"The Plimsoll Sensation"
Quando fugir do barco dava cadeia - carga sem limite no mar
Augusto Chagas
, da Nova Zelândia

16 Jan 2008
Hamilton, 17 janeiro 2008-01-17

Acabei de ler o livro “The Plimsoll Sensation” de Nicolette Jones. É um relato da campanha que Samuel Plimsoll (1824-1898) fez para salvar vidas no mar, criando uma marca nos costados dos navios indicativa da carga máxima.

Na época em que ele começou a campanha navios ingleses saíam ao mar com excesso de carga, muitas vezes com falsas declarações de qualidade e exagerados seguros. Eram chamados de navios sarcófagos pois, por qualquer coisa naufragavam. A quantidade de acidentes era tão grande que os marinheiros começaram a se recusar a embarcar. O golpe dos armadores era contratá-los sem verem o navio ou então mudar o nome da embarcação para enganar os incautos. Chegou a um ponto em que o marinheiro que tentasse fugir do barco era condenado à cadeia. Num caso um marujo depois que o barco saiu do porto saltou no mar e nadou para a costa. Foi o único sobrevivente desta tripulação. Lá pelas tantas havia um bote acompanhando os navios ao saírem do porto até uma distância em que ninguém se aventurasse a nadar para a praia.

Para se ter uma idéia, em 1871 “The Board o Trader’s Annual Report” registrou a perda de 856 navios mercantes Britânicos a menos de dez milhas da costa em condições de vento moderado. Outros 149 afundaram em pequenos temporais que não teriam trazido problema para um barco sólido e propriamente carregado.

Muitos homens estavam próximos o suficiente da costa para serem salvos mas, mais de 500 se afogaram e quase tantos se afogaram cada ano da década anterior em circunstâncias semelhantes.

Entre 1861 e 1870, 5826 naufrágios aconteceram próximos às Ilhas Britânicas onde 8105 pessoas morreram.

A Inglaterra tinha a maior frota de navios mercantes do mundo superando de longe todas as outras frotas somadas. Acrescente a isso que a nação era movida e aquecida a carvão que vinha ou por estrada de ferro ou de navios costeiros.

Em 1836, 11.226 barcos transportavam carvão do Tyne e em 1837, 3845 transportavam de Tyne somente para Londres. Entre 1830 e 1900 70 por cento desses barcos se perderam no mar. Nessa época, um em cada cinco marinheiros que embarcavam perecia.

Em Bridlington, um porto em Yorkshire no dia 9 de fevereiro de 1871 a população local se reuniu próximo da costa para ver o espetáculo de quase 400 navios partirem. Nesta época não era incomum 500 navios estarem nesta baia que abriga dos ventos nordeste. Estes barcos no primeiro vento favorável saiam quase todos ao mesmo tempo.

Nesse dia, ou melhor, na madrugada do próximo as condições de tempo deterioraram entrando um temporal que pegou a frota a barlavento da costa. Vinte e três barcos naufragaram perto da costa outros nunca foram encontrados. Na costa deu o corpo de 43 marinheiros mas a perda de vidas foi muito maior.

Estes dados são aterradores mas representam a realidade da época. Samuel Plimsoll, que não era marinheiro, abraçou esta causa até obrigar os representantes do povo nas assembléias a votarem leis controlando a quantidade de carga nos navios. Estas leis depois foram adotadas internacionalmente.

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