Da Vila de Itapuã à Tapes
A almiranta e a lagoa.

Fernando Maciel


Não eram os traquetes bem tomados,
Quando dá a grande e súbita procela,
Amaina, disse o mestre a grandes brados,
Amaina, disse, amaina a grande vela!
Não esperam os ventos indignados
Que amainassem, mas, juntos dando nela,
Em pedaços a fazem c'um ruído
Que o Mundo pareceu ser destruído!
Lusíadas, VI, 71



Quinta-feira, 20 de abril de 2006.

20:00h, Aqui estamos novamente na acolhedora Vila de Itapuã, no Clube Náutico Itapuã somos recebidos pelo simpático "gordo" Jairo, este uma figura a parte. O Marcelo "Lampadinha" Kupka também estava lá, ele estava dando um jeito em nosso piloto rebelde. Digamos que o Marcelo deu seu toque "iluminado" ao nosso tripulante amotinado.

Rapidamente com a ajuda do Marcelo e do Jairo, descarregamos o carro. A almiranta Marta, tratou de acomodar tudo organizadamente em seus devidos lugares. Feito isto, vamos para a cozinha do clube onde preparamos um lanche, muita conversa e algum tempo depois nos despedíamos do Marcelo e fomos tratar de dormir. Amanhã é o dia em que a almiranta vai navegar na lagoa pela primeira vez.

Sexta-feira, 21 de abril de 2006.
Amanhece, dia nublado. No través da ilha das Pombas começa a chover, vento W, mas não esta firme nega várias vezes. Para a almiranta Marta, da Vila de Itapuã para S é tudo novidade.
Considero esta parte de nosso "rio-lago" mágica. Lentamente as belezas deste trecho vão se mostrando, e são muitos os encantos e recantos. Só mesmo navegando por aqui... Só deste jeito é possível ver tudo por um ângulo diferente e especial, privilégio de poucos.

13:00h, Vamos deixando o farol de Itapuã por BB, pedimos licença para entrar no Mar de Dentro, Lagoa dos Patos, por muitos mais respeitada do que o próprio mar, isto devido em parte as suas incontáveis histórias e lendas.
Agora o Planeta veleja elegante a 05 nós. O tempo continua muito feio, estamos com o farolete do Barba Negra no visual quando o vento ronda e entra na proa SSW. Não bastasse a mudança de direção, também somos "presenteados" com rajadas mais fortes. Não demorou para o Planeta começar a ser açoitado pelas primeiras ondas. Bem, não estamos em regata para ficar dando bordos até o Pontal de Santo Antônio, não queremos motorar e é a primeira vez da almiranta na lagoa. Muita calma nesta hora! Então, resolvemos voltar e buscar o abrigo da Praia do Sítio.
Como diria nosso amigo Ladislau Szabo, na volta para o Sítio o Planeta parecia um "barco-foguete", impulsionado pelo vento e mais um empurrãozinho da ondulação. Esta dupla, vento e ondulação estavam mesmo querendo "se aparecer". A medida que nos aproximávamos novamente do farol a intensidade da dupla aumentava, estavam inticando¹ com a gente.

16:20h, Praia do Sítio, jogamos ferro. Vou dando uma geral nos cabos, adriças e escotas enquanto isto, Marta assume seu laboratório e começa a providenciar nosso almoço.

-Quando eu era guri, vinha com meus pais veranear aqui. Comento com Marta que se interessa, e olhando na volta indaga:
-E chegavam aqui como? Onde é que vocês ficavam? No meio do mato de barraca? Acho graça... Afinal não é todo mundo que sabe da história deste lugar, então respondo a pergunta da almiranta.
-Nãããããão! Isto aqui era uma vila, existiam várias casas e até uma igreja. Igreja que olhando bem entre a vegetação, acabo conseguindo localizar e mostrar a torre do sino para Marta. Continuo... - Tinha uma estrada, na verdade uma picada, e por ela com muito esforço, se chegava até aqui. Concluo. Acho que eu não tinha dez anos de idade, ao contrário de minha idade lembro muito bem do belo Jipe de meu pai, igualmente vivas na minha memória estão as imagens da casa do Tio Chico e sua baleeira cabinada que se chamava "Coral" , esta ficava fundeada em frente a uma gigantesca figueira. Cristalina e limpa, assim era a água da praia do Sítio, nem dá para acreditar que estamos no mesmo lugar. Muitas garrafas plásticas, muito lixo, de tudo se vê e tudo se encontra que lastima, mesmo com este lugar transformado em parque e cheio de regras as correntes do rio e o vento se encarregam de trazer o lixo das cidades até aqui.
Caramba! E os bugios com seus roncos assustadores. Sim, para uma criança no meio do nada, em uma pequena vila sem luz elétrica aqueles roncos eram aterrorizantes. Não menos amedrontadoras, eram as enormes aranhas Caranguejeiras que insistiam em ficar do lado de dentro da casa do tio Chico. Hoje, fico feliz em ouvir a barulheira dos bugios que quase foram extintos. Mas, me entristece o fato de não poder desembarcar na praia "É PROIBIDO". Será que é necessário tamanho exagero?

18:10h, Depois do almoço, ficamos muito tempo sentados na proa do barco revezando o binóculo, vasculhando cada cantinho deste lugar maravilhoso.

18:45h, Lá pelos lados da Ponta Escura, o sol e o rio se encontram e mais uma vez assistimos de camarote o show de luzes, cores e efeitos, e de graça, sem pagar nada. Estamos felizes em estar aqui, felizes com o início de nossa aventura.
Ficamos ali contemplando os últimos momentos daquele espetáculo particular. A natureza conspirou para que estivéssemos aqui e agora. Agradeço em silêncio por este momento.

Sábado, 22 de abril de 2006.
07:00h, Vamos deixando a praia do Sítio para trás, após uma boa noite de sono. A almiranta se negou a levantar da cama.
Panos para cima e proa mais uma vez no Pontal de Santo Antônio, agora o vento nos ajuda e vamos orçando a 5,5 nós com um vento SE. Já com a tripulação completa, surge um café para acordar de vez. Velejávamos tranqüilos, quando avisto bandeiras sinalizando redes de pesca, vou até a proa e procuro os pares tentanto localizar a "porteira". Tudo safo! Passamos entre as redes mas, fico me perguntando: "E se fosse a noite?" Que bela confusão!

"Isto me faz lembrar uma regata, na qual vínhamos disparados na frente com o Mutley. Já contávamos com mais um troféu na prateleira, e aí, na últimas milhas, com o través da Serraria por BE, a surpresa... Sem aviso o Mutley parou. Enlouquecidos procurávamos a causa daquela freada, tínhamos que encontrar uma pista do que estava acontecendo. Achamos, ali estava uma garrafa pet verde, aquelas de guaraná. Uma embalagem litrão, devidamente presa a ponta de uma rede, que agora se encontrava enroscada no bulbo da quilha de nosso Mutley.
Inverno, água muito fria. A tripulação se entreolha e nada de ação, sobrou para o comandante... Putz! Tirei a roupa e mergulhei, áaaguaaa friiiia, brrrrrr!
Barco livre, comandante congelado. Tentamos nos recuperar na regata mas, já era tarde demais. Frustração total a bordo".

Pontal de Santo Antônio vencido, velejamos mais uma vez com o vento aumentando de força. Folgo as velas, o Pau do Hugo fica por BE, vamos rápido rumo ao Clube Náutico Tapense. No VHF chamo o clube, quem nos responde dando as boas vindas é o Baiano, outra figuraça.
Com o Planeta no box indicado pelo Baiano, vamos para terra onde passamos pela secretária do clube e damos entrada no barco. Mais uma circulada para conhecer as dependências do Náutico Tapense e o chuveiro nos chama. Acreditamos que: Só aqueles que navegam em pequenos barcos, só eles, sabem o real valor de um bom banho.

Tapes e Arambaré, são lugares muito bonitos que já conheço a bastante tempo. Por estas bandas, muito pesquei com meus falecidos avô e pai. Chegamos a ter uma bela casinha em Arambaré, casa que ficava sob uma figueira centenária imensa.

O clube tem ótima estrutura, não é a toa que tantos barcos conhecidos estão por aqui. Basta juntarmos as muito boas instalações do Náutico Tapense, o Saco de Tapes com seus belos recantos e seus generosos ventos para termos a receita de deliciosas navegadas, regadas a praias e abrigos imperdíveis.

Domingo, 23 de abril de 2006.
Levanto com a máquina fotográfica nas mãos, faço várias e belas fotos do alvorecer e também do restante do clube.
Após o café, vamos explorar as redondezas com o bote. Este lugar é para se passar mais tempo, não apenas um final de semana, fico pensando com meus botões.

Mais tarde, novamente no clube, vamos experimentar o restaurante do qual ouvimos bons comentários. Realmente é muito bom.

A tristeza mais uma vez se abate sobre nós, vem se aproximando a hora de ir embora. Sacolas e mochilas prontas, agora é esperar a carona. Enquanto esperávamos, pude observar o Clóvis Melendo e o Toninho chegando com o TZ (leia-se tezão), um O'Day 23 que foi nosso e acabamos negociando com o Clóvis.
Que bom que este barco não se tornou prisioneiro de nenhum clube, afinal de contas, foram feitos para navegar.

¹ Provocar, desafiar.


Rota sugerida. Utilização por conta e risco do usuário
Pontos na Lagoa dos Patos: Emilio Oppitz - Rota: Danilo Chagas Ribeiro


Trecho Veleiros - Sítio
# Nome do WP Dist Acum Dist Perna Rumo (Rv) Coordenadas (GGGº MM.MMM')
1. INICIO 0 m S30 05.592 W51 15.392
2. EIXO140 0.5 nm 0.5 nm 258° true S30 05.694 W51 15.947
3. EIXO136 1.8 nm 1.3 nm 244° true S30 06.251 W51 17.254
4. EIXO134 2.5 nm 0.7 nm 213° true S30 06.838 W51 17.694
5. EIXO132 4.1 nm 1.6 nm 170° true S30 08.438 W51 17.358
6. EIXO32 4.7 nm 0.6 nm 168° true S30 09.051 W51 17.206
7. EIXO23 5.5 nm 0.8 nm 169° true S30 09.839 W51 17.023
8. EIXO119 5.8 nm 0.3 nm 162° true S30 10.110 W51 16.918
9. EIXO120 8.7 nm 2.9 nm 152° true S30 12.673 W51 15.365
10. EIXO35 9.9 nm 1.2 nm 131° true S30 13.477 W51 14.300
11. EIXO13 12.9 nm 3.0 nm 131° true S30 15.431 W51 11.713
12. EIXO36 16.2 nm 3.3 nm 139° true S30 17.877 W51 09.223
13. EIXO19 16.6 nm 0.5 nm 139° true S30 18.223 W51 08.872
14. EIXO47 16.9 nm 0.3 nm 129° true S30 18.402 W51 08.616
15. 12 18.4 nm 1.5 nm 119° true S30 19.099 W51 07.137
16. 11 19.2 nm 0.8 nm 119° true S30 19.490 W51 06.313
17. CanaldoJunco 20.7 nm 1.5 nm 119° true S30 20.240 W51 04.752
18. EIXO99 21.6 nm 0.9 nm 119° true S30 20.660 W51 03.869
19. RecommendedRout 21.7 nm 0.1 nm 131° true S30 20.743 W51 03.758
20. EIXO97 21.9 nm 0.1 nm 135° true S30 20.840 W51 03.647
21. EIXO98100 22.0 nm 0.1 nm 156° true S30 20.976 W51 03.577
22. fortaleza 22.3 nm 0.3 nm 185° true S30 21.308 W51 03.612
23. pedreira 23.0 nm 0.6 nm 126° true S30 21.670 W51 03.037
24. FIM-SITIO 24.0 nm 1.0 nm 175° true S30 22.680 W51 02.943


Trecho Sítio - Farol

1. INICIO-FAROL 0 m S30 22.724 W51 02.956
2. SITIO-FAROL_2 1.0 nm 1.0 nm 240° true S30 23.214 W51 03.942


Trecho Farol - CNT

1. Chartlagoadospa 0 m S30 23.262 W51 03.949
2. 2NVALB (opcional) 24.8 nm 24.8 nm 193° true S30 47.400 W51 10.613
3. Chartlagoadosp1 30.4 nm 5.6 nm 245° true S30 49.760 W51 16.513
4. 1SANTO 31.1 nm 0.8 nm 274° true S30 49.706 W51 17.408
5. 1PNTXB 32.0 nm 0.8 nm 295° true S30 49.356 W51 18.274
6. PAHUGO 36.2 nm 4.3 nm 318° true S30 46.216 W51 21.603
7. SacodeTapes 41.7 nm 5.5 nm 1° true S30 40.744 W51 21.447
8. 1FANAU 41.8 nm 0.1 nm 278° true S30 40.728 W51 21.579
9. 1CNT1 42.2 nm 0.3 nm 300° true S30 40.520 W51 21.944
10. 1CNT2 42.5 nm 0.3 nm 299° true S30 40.386 W51 22.230
11. CNT7 42.7 nm 0.2 nm 306° true S30 40.257 W51 22.433
12. CNT6 42.9 nm 0.2 nm 299° true S30 40.143 W51 22.676
13. CNT5 43.2 nm 0.2 nm 289° true S30 40.069 W51 22.925
14. CNT4 43.3 nm 0.1 nm 281° true S30 40.045 W51 23.075
15. CNT3 43.4 nm 167 m 271° true S30 40.044 W51 23.179
16. CNT2 43.5 nm 115 m 280° true S30 40.027 W51 23.302

Comentários: info@popa.com.br

Role a tela para a direita para ver todas as cartas

 

 

-o-