A Vinda do My Way para Porto Alegre 25 Jul 2004 Em Ilhabela, enfrentamos
de madrugada a burocracia de registro e entrada no Yatch Club
de Ilhabela e, cansados, fomos dormir no barco. Com algum jeitinho
coubemos nós cinco e a bagagem no Fast 310. A cidadezinha de Ilhabela é uma beleza, com inúmeros restaurantes, de refinados a populares, atendendo a todas as carteiras. Tem um centrinho com um casario antigo, ainda razoavelmente preservado. Infelizmente, o resto da vila não acompanha esta preservação. Inclusive mansões estão subindo os morros, formando uma espécie de favelão de luxo. Felizmente, essas montanhas são compostas de rocha nua, principalmente, o que impede a construção de mais moradias nas encostas. Há marinas públicas
exploradas por particulares para quem não é associado
ao YCI, que é bastante caro. À
noite, mais um churrasco e pernoite na casa do José;
já estávamos nos aquerenciando.... A chegada dos mantimentos
ao barco foi um acontecimento no clube. O aprovisionador (casualmente
eu), muito precavido, exagerou um pouco na comida e nas bebidas,
poderíamos ficar à deriva por uma semana, sem
problemas... Estipulamos que a velocidade média seria de 6 nós, com vela ou motor. Como o vento estava insuficiente para isto, tocamos com vela e motor juntos. Lá pelas 3 hs. da madrugada, no meu quarto no leme (o piloto automático estava pifado) desliguei o motor, porque o vento aumentara, e segui à vela, numa orça cerrada para não sair do rumo demarcado; foi a única velejada da viagem. Bom, neste meu quarto - noite escura como breu - avistei as luzes de um navio no horizonte. Quando ele ficou mais próximo divisei a sua luz verde de navegação, verificando que não estava em rota de colisão conosco, passaria pelo nosso boreste, sem problemas, segui tranqüilo naquele rumo. O caso é que ele passou pelo nosso boreste a uns 500 m somente e era a mancha negra gigantesca de um petroleiro, me dando um baita susto! Bom, pensei, da próxima vez juro que vou deixar uma lazeira de uns 5 km, pelo menos... Fizemos
quartos de dois homens a cada três horas, o que nos deixou
mal-dormidos e cansados. Além disso, as madrugadas foram
frias e sair da cama para ir ao cockpit era uma tortura chinesa!
Este foi o único desprazer da viagem, que foi magnífica.
Chegamos a Santos de manhã,
seguindo diretamente ao Iate Clube de Santos. Fomos tratados com toda a cortesia no Iate Clube de Santos durante nossa estada. O clube tem instalações luxuosas, magníficas, mas o seu entorno urbano é horroroso (zona portuária...). O canal de acesso é bem protegido, mas é um mangue mal-cheiroso, com muito esgoto sendo lançado ali. Este canal segue adiante, servindo a pescadores e outras empresas. Por tudo isso, o enorme patrimônio ancorado no clube é protegido por um bando de seguranças que circula 24 hs. por todos os trapiches. Chamamos um mecânico
para checar o sensor de temperatura do motor que teimava em
acionar o alarma de aquecimento, trabalho que levou o dia todo
(mais uma conta para o bom José...) Saímos na manhã da terça, motorando no canal. Ao chegarmos no canal principal (que dá acesso ao porto), o Boletto, em vez de guinar à esquerda, rumo à saída, guinou para a direita. Com a nossa gritaria e a aproximação de um cargueiro, acelerou e fez um "cavalo-de-pau", mudando o rumo para a mar. Após este "racha" , apelidamos o My Way de Fast 3100! Cuidamos o intenso tráfego
de navios e pegamos o rumo de Ganchos, em Santa Catarina. O
rumo que o Boroni plotou consistiu numa linha reta, colocando
o barco diretamente dentro da baía de Ganchos, passando
entre as ilhas da Galé e do Amendoim. Naquela noite o movimento de barcos foi intenso. Víamos suas luzes ao longe, pois estávamos em nosso ponto mais afastado da costa, em torno de 50, 55 milhas. No meu quarto no leme, de madrugada, novamente avistei as luzes brancas de um barco no horizonte. Na verdade eram as luzes de dois barcos que avançavam juntos. Mais próximos, notei a luz de boreste de um deles. Ok, pensei novamente, estão em rota paralela a nós, sem problemas... Mais perto, avisto as luzes de boreste e bombordo de um deles, que tinha guinado em nossa direção! Bom, não sei quem é, não sei de suas intenções... acelerei o motor e virei para um rumo perpendicular à sua rota, me afastando rapidamente. Quando suas luzes ficaram bem pequenininhas, voltei ao rumo original. Sei lá...! Nesta
mesma noite, um fato curioso: um morcego, surgido não
se sabe de onde, agarrou-se à vela grande. Permaneceu
o dia seguinte todo apegado à ela, só nos abandonando
na noite seguinte, quando nos aproximávamos da costa
de Ganchos. Neste dia, quarta-feira, avistamos alguns poucos destroços, que poderiam ser do infortunado pesqueiro, o que nos deixou um pouco consternados. Os corpos não foram achados, pelo menos naqueles dois dias. Navegada tranqüila,
chegamos à Marina de Ganchos à 1:30 h. da madrugada
de quinta-feira, passando exatamente entre as ilhas já
mencionadas, numa escuridão total, já que a Lua
estava encoberta, novamente. Ancoramos o barco com uma sensação
de alívio e de missão cumprida. Imediatamente
fomos ao banheiro da marina e tomamos aquela ducha quente.
-o- [popa]
O Comandante Pedro Boletto é um assíduo velejador.
Nas regatas da classe O'Day sua presença tem sido habitual
na tripulação do Tobruk e já há
algum tempo vinha sonhando com um barco da classe Oceano. Parabéns
ao Boletto pela persistência em perseguir o sonho e pelo belo
barco. |
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