Marolas crescem subitamente em Itapuã
Imagem de satélite mostra fenômeno ondulatório

Danilo Chagas Ribeiro

O navio recém havia passado pela Ilha do Junco, no Rio Guaíba, quando o satélite fez a imagem do Google Earth mostrando a "interferência de ondas". Esse fenômeno físico transforma marolas em ondas, repentinamente. O efeito é sentido claramente por quem está embarcado nas proximidades da ilha.

Há uns dois anos atravessei o canal de navegação do Guaíba, da Ponta da Fortaleza para a Ilha do Junco (Itapuã), um pouco antes da passagem de um navio. O O'Day23 chacoalhou muito por conta do "tsunami" gerado pela interferência das ondas. O pior foi a surpresa. Não dava para acreditar que aquelas marolinhas junto ao navio iriam se transformar em ondas, logo em seguida.

Nos 450 metros entre o eixo do canal e a praia da ilha há uma rampa natural submersa com 100m de extensão, onde a profundidade varia de mais de 30m para em torno de 1m (observe a batimetria na carta náutica abaixo). Ao atingir essa rampa, de uns 20º, as marolas crescem*.

Trata-se de um fenômeno ondulatório estudado pela Física, chamado Interferência de Ondas. A marola acumula amplitudes ao aproximar-se da Ilha do Junco. As ondas refletidas pela rampa somam-se às que vêm depois delas. "A velocidade de propagação da onda é proporcional à profundidade. À medida em que a profundidade vai diminuindo, a onda vai sendo freada e diminui o comprimento de onda (distância entre as cristas). A conservação de energia faz com que a amplitude (altura) da onda aumente. É o mesmo fenômeno que gera a quebra de ondas em beira de praias", explica o Comandante Plinio Fasolo, astrônomo e ex-professor de física da PUC.

"Nas praias do lado leste da ilha é preciso considerar essas ondas, que podem jogar um barco pequeno à praia", escreveu o Comandante Geraldo Knippling sobre a passagem de navios pela Ilha do Junco, na bela obra "O Guaíba e a Lagoa dos Patos" (à venda na secretaria do Veleiros do Sul 51 3265-1733).
_____________

(*) A poucos metros dali as águas do Guaíba atingem a profundidade máxima, em um poço de 64m (~S30º 21,327' W051º 03,650').
O navio na imagem do Google Earth não é dos mais "marolentos".
Foto acima: Navio passando por Itapuã próximo à Ilha do Junco - DCR, arquivo Popa


A imagem do satélite mostra a formação da "interferência de onda" na marola do navio

 

A interferência se dá na abrupta redução de profundidade (da área branca para a área azul, junto à ilha)

-o-