquia) deve
ser anterior aos anos 70.
Paisagem
A diferença que mais
me chamou a atenção entre navegar em Florianópolis
e no Guaíba foi, sem qualquer dúvida, a paisagem. A navegada
no mar, a noroeste da ilha, é muito bonita. As ilhas Ratones
Grande (foto com o forte, mais acima) e a Anhatomirim, por exemplo,
com os antigos fortes recentemente restaurados, as baías e enseadas,
o contorno dos morros e as diversas praias, compõem uma linda
paisagem. No RGS a região navegável que melhor pode lembrar
a paisagem de Santa Catarina é a da Lagoa da Pinguela (Osório).
Além disso,
logicamente, a cor do mar. Aquele azul topázio chega a constranger
um navegador acostumado à coloração escura da água
de rio. O preço para navegar em águas tão bonitas
certamente é cobrado pelas cracas (e os gaúchos ainda
reclamam dos mexilhões dourados).
Hospitalidade
e Descontração
Não poderia deixar de comentar que a tradicional hospitalidade
do povo catarinense é ainda mais forte entre os navegadores ilhéus.
Dentre os velejadores com quem convivi, além de catarinenses,
haviam gaúchos e paulistas que para lá desterraram-se
em busca de melhores condições de vida. Hoje compõem
harmoniosamente a nova identidade do povo da Ilha de Santa Catarina.
Alegres, descontraídos, sem muita aporrinhação
e curtindo praia, usufruem daquela terra maravilhosa, como se lá
tivessem todos nascidos. Num daqueles dias na ilha sonhei que estava
na Bahia do Sul.
Não vai ser
fácil retribuir aqui toda a atenção e bem-estar
recebidos em Floripa. A todas as pessoas com quem naveguei e convivi
na ilha, muitíssimo obrigado.
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