O marinheiro Joel
Mais de 40 anos de marinharia
Danilo Chagas Ribeiro

03 Mar 2009
Joel Rosa é o profissional mais antigo trabalhando em marinharia no Veleiros do Sul, de Porto Alegre, onde atua há 42 anos.
"Nasci na beira do rio", conta Joel, 64 anos, filho de pescador.

Ribeirinho, sua vida girou sempre em função do Rio Guaíba. Aos 8 anos ia para a escola pela manhã e à tarde saía para pescar com o pai. Aos 14 anos foi trabalhar em uma empresa mas não se adaptou como empregado. No mesmo ano resolveu comprar peixe dos pescadores e revendê-los no Mercado Público, para onde navegava sozinho desde o bairro Assunção.

Joel iniciou a atividade de marinharia no Veleiros do Sul em 1967, quando passou a cuidar de uma lancha Carbrasmar de madeira, de um transportador de peixes associado do Veleiros do Sul. Com o tempo, Joel já dava conta de 28 lanchas. Hoje, bem sucedido na profissão, presta serviços de marinharia em 90 embarcações atracadas no clube. De Terças a Domingos, o empresário da marinharia está a postos no Veleiros do Sul, seja embarcado ou caminhando pelos trapiches com o inseparável pano sobre o ombro. Além de administrar os 12 funcionários de sua empresa, Joel também executa algumas tarefas. Nossa conversa foi interrompida porque Joel teve que ir comprar um bujão de gás para um cliente.

De gênio forte, para alguns Joel pode parecer de pouca conversa. Mas quem o conhece sabe que é uma criatura solícita e muito profissional. Domina a faina a bordo e no trapiche, e sabe de tudo o que acontece no rio e no clube. Mostra sempre muita convicção no que diz, inclusive sobre a previsão do tempo.

Joel já navegou bastante. Perdeu as contas de quantas travessias fez em veleiros, como as muitas para Florianópolis e para o nordeste brasileiro. Nos anos 90 navegou até o Caribe e neste verão velejou de Porto Alegre à África do Sul. "Aqui no estado não tem rio ou lagoa que eu não conheça", gaba-se o marinheiro sessentão.

O Comandante Marcelo Shogun Caminha conhece bem Joel. Diz ele: "O Joel não é um cara. É dois. Tem o Joel do trapiche, às vezes rabujento, e tem o Joel marinheiro embarcado, um dos melhores que conheci. Não tem mar ruim pra ele. E o seu estômago deve ser de lata: não enjoa nunca. Me acompanhou em vários translados para Santa Catarina e Angra dos Reis. Se no trapiche ele é pouco "político", para dizer o menos, no mar é o contrário. No mar ele é afável, evita confrontos entre tripulantes, é incansável, e está sempre arrumando o barco por dentro e por fora".

Quando perguntei ao Joel se ele lembrava de alguma história divertida a bordo, logo respondeu: "Lembro de várias, mas antes tenho que pedir a autorização dos comandantes".

Há poucas semanas Joel desenroscava uma rede de pesca do hélice do veleiro Bravo.
Aí vão duas dicas de Joel para safar-se de redes de pesca:
- Logo que perceber que o hélice está enroscado, não insistir com o motor. Tem que retirar a rede.
- As redes para tainhas têm que ficar bem na superfície e por isso nelas são utilizados cabos mais resistentes que garantem maior tração. Para se safar das redes, as facas utilizadas em mergulho, que têm serra na lâmina, são as mais indicadas para a faina: "no vai e vem elas cortam tudo", conta Joel.

O Comte Caminha comentou ainda sobre o gosto do marinheiro pelo mar: "Joel toma conta da cozinha, do motor e ajuda na faina das velas. Se ele sabe que alguém, como eu, gosta de tomar café quando assume o turno, mas tem dificuldade com o manuseio de panelas, ele levanta e passa o café.
E sabe quanto é que ele cobra por todos estes serviços?
Nada, absolutamente nada".
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Fotos: Néco Moeller

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03 Mar 2009
Rogério Rocca

MAIS UMA VEZ PARABÉNS PELO ARTIGO, DANILO !
O JOEL É UM SUJEITO EXATAMENTE COMO FOI TRANSCRITO. FALO ISSO E, O JOEL NÃO É MEU MARINHEIRO.
SUJEITO DETERMINADO, DISCIPLINADO, EDUCADO, FORTE, COMPETENTE !
CRÍTICA: DEVERIA CUIDAR MAIS DA SUA SAUDE !

ABRAÇO !

ROCCA
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Foto: Rogério Rocca

03 Mar 2009
Néco Moeller
Oba Danilo!
Maravilhosa a reportagem com o queridíssimo Joel!!!!
Ele merece, o cara é 10!!!!
Parabéns pela tua idéia.
Abração, Néco

05 Mar 2009
Plínio Fasolo
Caro Danilo
Excelente seu artigo sobre o “meu marinheiro” Joel.
Você nos mostrou um pouco das origens desse experiente marinheiro e descreveu com maestria suas qualidades profissionais e sua personalidade. Confirmo também as declarações dos seus amigos Marcelo, Rocca e Neco, mas aponto em Joel outras qualidades que me sensibilizam muito: desprendimento e lealdade. Joel faz o impossível para ajudar seus afetos. “Eta cara bom...”
Abraço
Plínio

30 Mar 2009
Aderbal Torres de Amorim
CARO DANILO
O JOEL "DAS ROSAS" É UM CARA DIFERENTE; NÃO HÁ COMO DEFINI-LO. ASSIM, CONTO ALGO MUITO CURIOSO QUE POUCOS SABEM DESSE SUJEITO DESTEMIDO, LEAL, COMPETENTE, AMIGO. ELE FOI A PRIMEIRA PESSOA DE QUEM OUVI FALAR DA MARÉ DO GUAÍBA. POUCOS SE DÃO CONTA, MAS O GUAÍBA TEM MARÉ, SIM SENHOR. E NADA TEM COM FASES LUNARES, OU COM VENTOS, OU COM CHUVAS, OU ALGO MAIS CONHECIDO. NADA. SEMPRE, INDEPENDENTEMENTE DE QUALQUER FATOR CONHECIDO, O GUAIBÃO SOBE O NÍVEL À TARDE E DESCE PELA MANHÃ. NO INÍCIO, NÃO QUIS ACREDITAR, MAS PASSEI A OBSERVAR O FENÔMENO NO TRAPICHE DO MOLECÃO. É BEM REAL: MESMO COM VENTO SUL, PELA MANHÃ, AS ÁGUAS BAIXAM; A DESPEITO DE VENTO NORTE, PELA TARDE, ELAS SOBEM.
O GUAÍBA TEM MARÉ, SIM SENHOR! E O JOEL FOI A PRIMEIRA PESSOA QUE A REGISTROU. AO MENOS PARA MIM.
VIDA LONGA, JOEL!
(AMORIM DO MOLECÃO)