O Caminho das Pedras
Bombando adrenalina no Guaíba
Danilo Chagas Ribeiro

06 Nov 2008
C
om o Rio Guaíba alto, o Comandante Frederico Roth decidiu conduzir o veleiro Friday Night (VDS) por fora do canal de navegação do Cristal, durante um velejaço realizado no domingo passado. "Só topei porque a água estava muito, muito alta mesmo. E como era popa rasa total, nada de muita velocidade", conta o Comandante Fred Night, no leme na foto ao lado.

A façanha foi inspirada no track publicado pelo Comandante Plinio Fasolo recentemente, com pontos de passagem entre as Pedras do Cristal e a costa leste do Guaíba, junto ao estádio Beira-Rio, uma rota raramente navegada. "Afastamos bem das pedras. Na pior hipótese teria algum banco, que devagarinho não tem grande rolo".

Ao descer o rio no contravento, o comandante Roth optou pelo canal de navegação, buscando a zona de maior corrente (observe os bordos no track abaixo, com ventos de 8 a 14 nós, de 160 a 180º). Mas na volta, subindo o rio, Fred resolveu bombar adrenalina na tripulação, optando por caminho de menor corrente. Segundo o comandante, por uns 5 minutos sobrou apenas 0,20m de água sob a quilha do veleiro empopado em um estreito corredor. Foi uma eternidade nessas condições.

Dentre os 11 barcos que participaram do velejaço, outros dois, o Alegria (ao fundo na foto acima) e o Aquário, seguiram a mesma rota do Friday Night. "Na verdade eu não bombei a tripulação, quem deu bomba mesmo foi o tripulante Ferrugem. Eu estava reticente e apenas fui imbecil o suficiente para topar e seguir a recomendação do ilustre inútil de bordo".

"O que não faz a água alta... Tantas emoções... Certamente não vou repetir, a menos que estejamos com o trapiche debaixo d'água", concluiu o comandante Frederico Roth.
Foto: Cássio Ostermayer

 


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06 Nov 2008
Eduardo Ferrugem Hofmeister

Danilo,

Para completar o teu artigo e fazendo algumas pequenas correções. O comandante Fred, mais conhecido à bordo por Octopus, devido a quantidade de braços e as múltiplas tarefas que se mete a fazer, recebeu sugestões da tripulação, deste antes da regata, que o melhor caminho para escapar da forte correnteza seria a navegação junto à margem do Beira Rio, coisa que ele julgava uma loucura! “Ali tem um monte de pedras”, mas ele ainda dizia: “vamos ver na hora, seu bando de loucos e inúteis dependerá de nossa situação na regata”. A tripulação tinha experiência de muitas outras regatas e navegadas driblando aquelas pedras.

A correnteza era considerável, largamos muito mal e para completar demos o primeiro bordo pior ainda. Nosso concorrente direto, o Alegria, velejava faceiro ¼ de milha na nossa frente. O comandante e a tripulação se esmeraram ao máximo, e a cada bordo o “Fred Night” encurtava a distância para a Alegria. Estávamos muito preocupados em andar muito no contravento, pois sabíamos que o Alegria teria vantagem no retorno em popa, pois ele tem um balão uns 20% maior que o nosso gennaker. Com bastante habilidade, calculando muito bem a corrente, no último bordo nosso comandante montou a marca pedindo água ao Alegria. A nossa tripulação elogiava o continuava influenciando o comandante à seguir pela margem do Beira Rio, pois julgávamos ser o único caminho possível para andarmos mais que o Alegria. Então começou a parte hilária da regata. O Alegria tinha clara intenção de seguir pelo canal, com isto os barcos ficaram bordo a bordo, pois os rumos eram cruzados. Enquanto as tripulações preparavam os balões, os comandantes ficaram conversando, tipo batendo papo. O do Alegria disse que queria seguir pelo canal pois havia pedras no caminho pela margem do Beira Rio. Não muito convicto, nosso comandante afirmou que havia uma caminho “possível” junto a margem. Toda nossa tripulação falava: “psit, cala boca comandante”! Não queríamos entregar o jogo para nosso concorrente. Acho que o Fred queria companhia naquilo que ele considerava uma grande loucura sugerida pelo bando de inúteis a bordo.

No final de contas, os dois barcos seguiram no caminho entre a margem do Beira Rio e o canal, livrando as pedras. A nossa tripulação “meio de cara” com o comandante linguarudo, se esmerava ao máximo para manter a vantagem sobre o Alegria. O Dado Bergalo matando saudades e fazendo bonito no sota do balão. Num determinado momento, o Alegria deu um jaibe e voltou para o canal, seguimos nosso rumo, com a intenção de passar junto à Ponta da Cadeia. Os barcos se afastavam e comemorávamos a vitória antecipada, o Alegria tinha voltado para o canal, e ficaria para trás devido a corrente contra. Nisto nosso grande tripulante Caca, com sua vasta sabedoria náutica, pergunta: “Aquela bóia que passamos na ida, não deve ser montada na volta?” Putz! É verdade! Que M. Com o entusiasmo esquecemos da última bóia. Demos nosso jaibe e seguimos para a bóia, loucos de medo de perder a vantagem sobre o Alegria. Ufa! Foi por pouco. O Cássio salvou a nossa regata. Montamos ainda na frente do Alegria e conseguimos nos manter assim até a chegada.

Um abraço

Ferrugem
Eduardo Secco Hofmeister