Navegando pelo Fim do Mundo
Circunavegando a América Latina em um Delta36
Giovani Frisene

Salve pessoal,

 

Depois de algum tempo isolados pelo fim do mundo, enfim chegamos em Punta Arenas, a cidade mais austral do continente americano. Cidade de 110 mil habitantes com grande estrutura, muito bonita. Agora o pior da viagem já passou, ou o melhor...


Os canais Chilenos sao fantásticos e muito perigosos para a navegação pela ocorrência dos Willy Walls, ventos de até 50 nós ( 92km/h) que aparecem do nada e vão para lugar nenhum. Em quinze minutos passamos de uma pequena brisa para um vendaval animal, por uns 30 minutos.

Nosso primeiro Wily Wall até que foi tranquilo, 40 nós ( 74km/h) , mas com vento de popa e ondas de dois metros foi bem sussa mesmo. Só o nosso bote que estava mal preso na popa do barco, se soltou e arrebentou o remo, mas de resto beleza.


Passamos por alguns pontos famosos pelos navegadores, principalmente devido ao livro "Dois Contra o Cabo Horn". O temido Canal de Corcovado e o Golfo de Ancut foram bem. Estávamos preocupados com o Golfo de Penãs, umas 40 milhas (74 km), que normalmente tem tempo ruim com ondas gigantes. A previsão estava boa e o vento também, passamos de noite bem tranquilos, deu até para tomar um vinhozinho...


Por fim tinha o início do Estreito de Magalhães, somente 17 milhas (31 km) e teríamos passado pelo pior...foi aí que o pior aconteceu. A previsão era de ventos de 25 a 30 nós e pegamos até 42 nós (quase 80km/h) de vento de través (de lado). Com o barco forçando bastante, o mar grande com 4 metros de onda, a brincadeira foi piorando a medida que o tempo passava. Chovia e não se via nada. O Robson ficou na navegaçao dentro do barco coitado, passando mal vomitando, fora do barco "é ruim mas tá bom", pelo menos não enjoa...O Stephen ficou no leme e eu coloquei óculos de nataçáo para conseguir enxergar alguma coisa no meio da tempestade. Chegando perto do Faro Felix, dentro do barco o chart ploter acusava uma posiçao errada do barco e tínhamos que passar no meio de 2 pedras para entrarmos no porto. De óculos de nataçao até que consegui guiar vendo as ondas quebrando por baixo das pedras.

 

Já na baía do porto, abrigados, começou outra aventura, atracar no trapiche. O motor de 30 hp nao vencia o vento e corrente contra e voltamos por 3 vezes. Foi aí que um barco de mergulhadores veio nos resgatar. A idéia era amadrinharmos (amarrar um barco no outro) e daí entao sermos rebocados. Por fim a operaçao ficou perigosa, soltamos os cabos do barco dos mergulhadores já bem próximo do trapiche e conseguimos chegar perto o suficiente para atracarmos com relativa segurança, na brilhante atuaçao de leme do Robson. Foi a-ni-mal, atracar com 40 nós de vento nunca mais.

 

Nesta noite para dormirmos não foi facil, o que estava ruim piorou, o vento foi para impressionantes 60 nós (111 km/h), registrados pelo Faro Felix.

Bom, fora isso tivemos muitas focas, lobos marinhos, golfinhos de monte, quase atropelamos uma baleia cachalote, albatrozes, pelicanos,patos e tudo o mais que vive neste frio.

Como não tinha nenhuma parada  com estrutura tivemos que fazer racionamento de comida. Chegamos em Punta Arenas com 2 sopas de saquinho e um macarrão instantaneo...

Ah, com toda a confusao e ventos, quebrou nosso estai de proa (cabo de aço da frente), ficamos sem Genoa (vela da frente). Sorte que tinhamos colocado um outro cabo de aço para a vela de tempestade senao perigava quebrar o mastro.

Bom, é isso aí galera, agora é só alegria, vamos entrar no Atlantico e proa Floripa!!!!!!!!

Um abraço aos que ficam e que Deus proteja a todos nós,

Fui

Giovani

PS.: Passar pelo Cabo Froward, extremo sul do continente americano, foi surreal, alucianante saber que daquela pontinha para o norte está o Novo Mundo inteiro...

Colaboração: Fernando Maciel