Paisagens 1109
Danilo Chagas Ribeiro

O passeio pelo Rio Guaíba, em Porto Alegre, estava muito bom. O marinheiro de primeira viagem fazia muitas perguntas e comentava bastante sobre como é bonito velejar.
Ao por-do-sol, percebeu-se o fascínio de quem aprecia pela primeira vez o crepúsculo a bordo. Pouco depois veio mais uma pergunta.

 

- Não vão ligar as luzes?
- Já estão ligadas. A gente liga ao por-do-sol.
- Mas eu não to vendo...
- Só indo lá na proa pra ver, ali na frente. É uma verde e uma vermelha.
- Ta... Mas e pra enxergar?...
Só aí entendeu-se a pergunta, ou a preocupação.
Com todo o jeito pra não assustar o candidato a velejador, tentou-se explicar que se navega à noite sem enxergar coisa nenhuma adiante da proa, salvo em noites claras.

 

Ao passarmos perto de um toco boiando, já no lusco-fusco, mais apreensão por parte do novo marinheiro.
A navegação noturna tem seus apelos, e em travessias pelo mar não é uma opção, mas uma necessidade. Sim, há casos de abalroamentos sérios, como ocorreu com o veleiro Vadyo na costa da Flórida. Sabe-se de encalhes à noite também. A encrenca mais habitual no rio, à noite, é pegar uma rede de pesca. Mas todos esses casos podem ser considerados raros, dependendo, principalmente, da tarimba da tripulação.

 

Além da questão de orientação da navegação, o que mais deixa assustado um novato é a possibilidade de abalroamento.
A situação me faz lembrar da frase de um amigo, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Péricles Vieira Filho, em certa ocasião: "Nós, 'da água', que entregamos a nossa vida ao timoneiro, para dormir na proa do barco, entendemos muito bem o significado da palavra "amigo".

 

Para complicar a situação do ilustre passageiro, logo que escureceu, uma lancha com mais de 30 pés (foto) que navegava a uma meia milha atrás de nós, ao sul da Ponta Grossa, ficou pra lá e pra cá durante uma hora mais ou menos. De vez em quando varriam a água com um farolete. Poderia ser que estivessem procurando algo pelo rio, mas depois saberíamos que o que procuravam mesmo era o caminho de volta para o clube.
Nosso passeio teve um final feliz, mas o marinheiro de primeira viagem não ficou lá muito motivado a navegar à noite.

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