Setenta embarcações de recreio partiram de Porto Alegre na noite fria da sexta-feira, 9 de maio de 2008. Veleiros e lanchas com 221 tripulantes a bordo desceram o Rio Guaíba até o Farol de Itapuã, onde passaram a noite em fundeio na Praia do Sítio. Na manhã do sábado a flotilha entrou na Lagoa dos Patos e navegou até Tapes. Navegar essas 69 milhas náuticas (128km) foi um passeio para alguns, e um desafio para outros.

A proposta de navegar em grupo proporciona segurança aos navegantes de menos experiência, permitindo-lhes rumar a destinos ainda não explorados. A realização de palestras e reuniões com os participantes, desde semanas antes da largada, apresenta informações importantes para a navegação, segurança e meteorologia. O Comte Emilio Oppitz apresentou palestra. Meteorologistas renomados foram consultados.

Recursos e auxílio à navegação
O Popa ofereceu rota e waypoints do percurso, preparados especialmente para veleiros e para lanchas. O contato permanente por rádio durante a realização do evento leva aos participantes informações preciosas como tráfego de navios, ocorrência de neblina e localização de redes de pesca.
Entidades diversas foram avisadas sobre o evento, como a Capitania dos Portos, SPH, Praticagem, Sindicatos de pesca, e outras. Além de tudo, a
companhia de navegadores veteranos em um barco logo ali ao lado encorajou os principiantes.

Largada festiva
O IIº Cruzeiro-Regata Porto Alegre - Tapes propiciou isso tudo e muito mais. A largada foi festiva. Fogos de artifício foram disparados logo após o apito de largada. O Vitya tocou o Cisne Branco, o Hino da Marinha, com 3.500W de potência, durante a queima de fogos. Estava muito bonito!

Integração
Ao todo, 83 embarcações foram inscritas, como veleiros de regata e de cruzeiro, lanchas e trawlers (veja lista mais abaixo). Foi a integração de diferentes modalidades da náutica de recreio. Participaram associados de diferentes clubes náuticos e marinas de Porto Alegre, Viamão e Tapes. Foi uma grande festa, reunindo navegadores jovens e velejadores veteranos. Foi realmente um evento de integração.

Navegação noturna
Navegar pelo Rio Guaíba à noite, da Vila Assunção até Itapuã, não é para qualquer um.
O grau de dificuldade nessa primeira parte do percurso caracteriza-se pela navegação noturna, em que o domínio do GPS facilita bastante. Trata-se de navegar olhando para um instrumento com tela iluminada, de onde se obtém o rumo a seguir, e da aplicação dessa informação ao leme do barco.

Navegar à noite implica ainda em atenção extra para dar conta do tráfego de navios cargueiros em canal estreito e mal sinalizado. São 24 milhas náuticas (43km) de canais escassamente sinalizados, às vezes, com vento forte e ondas. A opção de navegar fora do canal para evitar o tráfego de navios tem a desvantagem da presença de redes de pesca.
Nas duas opções, o conhecimento da arte de
navegar é fundamental.

Uma navegada pelo Guaíba à noite pode significar céu muito estrelado, meteoritos riscando o céu, a bela paisagem da orla de Porto Alegre iluminada, e uma indescritível sensação de paz. Pode significar também olho constante nos instrumentos de bordo, olho na proa escura, olho no céu, olho nas redes de pesca, e olho no tráfego de navios.

Vencido o Guaíba, os participantes fundearam seus barcos na Praia do Sítio, situado no Parque de Itapuã, área de preservação ambiental, povoada por bugios, capivaras, e outras espécies nativas. É comum ouvir-se o ronco dos bugios por lá. No sábado às 8 horas da manhã ocorreu a nova largada em direção a Tapes.

Mar de Dentro
Na segunda parte da viagem entra-se na Lagoa dos Patos e navega-se 45 milhas náuticas (83km) até Tapes, situada no fundo de uma enseada da costa oeste da Lagoa. É um caminho percorrido há mais de século por embarcações a pano e mais tarde a motor, na Rota do Arroz (foto antiga em Tapes).

Muita gente que navega há anos em Porto Alegre, jamais navegou na Lagoa dos Patos, o Mar de Dentro. Ao entrar-se na Lagoa, as condições "de mar" mudam. No que se cruza o Farol de Itapuã, deixando o Rio Guaíba para trás (foto abaixo), o balanço do barco muda bastante. Um cego reconheceria a mudança das águas imediatamente. Muda também o respeito.

Quem navega desde Porto Alegre e alcança o mar, sabe que a Lagoa dos Patos pode ser o pior trecho do caminho. A pouca profundidade da lagoa gera ondas curtas e com grande amplitude, tornando a navegação, muitas vezes, mais penosa do que no mar.

Navegar na Lagoa dos Patos significa ter horizonte só de água em alguns trechos, sem pontos de referência em terra. Implica portanto
em conhecimento de navegação.

Levamos um susto no Guaíba ao passarmos por um navio, como conseqüência da confiança exagerada de uns nos outros, todos safos. O fato fez com que, logo que fundeamos na Praia do Sítio, o bar fosse aberto com muito entusiasmo. O Fernando Maciel (foto) assou picanhas e lingüiças na churrasqueira do Canibal, faina que só terminou depois das 2 da manhã, com muitos causos contados.
Eu ainda não tinha navegado com o Márcio Lima Equinautic. É um tripulante safo, divertido e muito ativo.
Logo após o sol nascer, o comte Ronaldo Ribeiro,
da lancha Megatoy, desembarcou  o comte Paulo
Silveira no Canibal do Comte Andreas Bernauer.

Dia das Mães
A data da largada foi adiada por previsão de mau tempo  alguns finais de semana antes. Parabéns à meteorologia nacional que acertou em cheio, especialmente os meteorologistas Cleo Kuhn e Eugênio Hartback. A nova data
escolhida foi inconveniente. O meio náutico
evita marcar eventos em finais de semana com
dias comemorativos, como o Dia das Mães.

O Comte Átila Böhm, capitão do veleiro Atrevida, e que já participou de inúmeros eventos náuticos no Rio Grande do Sul, comentou semanas antes da largada que a data era imprópria. "Se vocês botarem mais de 20 barcos no final de semana do Dia das Mães, vocês são uns gênios!", disse ele. O final de semana escolhido foi realmente ruim, mas era o único possível diante do calendário de eventos.

Exagero do Comte Átila à parte, esperávamos menos barcos do que no ano passado, em função da data. Entretanto, 83 embarcações foram inscritas no Cruzeiro-Regata. Participaram exatamente 70 barcos. Foi o recorde do Popa, que já vem realizando eventos há 3 anos. Neste ano, a novidade foi a participação significativa das lanchas, uma tentativa de integração do meio náutico que teve sucesso.

Churrasco oferecido pela Prefeitura de Tapes
Após a chegada a Tapes, já à noite, os navegadores comemoraram o feito com churrasco oferecido pela Prefeitura Municipal de Tapes. Quem faz churrasco sabe que assar carne para muita gente não é fácil. O churrasco para 247 pessoas estava delicioso, como da outra vez, em 2006.

Em seguida fez-se a entrega de placas alusivas à participação do evento, premiação e distribuição de camisetas aos participantes, com a presença da Madrinha do cruzeiro-regata Paula Pereira, velejadora de Tapes (foto). A festa ocorreu na sede do Clube Náutico Tapense, que acolheu magnificamente os participantes e hospedou as embarcações.

Presença da Marinha do Brasil
A Marinha do Brasil prestigiou o evento, oferecendo embarcações para acompanhar a largada em Porto Alegre e a chegada em Tapes. O Capitão dos Portos do Rio Grande do Sul, Capitão-de-Mar-e-Guerra Carlos Alberto Moreira Gouvêa (à esq na foto abaixo) e o Chefe do Estado-Maior do 5º Distrito Naval, Capitão-de-Mar-e-Guerra Flavio Augusto Viana Rocha (ao centro), participaram
ativamente das festividades de entrega dos prêmios no Clube Náutico Tapense. À direita, na foto abaixo, o comodoro do CNT, Eduardo Cidade.

Na festa de premiação foram distribuídas camisetas e camisas polo alusivas ao cruzeiro-regata e placas comemorativas (foto abaixo). Cylon Rosa Neto (no timão do Vitya na foto mais acima) e Eduardo Ribas tiveram participação fundamental na viabilização desta surpresa aos participantes.

Jaguarada
"No mundo tem os jaguara e o resto", aprendi
há vários anos em uma pescaria no Rio Uruguai, no interior do Rio Grande do Sul. A frase, que ficou marcada na minha lembrança para sempre, foi cunhada pelo Ciro Dull, cirurgião-geral de Três Passos RS, um jaguara de primeiríssima categoria, meu 'contra-parente' que virou irmão de coração, do nada. Aurélio Buarque de Holanda disse que jaguara é um subst. masc. de origem tupi-guarani usual no RS, que significa cão ordinário. O ilustre filólogo alagoano possivelmente não sabia que nessas bandas riograndenses, jaguara também significa um amigo de fé e sem frescuras, um parceiro em quem se pode contar pra valer. Gente simples, genuína, confiável, que aprecia coisas simples, que faz tudo o que pode para resolver os problemas dos amigos.

Os jaguara são pessoas da melhor espécie. Jaguara não pode ser pronunciado no plural porque soaria excessivamente "pernóstico", tirando a legitimidade do elogio. Na melhor das hipóteses, pode-se arremedar o plural usando o coletivo jaguarada.

Na festa de premiação no CNT apresentei a jaguarada de primeira categoria que foi imprescindível na realização do nosso evento (foto abaixo). São eles Cylon Rosa Neto, Manoel Luiz Luizinho Lopes, Dieter Brack, Roberto Gruner, Eduardo Ribas, Munir Almeida, Fernando Maciel, Marcio Lima, Jorge Zaduchliver, Fernando Lisboa Jr e Emilio Oppitz. Este último não chamei, na verdade, porque tínhamos outra surpresa pra ele. Cada um deles atuou de forma distinta na realização do evento, dentro de suas possibilidades, mas de forma inequivocamente jaguara. Só quem tem um amigo jaguara pode reconhecer seu valor.

Ônibus para a volta
A organização do evento requisitou ônibus com partida na sede do CNT à meia noite de sábado. Assim foi possível estar domingo em casa.

Reabastecimento
As lanchas e alguns veleiros reabasteceram em Tapes. Um caminhão-tanque com gasolina e óleo diesel foi previamente requisitado e estacionou à beira do cais do CNT no sábado à tarde, evitando-se assim a operação com bombonas.

Evento passará para o calendário de turismo
O Prefeito Municipal de Tapes, Sylvio Tejada (foto ao lado), propôs à Câmara do município a oficialização do Cruzeiro-Regata Porto Alegre - Tapes.

Agradecimentos
Além dos participantes da Comissão de Regata, vários amigos do meio náutico colaboraram na organização e realização, como Roberto Gruner e Márcio Lima, que sugeriu a participação das lanchas. Listá-los é proposta de risco, porque sempre haverá a possibilidade de esquecer alguém. Em todo o caso, agradecemos a todos que participaram do evento, especialmente aqueles que viabilizaram a organização com seu dedicado trabalho.

Comissão organizadora (foto)
Cylon Rosa Neto Raio de Luar
Manoel Luiz Lopes (Luizinho)
Jorge Zaduchliver
Dieter Brack
Emilio Oppitz
Fernando Lisboa Jr
Fernando Maciel Planeta Água

Colaboradores especiais:
André Bastian
Andreas Bernauer
Celso Chagas Ribeiro
Eduardo Cidade (Nico)
Eduardo Ribas Goofy
Geraldo Knippling
Jairo Oliveira
Luiz Fernando Pereira Graxaim
Luiz Morandi
Marcelo Bourscheid
Marcio Lima
Maria Py
Munir Conter Almeida
Odécio Adams
Ricardo Galhardete
Ricardo Pereira
Ricardo Weber
Roberto Gruner
Rogério Schroder
Sylvio Tejada Xavier
Wiktor Iglin

Agradecemos o patrocínio da Equinautic, Bourscheid Engenharia, Triativa, Halt Nautos, Jimo, Ilhasul e ARO, a colaboração da Delta Yachts, a promoção da Prefeitura Municipal de Tapes, Clube Náutico Tapense (autoridade organizadora), e o apoio do Veleiros do Sul e da Marinha do Brasil.

Participantes
83 embarcações inscritas e 70 participantes, 54 a vela e 16 a motor, 256 tripulantes inscritos, 221 participantes.