O selvagem e a sanguessuga 29 Mai 2008 Em seguida começamos a subir o rio no Mirapalheta. Enquanto ele acelerava, eu gravava cenas de vídeo. Senti uma coceira de leve na perna e, sem querer atrapalhar a gravação, afastei um pouco o olho da câmera e olhei para baixo, pra ver se seria um inseto. Percebi uma mancha escura que, à primeira vista, me pareceu ser o lodo do fundo do rio. Continuei gravando e passei a mão para tirar o tal barro, mas percebi que não era bem isso. Foi a primeira vez que vi uma sanguessuga. Afinal, continuo um selvagem urbano: quando eu era criança pedi para minha mãe uma corda pra fazer um balanço lá no sítio da Pinguela, a poucos quilômetros do Maquiné. Uma vizinha analfabeta que estava por perto exclamou com espontaneidade: Ao tentar desgrudar a chamixuga, como o bicho é conhecido por ali, uma das pontas saiu fácil mas a outra, não. Puxei com força, mas não resolveu. O Grassi vinha fumando e logo encostou o cigarro na sanguessuga, que me largou na hora. Não doeu nada, nem ficou marca, mas foi totalmente inesperado, pelo menos pra quem nunca tinha visto aquilo. Quando contei essa história e mostrei as fotos para o Jim, um amigo americano do Texas, PhD em matemática e tal e coisa, achei que ele iria se surpreender, mas quem se surpreendeu fui eu. Esse ex-marine, que serviu no VietNam como enfermeiro, me contou que várias vezes viu os feridos chegando dos arrozais, cobertos de sanguessugas. Ele gostava de retirá-las e enchê-las com acetona, usando seringa e agulha. Depois tocava fogo e assistia à explosão. "Muito divertido", disse ele.
E eu simplesmente joguei o bicho n'água, de volta... Coisa de selvagem. |
Foto inflável no Rio Maquiné: Luis Alberto Grassi. Frames de vídeo: Danilo Chagas Ribeiro |