Volta ao Mundo em formato Big Brother
Cenas a bordo mostradas na TV
João Tiago

13 Fev 2008
A aventura de quem se faz ao sonho de enfrentar os desafios da circum-navegação será captada por câmaras instaladas em todos os barcos concorrentes e transmitida para 11 países, revelou a organização britânica

Será como uma novela da vida real, um Big Brother transmitido não de uma casa, mas dos cerca de 20 veleiros com comprimentos entre 40 a 50 pés (entre 12 e 15 metros) que se irão fazer à primeira regata de volta ao mundo com partida e chegada em Portugal, a Portimão Global Ocean Race.

A prova, que larga da cidade algarvia a 12 de Outubro, foi apresentada publicamente na terça-feira, na Feira Nauticampo, em Lisboa, e a avaliar pela descrição dos organizadores da prova, os conceituados velejadores britânicos Josh Hall e Brian Hancock, não vão faltar histórias de prender à televisão.

«Há histórias invulgares, como a de dois britânicos que só se conheceram no dia em que apresentamos a regata num pub. Ele vendeu a sua fábrica de doces na Escócia e ela largou o seu emprego numa seguradora em Londres para participarem na regata. E não têm qualquer relacionamento romântico, pelo menos para já», foi desvendando Josh Hall, que já completou três circum-navegações em solitário, incluindo a esgotante Vendee Globe, e como tal conhece bem os efeitos que este tipo de desafio pode ter no comportamento dos velejadores.

Mas, além de alguns nomes sonantes da vela oceânica, junta-se também uma velejadora profissional francesa que irá acompanhada da sua filha de 22 anos e mesmo um casal australiano que se divorciou depois de inscrito na prova e que mesmo assim irá competir.

«Ou voltam a estar juntos, ou vão direitos ao Tribunal mal cheguem a um porto», gracejou Josh Hall.

A bordo de cada um dos veleiros inscritos vão cinco câmaras que os tripulantes, solitários ou em duplas, podem controlar.

Mas não são os únicos. A organização quer controlar directamente as câmaras à distância, para poder realizar documentários semanais.

Josh Hall foi avisando que não pretende relatar a regata como se apenas de uma notícia de vela se tratasse.

«Vamos relatar histórias sobre aspectos da vida, sobre o drama humano. Não queremos que os nossos competidores mintam para a câmara no barco, queremos que digam “este é o meu gato”, pois é nisso que as pessoas estão interessadas».

O projecto de programa semanal em horário nobre está dependente de um acordo que a organização está a negociar com uma rede de televisão terrestre na Grã-Bretanha.

Será essa plataforma de meios a fazer a difusão do programa para 11 países diferentes, incluindo para Portugal, uma vez que é esperada a participação de um barco luso.

A novela da regata será ainda difundida através em PodCast e será possível acompanhar o andamento e a posição de cada barco no website da prova www.portimaoglobaloceanrace.com.

Os organizadores britânicos que formam a Global Sailing Ventures pretendem fazê-la chegar também a 80 milhões de crianças em idade escolar, através de programas de ensino, baseados nas experiências da regata, adaptadas ao conhecimento de geografia, desporto e ciências.

O objectivo é quebrar barreiras e fazer com que este tipo de prova deixe de ser apenas para elites.

A própria filosofia da prova leva a que o sonho de dar a volta ao mundo não esteja só acessível a alguns.

Para participar, não são necessários milhões, mas sim cerca de 500 mil euros. E isto quando a inscrição de 10 mil euros é restituída em parcelas, de acordo com o número de etapas concluídas.

Mas quem é que se submete a isto, quando nem há «prize money»? «Velejadores profissionais experientes que preferem fazer uma volta ao mundo com um orçamento mais pequeno e numa frota maior» e «amantes da aventura», pessoas que «sempre sonharam em fazer uma volta ao mundo à vela e que agora têm condições para o poder fazer», explicam os responsáveis.

Pela frente, os concorrentes terão pela frente 30 mil milhas de navegação e noves meses de oceano, passando pela Cidade do Cabo (África do Sul), Wellington (Nova Zelândia), Ilhabela (Brasil) e Charleston (Estados Unidos), antes de regressar a Portimão.

«Muito drama haverá entre a saída e o regresso», antevê Brian Hancock.

Câmara de Portimão investiu 600 mil euros na prova

A Câmara de Portimão teve que investir 600 mil euros para poder ser porto de partida e chegada da primeira regata de volta do mundo à vela baseada em Portugal.

O presidente Manuel da Luz frisou, no entanto, que espera um retorno de quase 1,2 milhões de euros do investimento, fruto desta nova filosofia de marketing da prova. Além disso, fez notar que se trata de um segmento «estratégico» para o concelho.

«Temos muita esperança de que teremos um maior alcance do que qualquer prova de vela alguma vez teve», disse Josh Hall, fazendo notar que a Volvo Ocean Race, uma das provas de vela mais mediáticas da actualidade, tem um público muito restrito.

«Com histórias do dia-a-dia, seremos muito mais adaptados ao grande público e assim podemos estar na RTP1 às 20 horas e não num canal secundário às 3 horas da manhã», reforçou.
Fonte: Barlavento on line (Portugal)