Baixo nível das águas impede navegação
Lago Paranoá
nunca esteve tão baixo
Notícia do Correio Brasiliense

06 Jan 2008
As águas do Lago Paranoá estão a sete centímetros do nível considerado crítico e só devem se recuperar com a chegada das chuvas. Na tarde de ontem, o espelho d’água estava a 999,57m além do nível do mar (de 999,5m para baixo, o número é tido como preocupante). A Companhia Energética de Brasília (CEB) reduziu a produção de eletricidade na última terça-feira para ajudar o lago a subir cerca de 1cm por dia, até atingir a meta de 1.000m. Enquanto isso, quem usa o reservatório para práticas de esporte e lazer reclama da falta de condições para as atividades.

Sem água suficiente no lago, donos de embarcações grandes — veleiros acima de 26 pés, por exemplo, — são obrigados a deixar os barcos em solo. Na manhã de ontem, decks de clubes às margens da água estavam cheios de barcos parados. Nem o dia ensolarado foi capaz de animar os esportistas: em toda a extensão do lago, mal se via gente navegando. A cena é incomum aos finais de semana, quando o local é tomado por velejadores.

Com o nível baixo, os barcos maiores têm dificuldades em descer a rampa dos clubes e alcançar a água. Apenas as lanchas, jet skis, lasers e veleiros pequenos continuam transportados normalmente. Quando estacionados, todos precisam usar bóias protetoras ou trocar de posição para evitar choques contra as paredes do deck, o que provoca arranhões e amassados na estrutura.

O analista de sistemas Sérgio Cale, 54 anos, não tira sua embarcação do solo desde abril do ano passado. O barco tem 32 pés e precisa ser empurrado ao longo de uma rampa coberta por, no mínimo, 2m de água, para entrar no lago. “Aqui o nível está 1m abaixo do normal. A rampa acaba e o barco ainda está seco, não tem como tirá-lo do lugar”, reclamou Cale. O analista lembra que nunca teve esse tipo de problema em Brasília e costumava velejar em qualquer época do ano.

“De setembro para cá, a situação ficou crítica. Só os barcos pequenos estão participando das regatas. Antes, a média era de 60 a 80 participantes, agora é 20”, comentou Cale. A regata São Silvestre, tradicional passeio de barco para assistir aos fogos de artifício na noite de réveillon, foi uma das prejudicadas pela falta de barcos. Para continuar com o esporte que adora, Cale comprou um modelo menor, de 21 pés, que precisa de 45cm de água para descer a rampa.

O advogado Álvaro Alberto Sampaio, 74 anos, um dos fundadores do Iate Clube de Brasília, freqüenta o clube desde 1959 e diz não lembrar de ter visto o reservatório tão baixo nos últimos anos. “Ver o lago seco na época de chuva era impossível! As pessoas estão velejando só na parte central, temos que ter cuidado para passar perto das margens”, disse.

Quando o nível está baixo, os barcos parados no deck podem sofrer danos nas laterais ou na bulina, peça fixa na parte inferior da embarcação, que ajuda no equilíbrio. Segundo Sampaio, uma das piores áreas para circular com veleiros é nas proximidades da Ponte JK, onde ilhas de pedra, areia e vegetação ameaçam o passeio. “Ali tem perigo de encalhar. Isso prejudica muito o lazer”, concluiu o advogado.
Fonte: Correio Braziliense. Ilustrações: Google Earth (Popa.com.br)