24 Jun 2010

NAUFRAGIO, UM PARADIGMA VISTO POR DIFERENTES PERSPECTIVAS...
E QUE ATÉ TRAZ MUITA ALEGRIA... COMO?

Cylon Rosa Neto

Naufrágio significa por definição, afundamento, perda, tragédia e desolação....

Para um velejador, naufrágio significa o maior dos pesadelos, a perda de um ente querido e insubstituível, pois somente quem ama seu veleiro entende que este é um ser vivo, com alma e personalidade.

Para um passageiro, naufrágio significa o maior dos medos, o pavor do desamparo, do desespero e da solidão.

Para um mergulhador, naufrágio significa o maior da aventura, o limite da curiosidade, do mistério, do perigo, um atrativo simplesmente irresistível....

Assim, nesta mistura de sentimentos lúgubres e de perda, conflitantes entre si, pode um naufrágio representar alegria, oportunidade e vida?!!!

Por incrível que pareça, a resposta é ....sim!!!!!!!!

Como e por quê?

Saímos no feriado de corpus cristi para “umas feriazinhas” roubadas, como todo ano tentam realizar os Primos do mergulho com as respectivas esposas, porém desta vez ainda com uma irmã e família de cada, para uma viagem de pesquisa, descanso, mergulho e também celebração familiar.

Nós na juventude moramos toda a família no mesmo prédio, liderados pelo Vô Cylon, nossa referência maior, assim, quando ocorria qualquer problema lá, o diagnóstico era sempre o mesmo:

“ isto é coisa dos netos do Dr Cylon” – e vá palmada e castigo!!!!

...não que fosse injustiça, mas as vezes o era...Assim, pegou o estigma, não somos os primos, somos quando grupo sempre os netos ...e viva, saindo agora para uma viagem de integração, curtição, alegria e esporte. Ainda por cima, encontro com minha irmã Walkyria que reside nos USA, tornando internacional nossa parceria histórica entre os netos “do cara”.

Somos nesta viagem quatro mergulhadores e mais um quinto, uma amiga de Florianópolis, Adriana Lins, integrada ao grupo, coitada, teve de aturar inúmeras histórias, vícios, mentiras e estripulias familiares.

Como toda viagem, esta teve plenos atrativos, vinculados ao prazer de conhecer e desfrutar diferentes povos, lugares e culturas, com ápice de vivermos esta redescoberta contínua entre irmãos e primos de relação perene. Isto se consolidou alguns dias depois, quando do brinde com champagne após o mergulho com dezenas de tubarões, somado a rota para Key West com 7 malucos brincando dentro de um mesmo carro, na maior desordem infantil. Esta situação retrate talvez o que a vida nos ofereça de melhor em termos de alegria e oportunidade, somente superada quando assim vivida na presença dos filhos. Nesta, filha somente a do Neizinho, minha sobrinha neta, uma graça de garota americana e brasileira, bilíngue já aos dois anos.


Alegria infantil a bordo do carro que comportava a todos

 


Reunião de família longe de casa

Viagem espetacular, para Bahamas e USA, na busca dos sonhados naufrágios narrados em publicações e filmes, mais uma etapa da nossa história familiar, em situação e oportunidade únicas, com sentimentos de expectativa e certa ansiedade...

Nossos destinos programados foram os naufrágios e tubarões nas Bahamas, depois a segunda maior estrela dos Wreck Ships programados, o USS Vanderberg, em Key West. Ainda me belisco para acreditar que efetivamos aquilo que a totalidade das publicações internacionais destaca como o topo no âmbito do mergulho recreativo.

 


Os cinco da turma do mergulho na cabine principal do BBC, nas Bahamas

Tivemos nas Bahamas o deleite de mergulharmos literalmente nos cenários de guri dos filmes do Flipper e Mike Nelson, além dos recentes sucessos de Mergulho Radical e do agente 007, com a operadora Stuart Cove´s cheia de fotos da “feiosa” Jessica Alba.... É muito legal a noção de preservação da história que eles têm, pois esta operadora é no local exato de todos estes filmes, e lá estão mantidas as casas e cais daqueles dois meninos sardentos que tinham um golfinho como parceiro de aventuras, juntamente com outro ícone dos anos 70, o Mike Nelson.


Nós e os tubarões no Shark Arena

 


Eu a Simone no Shark Arena

Mas, onde entram a alegria, a inteligência e a vida neste processo, ao invés da desolação e pesadelo de qualquer naufrágio? Simplesmente porque nas Bahamas além de um paraíso para o cruzeiro a vela, turismo, pesca e mergulho, lá implementaram uma política sistêmica de programar naufrágios, no intuito de os tornar um atrativo via criação de recifes artificiais, assim, tornando um suposto e inútil ferro velho flutuante, um ponto de mergulho qualificado e requisitado, povoado por toda cadeia de espécies do recife e pelágicas, que vão da lagosta e esponjas, ao tubarão de maior porte...só não tivemos a sorte de encontrar a Jessica...

Estes naufrágios, após alguns anos no fundo, tornam-se tão misteriosos, perigosos e interessantes quanto os acidentes reais, excetuando-se por óbvio aqueles que trouxeram riqueza e fortuna, como os descobertos por Mel Fischer na Flórida após incansáveis anos de pesquisa. Nestes, estivemos presentes no museu em Key West, onde admiramos tesouros recuperados das tragédias do século XVII, lá recuperados, expostos e preservados, além do museu do Hemingway.

Aliás, as Bahamas, além do paraíso para cruzeiro a vela com 700 ilhas, somente 35 habitadas, é um país de leis inglesas, modo de vida americano e astral jamaicano, eu, pessoalmente, me encantei com o lugar. Existe turismo inteligente para quem quer somente descansar, ou velejar, ou mergulhar, pescar, etc.

Assim, fizemos um conjunto de mergulhos contínuos em diferentes naufrágios em Nassau, desfrutamos da presença de dezenas de tubarões que infelizmente o cinema sensacionalista demonizou, e, para encerrar a festa, além da sobrinha americana, tivemos o mergulho no USS Vanderberg, com seus quase 300m de comprimento, 30 m de profundidade no convés, enormes espaços de penetração, onde nossa atração curiosa pelo perigo e pelo desconhecido é testada ao extremo, sendo muito fácil extrapolarmos os parâmetros de segurança do mergulho recreativo. Parar na escuridão daqueles espaços submersos imensos, com enormes barracudas e tarpões, é uma experiência sem possibilidade de narrar, se têm de vivê-la.


Naufrágios criam vida em ambientes arenosos e antes pobres em diversidade


Naufrágios intactos em cenários cinematográficos

Mantivemos o controle e não extrapolamos por muito pouco estes parâmetros pelo total entusiasmo, especialmente aprendemos como se pode fazer turismo sustentável a partir de inteligência e iniciativa, com materiais obsoletos transformando-se em vida, prazer, juventude e oportunidade.


As gigantescas antenas rastreadoras de satélites e mísseis do USS Vanderberg

Espero que o Brasil possa instituir este tipo de solução, trazendo para ambientes marinhos estéreis, um elevado índice de ocupação de toda cadeia alimentar costeira e pelágica, atraída pela inserção de um recife artificial que após curto período de maturação, é “adotado” pela paisagem, pelos corais, pelos crustáceos, pelos peixes e... por nós.

Desta forma, tornamos realidade planos antes pensados como inatingíveis, mas que com vontade, esforço e propósito conseguimos realizar. Meu desejo é que tenhamos crescimento como nação para que nossa economia permita sustentar um projeto de País que torne nossa população mais culta e consequentemente capaz economicamente, ampliando estas oportunidades de turismo a maioria, porque o ato de viajar é uma fonte de prazer, conhecimento, cultura, aprendizado e amadurecimento.

Agora, é trabalharmos, produzirmos e pouparmos muito.... para tentar fazer a próxima....

Cylon Rosa Neto, Curitiba, em 18 de junho de 2010, divagando sobre o sentido da vida em mais uma espera de longas horas tornada produtiva em aeroporto...



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