E o sonho voltou a Noronha
Cylon Rosa Neto

Os passeios e viagens tem um plano, nós também tínhamos um para esta bela navegada.
O plano era mar calmo, meninas no convés tomando sol, “meninos” pescando e cozinhando, esperando a chegada ao paraíso. No entanto, a canção da viagem foi outra...

“ você não sabe o quanto eu enjoei, para chegar até aqui,
Percorri milhas e milhas antes de sorrir,
Eu só mareei,
As mais belas ondas naveguei,
Nas noites escuras de frio chorei, chorei....”

Pois é, o mar do nordeste parecia o da costa do Rio Grande do Sul, o vento também.
Nossa intenção era o passeio, acabou sendo uma regata mesmo, desta forma, o Sonho, diante das circunstâncias, resolveu mostrar que não era somente um veleiro de cruzeiro, sim um barco valente, capaz de fazer bonito em uma situação de mar duro.


Insólito encontro com Baily a milhas e milhas da costa, ele fotografou o Sonho encarando o marzão !

Assim, fomos então com a maior velocidade possível, sem banho de sol no convés, sem pescaria, velozes a 8-10 nós nas descidas de onda, do sábado a tarde até madrugada de segunda-feira...
Então, ao amanhecer desta segunda-feira, 27 de setembro, maravilha, um mar equilibrado, azul de furar os olhos, ordenado, mais ainda, um dia útil, e nós ali, procurando algo diferente no horizonte, ao invés de um carro, trânsito e um tumultuado caminho para o escritório como toda segunda-feira...uma suposta contravenção, totalmente sadia.


A beleza da ilha na chegada, um certo alívio...

Uma nuvem diferente, longe no horizonte a proa, me fez lembrar mais uma vez as lições do Bernard Mointessier, subi no ponto mais alto do convés, e o paraíso se descortinou, lá estava nossa meta, os contornos rochosos da ilha indescritível de Fernando de Noronha, ainda pouco mais que pontos no horizonte.
Em plena segunda-feira, dupla satisfação, a perspectiva de chegar e não de trabalhar, curtir aquela natureza insólita, aquele fundo do mar belíssimo, aquelas praias puras, a aura mágica que tem este lugar...40 horas de navegada dura, ante as 60 h tranquilas ano passado.
Èramos 9 a bordo, faltava a Cristiane, gravidíssima, impedida pelo médico, veio de avião, portanto, fomos no percurso, quatro casais e meio, Carlos e Beka (comandantes e perfeitos anfitriões), Cylon e Simone (RS), Leo e Dani(RS), Dênis e Cláudia (BA), e o nosso “meio”, o querido Clóvis (SP), “solito no más” no meio dos pombinhos, na maioria....enjoados. Nosso barco era de fato legitimamente brasileiro e totalmente federativo.
Naquele amanhecer belíssimo, começamos todos os prejudicados pelo “Sea Sick” a sair da toca, animados pela perspectiva da chegada e ao chegarmos, surpresa, poucos barcos no Porto, portanto... havíamos feito bonito na travessia.
Após a correria e providências da chegada, ancoragem, montagem dos botes, abastecimento de água, fomos até o escritório da CR e a confirmação, éramos os terceiros em nossa classe.....
Sorrisos discretos, mas no fundo uma vontade grande de celebrar bastante, então, dando vazão a este desejo...Descobrimos o novo point, o Mergulhão, sobre o porto de Santo Antônio, com suas cervejas diferentes, pratos sofisticados e exóticos, além do por do sol mais lindo que o do Guaíba. Apesar da insistência, não foi ainda desta vez que vi o green flash.


Por do sol diário e etílico no Mergulhão

Com a chegada da Cristiane fechou o grupo, nos 2 primeiros dias mar com swell, até água turva. Então o mar “deitou”, a visibilidade multiplicou e os dias ficaram curtos para tantas maravilhas que curtimos. O café da manhã com golfinhos....


Café da manhã diário com Golfinhos, privilégio único e inesquecível

.... também o dourado assado das gêmeas na cacimba do padre, os paredões do Sancho, o berçário do atalaia, a festa de entrega de prêmios, as tartarugas da baia de sueste, o ônibus divertido a “1 Noronha”, os mergulhos light de snorkel somente todos os dias e noites, a convivência feliz e fraterna, tudo de melhor que um cruzeiro a vela proporciona.


Entrega de prêmios, alegria e exemplo de integração entre diferentes culturas

Diferentemente das outras vezes que estive na ilha, com foco obsessivo em mergulho autônomo e/ou técnico somente, esta vez namorei, curti o astral do lugar que é contagiante, aproveitei e aprendi muito com meus amigos a bordo, filosofamos, alguns beberam, eu que não sou desta lida não pude aproveitar este lado especial da Ilha, a “tonturinha” de todo final de tarde...


A beleza dos costões e praias desta vez curtidos com calma e já com saudade

Compensei com um “snorkelzinho”, todas as noites antes de dormir no próprio porto, que por sinal tem um naufrágio sensacional, próximo, acessível e muito piscoso.
Também tivemos o ICMbio acompanhando diariamente com rigidez e até rispidez as tentativas discretas de todas as tripulações de se aproximarem dos golfinhos que todos os dias nos visitavam, os menos discretos ou mais ousados, foram até para delegacia...como não fomos, acho que não extrapolamos limites. Nosso guincho quebrou, assim, não navegamos na estada na ilha, faltando desta forma a pescaria, que somente pode ser a partir da profundidade de 100m.
Fica então este desejo não atendido para ser cumprido ano que vem, quando espero estejamos novamente cantando somente uma parte da canção.......aquela que diz:

........As mais belas ondas naveguei........

Até a próxima, Cylon Rosa Neto, em 10/11/2010, em viagem de trabalho, agora no transporte aéreo brasileiro que funciona quase sem caos...